BELÉM – Para degustar e instigar o paladar

Festival propõe imersão nos sabores locais

Cidade traz uma culinária com ingredientes únicos que se combinam graças às mãos habilidosas de grandes chefs de cozinha
Cidade traz uma culinária com ingredientes únicos que se combinam graças às mãos habilidosas de grandes chefs de cozinha

Jambu, tucupi, maniçoba. Tucunaré, pirarucu, filhote. Açaí e cupuaçu, talvez; e taperebá? Se você conhece todas as palavras (e sabores) citadas acima, provavelmente já esteve em Belém. Com ingredientes únicos, que se combinam graças às mãos habilidosas de chefs reconhecidos, como Thiago Castanho, do premiado Remanso do Bosque, a capital paraense vem se firmando como um destino gastronômico por excelência.
A principal dica para quem vai debutar na cidade é: não tenha medo de provar. As misturas não são uma unanimidade – o jambu adormece a boca e pode causar estranheza no começo, mas como imaginar um belo tacacá sem a folha típica da Amazônia? Chocolate e cupuaçu parecem feitos um para o outro e o suco de taperebá (cajá) é viciante.

DIVERSIDADE
Carmelita dos Passos Rocha, 45 anos de Ver-o-Peso, é uma enciclopédia das frutas paraenses. “Jambo-rosa, camu-camu, bacuri, uxi, ingá-chinela”, dispara, enquanto mostra uma a uma. Nem todas as barracas do histórico mercado, fundado no século 17 na Baía do Guajará, exibe tamanha variedade.
Variedade essa que resume o tom do Ver-o-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina, onde mais de três mil pessoas trabalham diariamente. São muitos mercados em um só, que vende peixes, carnes, garrafadas, ervas para temperar e para feitiços, farinhas dos mais diversos tipos, grãos, castanhas e até tucupi (líquido extraído da raiz da mandioca brava e usado em muitos pratos da cozinha local). Sem falar das boieiras, que vendem ‘a boia’ – o almoço. Peixe frito com açaí faz sucesso ali.
Tal variedade atrai também os chefs de Belém, que têm suas barracas favoritas. “Adoro vir aqui. Antes as pessoas não gostavam de ir ao mercado, mas não há lugar melhor para encontrar produtos frescos”, diz Daniela Martins, que comanda o restaurante Lá em Casa, especializado em pratos regionais. É ali que ela escolhe os peixes, os temperos e as frutas que vai servir aos clientes mais tarde, logo ao lado, na Estação das Docas.
Além das frutas de Carmelita, outra parada fundamental é na barraca de Beth Cheirosinha, cujas garrafas guardam misturas para todos os males, sejam eles de saúde, dinheiro ou amor. Produzida e desinibida, ela mostra com orgulho as fotos com as celebridades que já passaram por sua barraca.

ESTAÇÃO DAS DOCAS
Bem ao lado do Ver-o-Peso, a Estação das Docas deu novo fôlego à região no ano 2000. Depois de restaurados, os galpões do século 19 se transformaram em um polo turístico de 32 mil metros quadrados. Ao todo, são três armazéns, por onde se espalham restaurantes, lojas e um burburinho ao entardecer. Diariamente, há apresentações musicais nos palcos deslizantes – antigos transportadores de carga, que ficam suspensos sobre o público. Para ver a programação: estacaodasdocas.com.br.
Dá para sentar no restaurante Lá em Casa, observando a Baía de Guajará, saboreando delícias como filhote (peixe) com arroz de jambu ou pirarucu com redução de tucupi (pratos a partir de R$ 50); provar a cerveja artesanal Amazon Beer (são sete tipos de chope, com ingredientes regionais); levar para casa lembrancinhas, como os chocolates recheados de castanha-do-pará e cupuaçu (dos deuses); e se jogar nos sabores regionais da tradicional sorveteria Cairu (há ainda outras nove unidades). Entre as 60 variedades, tapioca, açaí, carimbó, taperebá e o onipresente cupuaçu. A bola, bem servida, custa R$ 4.

FESTIVAL
Realizado sempre em maio, o Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense foi idealizado pelo chef Paulo Martins, um conhecido valorizador dos ingredientes da Amazônia, que comandava o restaurante Lá em Casa. Depois de sua morte, em 2010, sua mulher e as filhas deram continuação ao seu trabalho, cuidando não apenas dos sabores do restaurante fundado em 1972, mas também de projetos paralelos. O principal deles é justamente o festival (hoje realizado pelo Instituto Paulo Martins), cujo objetivo é colocar chefs de todo o país em contato com a culinária local.
No ano passado, Alex Atala (D.O.M) e Henrique Fogaça (Sal Gastronomia e jurado do Masterchef Brasil) compuseram o time de convidados. Na programação, há palestras e jantares especiais – a festa termina com o Chefs na Praça, com petiscos gourmet a preços acessíveis. Em 2015, o evento ocorre de 27 a 31 de maio. Acompanhe: veropesodacozinhaparaense.com.br.