Tragédia aérea abala o mundo todo #forçachape

Milhares de pessoas prestam homenagem ao time da Chapecoense

Primeiras conclusões sobre o acidente apontam para falta de combustível da aeronave da Lamia FuerzaAereaColombiana
Primeiras conclusões sobre o acidente apontam para falta de combustível da aeronave da Lamia
FuerzaAereaColombiana

O Brasil e o mundo parou na terça-feira (29) ao receber a notícia de uma das maiores tragédias da história dos desastres aéreos envolvendo times de futebol. Foram 71 mortos, sendo 19 jogadores do time da Chepecoense (SC), comissão técnica, dirigentes, entre outras vítimas, em Medellín, na Colômbia. Seis pessoas sobreviveram e foram levadas a três hospitais. Entre os sobreviventes estão o goleiro Jackson Follmann, que teve uma das pernas amputadas, o lateral-direito Alan Ruschel (lesão na coluna) e o zagueiro Neto (hematoma craniano, no abdômen e tórax). Também estavam a bordo 21 profissionais de imprensa. Apenas Rafael Henzel, narrador da rádio Oeste Capital, de Chapecó (SC), foi resgatado com vida. Dentre os tripulantes, dois saíram com vida, Erwin Tumiri e Ximena Suárez.
A delegação do clube estava a bordo do avião para a disputa do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional.
O informe da Aeronáutica Civil (Aerocivil), órgão que cuida do funcionamento da aviação na Colômbia, disse que a aeronave caiu aproximadamente às 22h30 desta segunda-feira (28) (1h30 de terça no horário de Brasília) a 30 quilômetros de distância do aeroporto. O avião vinha de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e pertencia à empresa LaMia, cuja matrícula é LMI2933 RJ80.
Na tarde de terça-feira (29) foram encontradas as caixas-pretas do avião, equipamentos fundamentais para a investigação por conter as gravações dos diálogos entre piloto e torre de controle minutos antes da tragédia. “Podemos afirmar claramente que a aeronave não tinha combustível no momento do impacto”, disse Fred-
dy Bonilla, secretário de Segurança Aérea da Colômbia, sobre os primeiros resultados preliminares da investigação.
A tripulação pediu prioridade para pousar em razão da falta de combustível à 0h48 (horário de Brasília). Quatro minutos depois, à 0h52, declarou emergência. Os destroços foram encontrados a 17 km do aeroporto José María Córdova.
Em entrevista a um jornal boliviano, o tripulante Erwin Tumiri, um dos sobreviventes da tragédia, revelou que escapou da morte ao seguir um protocolo de segurança recomendado para acidentes aéreos. Ele permaneceu em posição fetal com uma mala entre as pernas, o que amenizou o impacto da queda. Segundo o profissional, com o pânico, muitos levantaram dos seus assentos e começaram a gritar.
Neto, um dos jogadores resgados com vida, passou por uma cirurgia bem-sucedida com drenos no tórax. Contudo, o atleta ainda terá que fazer cirurgias no joelho, mão, nariz e crânio, todas de reparação, segundo o chefe dos médicos. O goleiro Jackson Follmann teve de amputar a perna direita do joelho para baixo e também deve se submeter a uma nova cirurgia em seus membros inferiores. Já o lateral Alan Ruschel, primeiro a ser resgatado, passou por uma cirurgia na coluna. Sua situação é estável no momento. O narrador Rafael Henzel está sedado e entubado, desde que foi internado.
Segundo informações, os familiares dos jogadores mortos serão indenizados pela CBF e pela própria Chapecoense. Ambas também bancarão as despesas dos funerais.

comoção
A tragédia comoveu todas as redes sociais. Em um luto coletivo, no Twitter, por volta das 12h da terça-feira (29), a hashtag mais compartilhada no mundo era #ForçaChape.
A diretoria do Atlético Nacional de Medellín, adversário da Chapecoense na final da Copa Sul-Americana, sugeriu à Conmebol que declarasse a equipe catarinense campeã da competição continental. “Além de estarmos muito preocupados pela parte humana, pensamos no aspecto competitivo e queremos publicar esse comunicado no qual o Atlético Nacional convida a Conmebol a entregar o título da Copa Sul-Americana à Associação Chapecoense de Futebol por sua grande perda e em homenagem póstuma às vítimas fatais do acidente”, diz a nota oficial.
No horário marcado para o jogo contra a Chapecoense, pela primeira partida da final da Copa Sul-Americana, o Atlético Nacional preparou uma homenagem. Vestidos de branco e segurando velas e celulares, cerca de 52 mil torcedores do clube colombiano lotaram o estádio Atanasio Girardot para lembrar os envolvidos. No fim, flores foram jogadas no gramado pelos torcedores.
Como forma de solidariedade, clubes brasileiros lançaram um pacote de medidas ao time da Chape. Modesto Roma Júnior, presidente do Santos, afirmou que o clube vai pagar integralmente os salários de jogadores que eventualmente emprestar à Chapecoense como parte de uma ação coletiva de agremiações brasileiras para ajudar a equipe catarinense a se recuperar do desastre aéreo.
Durante sua participação no Programa Encontro com Fátima Bernardes, o narrador Galvão Bueno desabafou com lágrimas nos olhos: “esse é o pior momento que eu vivo em 42 anos de carreira”. Galvão afirmou não ter mais vontade de narrar futebol neste ano.

time
O clube foi fundado em 1973. Em apenas sete anos, a Associação Chapecoense de Futebol saiu do anonimato para se tornar uma das maiores sensação do futebol brasileiro.
Em 2016, a Chapecoense conseguiu classificação inédita para a final da Sul-Americana. Disputaria a decisão na quarta-feira (30). No Campeonato Brasileiro, ocupa a nona posição.
Ao saber da tragédia, centenas de torcedores permanecem em vigília na Arena Condá.

NOTA anj
Em nota, Marcelo Rech vice-presidente Editorial do Grupo RBS, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e presidente do Fórum Mundial de Editores, afirmou: “embora a morte seja um fato presente no nosso cotidiano, nunca estamos preparados para lidar profissionalmente com a tragédia quando ela, sorrateira e repentinamente, nos atinge em cheio. Seja porque estamos em constante movimento, porque testemunhamos tiroteios, brigas e manifestações violentas ou porque, às vezes, somos os únicos a querer entrar em lugares de onde todos querem sair, profissionais da comunicação sentem com frequência a mesma dor das pessoas que protagonizam coberturas trágicas.
Além da sombra dos acidentes e dos conflitos, jornalistas são alvos com triste regularidade de agressões por quem quer calar a verdade e a liberdade de expressão. Mesmo assim, o risco de morte é raramente comentado entre nós. Trata-se de uma espécie de superstição: imaginamos que, quanto menos falarmos dela, mais distante ela deverá se manter.
Infelizmente, nada mais falso nesse episódio. A morte de 20 profissionais em um acidente é uma das maiores tragédias que já atingiu a imprensa mundial na história recente. Em todas as latitudes e longitudes, o mundo do jornalismo está abalado e consternado como raramente se viu antes.
Os 20 profissionais da comunicação que estavam no voo charter haviam sido escolhidos a dedo para a missão. Participar da cobertura de uma final internacional é uma pauta reservada a poucos – uma espécie de condecoração jornalística ansiada por todos que atuam na imprensa esportiva. Os colegas que morreram na Colômbia, entre os quais cinco queridos companheiros da RBS, eram exemplos dessa estirpe – combinavam seu talento com um dos momentos mais gloriosos do futebol catarinense e a paixão de informar.
Em nenhuma atividade há morte nobre – só há mortes e dramas pessoais e familiares a se lamentar e se solidarizar. Mas as duas dezenas de profissionais que perderam a vida nas montanhas colombianas deixam a suas famílias, amigos e colegas a eterna admiração e respeito por quem, como eles, não mediam esforços por levar informação ao público. Essa sim é uma missão nobre e fundamental para a sociedade e, por isso, os colegas mortos permanecerão para sempre como uma luz a inspirar a profissão e as próximas gerações de jornalistas”.