Vale a pena apostar na tendência para perder peso?

Em evidência, método polêmico tem conquistado cada vez mais adeptos

texto: Agência Carti | Fonte: Nature Center | foto: divulgação
texto: Agência Carti | Fonte: Nature Center | foto: divulgação

Com o ritmo de vida moderno, manter a forma parece um desafio cada vez maior. A falta de tempo para cuidar da alimentação ou praticar exercícios faz com que, dia após dia, mais e mais pessoas encarem a luta contra a balança. Não é à toa que de tempos em tempos, novas dietas surgem, prometendo auxiliar na conquista da tão sonhada boa forma. Neste âmbito, um novo método tem despertado a atenção daqueles que buscam uma silhueta enxuta: o polêmico jejum intermitente. A famigerada técnica contraria o que preconiza a maioria das dietas, pois consiste em não ingerir nenhum tipo de alimento por longos períodos e, dessa forma, mobilizar os estoques de gordura. Com cada vez mais adeptos, a fama do método tem crescido consideravelmente, porém, tamanha popularidade é justificável? O jejum funciona para quem deseja emagrecer ou é uma aposta arriscada?
Ao contrário do que muitos pensam o jejum intermitente não é algo novo e muito menos uma dieta: uma das premissas do método é justamente não se alimentar por períodos maiores do que os habituais. Partindo desse princípio, é possível afirmar que não existe ‘dieta do jejum intermitente’, pois a prática é, na verdade, uma alteração no padrão alimentar. Da mesma forma, o jejum não é a última novidade do momento. Sua origem é, na realidade, tão antiga quanto a própria humanidade: antes de dominar a agricultura, o homem ficava longos períodos sem comer, pois para tal ele precisava caçar e, portanto, não tinha alimento disponível a qualquer momento.
Por outro lado, sua associação ao emagrecimento é algo relativamente novo, pois, além do interesse pela perda de peso ser um assunto em voga atualmente, a cada dia surgem novos relatos, inclusive de celebridades, que alegam ter conseguido bons resultados com o método. Porém, de acordo com a nutricionista Sinara Menezes, é preciso cautela com este apelo, pois quando se trata de emagrecer, não existe fórmula milagrosa, “é preciso ter cuidado com o radicalismo, pois mudar profundamente os hábitos alimentares sem orientação médica, além de colocar a saúde em risco, propicia o efeito sanfona. Antes de tudo é preciso conhecer tal prática e avaliar, com devida orientação profissional, se é o mais adequado para sua rotina”.
Atualmente, a maioria das dietas tem como base uma alimentação regular, sendo, inclusive, uma das premissas para o emagrecimento. O conceito de que comer de 3 em 3 horas é fundamental para manter o organismo sempre saciado e evitar compulsões é algo amplamente difundido e aceito como verdade. Porém, na contramão desse conceito, o jejum intermitente preconiza a restrição alimentar por algumas horas, o que seria capaz de melhorar o controle da insulina, um dos principais hormônios ligados ao ganho de peso.
Para entender melhor, é preciso compreender como engordamos: quando comemos, os alimentos são metabolizamos e disponibilizados como glicose (açúcar) no sangue. Aí entra a insulina: um hormônio produzido pelo pâncreas, responsável por carregar o açúcar para dentro das células que, por sua vez, aproveitam a glicose como energia. Acontece que nem sempre a insulina é capaz de captar toda a glicose circulante, sendo que o que não é captado pelas células é armazenado como reserva energética, principalmente na forma de gordura. De acordo com a profissional da Nature Center isso pode acontecer “tanto por uma alimentação desequilibrada, rica em carboidratos (que elevam significativamente a glicemia), quanto por disfunções metabólicas, que tornam a ação da insulina menos eficiente ou geram uma resistência no organismo quanto à presença do hormônio”.
É possível afirmar, portanto, que episódios de hiperglicemia propiciam o acúmulo de gorduras, e é justamente isso que o jejum intermitente evita. A justificativa do método é que, com a constante oferta de glicose no sangue, o organismo não utilizaria as reservas, pelo contrário, apenas as aumentaria. A privação de alimentos por determinadas horas contribuiria para baixar e manter a glicemia sob controle, bem como mobilizar a reserva energética, ou seja, utilizar a gordura armazenada no tecido adiposo. Adeptos afirmam que a técnica serviria até mesmo para melhorar a sensibilidade à ação da insulina, melhorando a capacidade do organismo em utilizar a glicose como energia imediata.
A forma como o jejum é ‘aplicado’ é determinado pelos ‘protocolos’, os quais estabelecem quanto tempo a pessoa deve ficar sem se alimentar. Um detalhe interessante é que as horas de sono já contam como jejum. Os protocolos mais comuns são os seguintes:
12 horas: o indivíduo fica por 12 horas sem se alimentar e nas 12 horas seguintes do dia pode se alimentar normalmente.
16/8 horas: consiste em ficar por 16 horas sem se alimentar, com uma ‘janela’ de 8 horas para fazer as refeições diárias;
24 horas: a pessoa faz apenas uma refeição no dia, sendo que a próxima ocorreria apenas no mesmo horário do dia seguinte.
Ao contrário do que muitos pensam, a técnica não é um passe livre para comer em dobro ou compensar abusos ocasionais. Sendo assim, a pessoa que praticar qualquer um dos protocolos não pode simplesmente devorar uma pizza inteira ou um fast food na ‘quebra’ do jejum. A técnica aliada ao emagrecimento consiste na aposta em alimentos altamente nutritivos, porém com baixo índice glicêmico, ou seja, com menor efeito sob a glicemia. A base da dieta consiste no consumo de proteínas de alto valor biológico, como carnes, ovos e leites – capazes de aumentar a saciedade e evitar a fome durante o jejum – e em carboidratos considerados ‘leves’ como legumes e vegetais, carboidratos refinados (pãozinho, massas, tubérculos ricos em amido e similares) são restritos, pois podem causar picos de glicose e por todo esforço a perder.
Os alimentos ‘permitidos’ após o jejum podem variar de acordo com o objetivo e as necessidades nutricionais do indivíduo. Em alguns casos, gorduras saudáveis são bem-vindas para melhorar o controle do apetite e, até mesmo, acelerar a queima de gorduras, porém, sempre focando na qualidade (abacate, oleaginosas, azeite extra virgem e gorduras animais). Todas as orientações podem variar de acordo com o perfil do indivíduo, por isso é essencial procurar um nutricionista.
Durante o jejum não é permitido comer nenhum alimento, pois a ingestão de quaisquer calorias já caracteriza a quebra da abstinência e a alteração da glicemia. Porém, para ajudar a adaptar o organismo e, até mesmo, controlar a fome, é permitido beber apenas café e chá sem açúcar ou adoçante. Beber água é mais do que permitido, é fundamental. Curiosamente, o centro regulador do apetite, o hipotálamo, não distingue com exatidão o que é fome e o que é sede, portanto, manter-se hidratado, além de essencial, pode ajudar na saciedade. Uma dica para aqueles que não conseguem beber muita água é investir nos chás, que ainda podem turbinar o metabolismo. Algumas bebidas possuem o efeito termogênico, capaz de beneficiar a queima calórica. Além disso, a cafeína presente em determinados chás ajuda a melhorar o estado de atenção e a concentração para as atividades físicas. Bons exemplos são o chá verde e o chá de hibisco.” – explica Sinara.