Uma imersão espiritual ROTEIRO DA FÉ

Aparecida, Fátima e Nova Jerusalém celebram datas históricas

texto: Assessoria de Imprensa/renault | foto: divulgação/renault
texto: Assessoria de Imprensa/renault | foto: divulgação/renault

Meu olhar perdia-se em cada pessoa sentada em silêncio ao meu redor. Seus pensamentos, seus pedidos e agradecimentos, suas razões para caminhar em romaria escapavam à minha tão constante materialidade e fé na vida. Mas ali, dentro daquela imensidão da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, a verdade é que as ânsias e desejos de seus visitantes pareciam mesmo circular invisíveis e encontrar, de alguma forma, acalento
A imersão espiritual a que convida o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o maior do mundo dedicado a uma das imagens da Virgem Maria, ganha ainda mais força este ano, durante as celebrações de 300 anos da estátua da santa ter sido encontrada nas águas do Rio Paraíba, considerado um milagre para seus devotos e um sinal de Deus à Igreja. Por isso, a festa da Padroeira do Brasil, celebrada todo 12 de outubro, será ainda maior, com duração de três dias e inauguração de novos espaços ao público.
Enquanto isso, do outro lado do oceano, celebra-se o centenário das aparições de outra imagem de Maria, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, cujo santuário fica na cidade de Fátima, em Portugal. Lá, o ápice das festividades ocorre em 13 de maio, quando seu convidado mais ilustre, o Papa Francisco, comandará a missa e a peregrinação.
Para fechar o ano de efemérides cristãs ou que nos remetem a elas, 2017 também é especial para a Paixão de Cristo, o espetáculo teatral pernambucano que completa 50 anos contando a (mesma) história dos últimos dias de Jesus a milhares de pessoas, sem perder a atratividade e visibilidade nacional.

APARECIDA
Há muitas maneiras de expressar a fé no Santuário de Aparecida. Visitar a basílica é apenas a mais tradicional delas. A cidade é quase um ‘parque temático’ da devoção, com atrações como museus, cinema 3D, bondinho e, claro, muita história. A infraestrutura também surpreende, com uma rede hoteleira que soma 33 mil leitos – quase a população da cidade.
Os 300 anos da imagem, encontrada por três pescadores nas águas do Rio Paraíba do Sul, serão celebrados com uma programação especial, que ainda não foi totalmente definida. No entanto, uma das mais aguardadas promessas é a abertura da cúpula da basílica, no dia 11 de outubro. Coberta durante nossa passagem pelo santuário, nela estará representada a árvore da vida, compondo com o resto do altar, todo azulejado, uma obra de arte. Outra promessa é a retirada temporária da imagem original de Nossa Senhora de seu nicho, onde fica seguramente exposta, para ser levada ao altar.
A Basílica de Aparecida pode ser visitada o ano todo. Todo desenhado em ondas de três cores (uma alusão ao movimento do Rio Paraíba), o chão dos corredores externos à basílica, construída entre 1955 e 1980, já indica o mundo de representações que é o Santuário. Seguindo por ele, um círculo cheio de peixes de repente está abaixo de seus pés. À frente, uma das 21 portas que dão acesso à igreja principal construídas no formato de mão – os dedos são os cinco vitrais acima de cada uma delas.
Não importa para qual direção se olhe, nem por qual dos quatro lados se escolha adentrar a catedral erguida em formato de cruz, de estilo neo-românico e feita para comportar cerca de 35 mil pessoas. Há sempre algum detalhe para ser notado – especialmente quando se está acompanhado de um guia como Zenilda, que há 10 anos faz o tour que ela chama de ‘pequena peregrinação’, exclusivo a hóspedes do Hotel Rainha do Brasil.
Das laterais, por exemplo, você não enxergará a cruz vazada no centro. Das alas norte e sul, será impossível ver um curioso ponto de luz que parece emanar da imagem da Virgem Maria desenhada bem acima da porta principal, em direção ao altar. Esse clima se repete ao redor e dentro do santuário, onde estão mais cinco capelas, entre elas a das Velas, uma das três áreas mais visitadas no santuário, ao lado da Sala de Promessas, onde são deixados entre 19 e 25 mil objetos por mês pelos devotos.
História e diversão se misturam no Memorial da Devoção, com uma proposta mais contemporânea. Ali ficam o Museu de Cera, que retrata personalidades como o papa João Paulo II e o astronauta Marcos Pontes, e o Cine Padroeira.
No Cine Padroeira, o show dura 15 minutos. Em uma sala temática – as paredes são decoradas com árvores, os bancos simulam troncos e a música é Romaria –, conta-se a trajetória dos 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, do surgimento da imagem nas águas do Paraíba do Sul, passando por milagres e sua proclamação como ‘Rainha e Padroeira do Brasil’, em 1930, durante o governo Getúlio Vargas.
Embarcar no bondinho aéreo em direção ao Morro do Cruzeiro também é uma maneira de peregrinar e ter uma bela vista da cidade.
Ainda fora do Santuário Nacional, mas parte essencial de sua existência, está o Porto de Itaguassu, onde, diz a história, a imagem de Nossa Senhora teria sido encontrada. Barqueiros fazem o passeio pelo Rio Paraíba até o porto.
NÃO PERCA:
1. Imagem original – Conta-se que o pescador João Alves jogou a rede três vezes no rio: da primeira, veio a imagem de terracota; na segunda, a cabeça da santa; e, na terceira, muitos peixes. A Princesa Isabel virou devota e, em 1888, deu à santa uma coroa de ouro, cravejada de diamantes e rubis, que está ali até hoje. A imagem fica no piso térreo da Basílica.
2. Museu de Cera – Guarda estátuas de devotos do passado (como Getúlio Vargas), do presente (Ronaldo) e celebridades religiosas, como Madre Teresa de Calcutá, os papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Até 31 de julho, a exposição Didi, o Devoto Trapalhão homenageia Renato Aragão, última estátua inaugurada no museu.
3. Basílica Velha – Dá para chegar à igreja erguida entre 1745 e 1888 pela Passarela da Fé ou de bondinho. Em estilo barroco, a igreja ainda recebe missas.
4. Centro de Apoio ao Romeiro – O Centro de Apoio ao Romeiro tem uma praça de alimentação com 380 lojas, presentes religiosos, caixas eletrônicos, parque de diversões e um aquário, além de pontos de informação.

Fátima, em Portugal, atrai a atenção de peregrinos há exatos cem anos
Fátima, em Portugal, atrai a atenção de peregrinos há exatos cem anos

FÁTIMA
Nome de uma das mais tradicionais cidades portuguesas, a pouco menos de duas horas de Lisboa, e de uma das imagens da Virgem Maria dentro da fé cristã, Fátima atrai a atenção de peregrinos há exatos cem anos – e, há muito mais tempo, de interessados em percorrer a história de Portugal nas calçadas e ruas estreitinhas de seus mais encantadores lugares.
A história de Fátima (e de seu nome) começa com uma lenda anterior à centenária que a tornou famosa. Domínio árabe durante a guerra de reconquista cristã, o território ao norte de Portugal teria se configurado como tal a partir da união da princesa mourisca Fátima com o cavaleiro templário Gonçalo Hermingues. Ela teria se convertido ao cristianismo e mudado seu nome para Oureana, motivo pelo qual a freguesia acabou sendo batizada com o nome católico, enquanto o município ficou com o mouro.
Tanto quanto Aparecida, Fátima foi ganhando força turística desde que, em 1917, três crianças pastoras – os irmãos Francisco e Jacinta e a prima deles, Lúcia – relataram ter visto a santa ao longo de cinco meses. A narrativa ultrapassou os limites do povoado de Aljustrel, onde moravam os três, conquistou devotos de todos os cantos e, em 2017, coloca Fátima no centro do turismo português com as comemorações do centenário das aparições.
Iniciadas em 2010, as celebrações atingem seu ápice em 13 de maio, data da primeira aparição – e quando o Papa Francisco estará no local para rezar uma missa. Os eventos, que incluem performances, conferências, orações e apresentações musicais, vão até 27 de novembro. Tudo será transmitido no site oficial do santuário, onde é possível conferir a programação: fatima.pt/pt.
A primeira igreja erguida em homenagem à Nossa Senhora foi a Capelinha das Aparições, em 1919. Ali seria o ponto exato onde a santa teria pedido para que os devotos construíssem um templo em sua homenagem. Além da Capelinha das Aparições, o santuário é composto por outras partes, como as basílicas do Santíssimo, com as estátuas dos papas João Paulo II e Paulo VI, e a de Fátima, o local mais visitado de todo o santuário.
Projetada pelos arquitetos Gerardus Samuel van Krieken e João Antunes, a basílica, inaugurada em 1953, foi construída com a pedra calcária da região, branco do mar. Na parte externa, a torre expõe 62 sinos; na interna, a capela-mor conta com 14 altares laterais, vitrais que exibem a ladainha de Nossa Senhora de Fátima e um mosaico da Via-Sacra. Na basílica também estão depositados os restos mortais dos três pastores – Lúcia morreu em 2005, aos 97 anos, e Francisco e Jacinta pouco depois das aparições, em 1919 e 1920, respectivamente.
Entre as duas basílicas, o Recinto da Oração é um espaço aberto de 30 mil metros quadrados, com capacidade para 330 mil pessoas, que deverá ser totalmente ocupado nos próximos dias 13 de cada mês, durante as celebrações do jubileu.
Como antigamente. Além da basílica, vale visitar a Vila de Aljustrel, onde estão as casas em que viviam as crianças na época das aparições. O dia a dia do início do século 20 pode ser sentido dentro da Casa-Museu de Aljustrel, que pertenceu à madrinha de Lúcia. Dividida em ciclos temáticos (das profissões, do pão, do traje e da casa), a coleção é quase uma viagem no tempo.
Também é possível visitar a casa dos irmãos Francisco e Jacinta, que foi reconstruída. Lúcia, que se tornou freira carmelita, doou sua casa ao santuário em 1981 – hoje, o local serve como posto de informações.

NÃO PERCA:
1. Capelinha das Aparições – Construída em 1919, no local onde teriam ocorrido cinco das seis aparições de Nossa Senhora às crianças Jacinta, Francisco e Lúcia. O local é aberto ao público e tem uma imagem da santa de 1920.
2. Caminho dos Pastorinhos – A Via-Sacra tem 14 estações e 2 km, ligando o Santuário à Vila de Aljustrel, onde viviam as crianças. Veja também o calvário húngaro, presente dos católicos da Hungria ao santuário.
3. Museu do Santuário – A mostra permanente Fátima Luz e Paz traz variadas ofertas de devotos e preciosidades como a coroa de Nossa Senhora de Fátima cravada com a bala do atentado sofrido pelo papa João Paulo II em 1981.

Local onde a Paixão de Cristo é encenada está aberto o ano todo
Local onde a Paixão de Cristo é encenada está aberto o ano todo

NOVA JERUSALÉM
É no meio do sertão semiárido que um Jesus ocidentalizado caminha pelo Palácio de Herodes, rei de Israel, ao lado de seus sacerdotes. Sob um clima de tensão, recusa-se a irromper um milagre conforme o pedido do rei, que, irritado com a desobediência, manda o profeta de volta a Pôncio Pilatos, procurador de Roma. Nesse momento, o público se levanta e segue até o quinto dos nove palcos onde é encenada a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. É a hora do tão aguardado julgamento do protagonista, cujo final já é, sem dúvida, o maior spoiler de que se tem notícia.
Há 50 anos, essa mesma história, fruto de um conjunto de escritos bíblicos conhecidos como Novo Testamento, é contada sobre os palcos do Teatro Nova Jerusalém, na peculiar cidade de Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco. A cada edição, são cerca de 70 mil espectadores ao longo da curtíssima temporada – este ano, de 8 a 15 de abril.
“O que comemora 50 anos no Brasil?”, questiona, com orgulho, Robinson Pacheco, coordenador geral da Paixão de Cristo e presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova. Apesar da temática, Robinson afirma que não se trata de um espetáculo religioso. “É um evento teatral, de cultura”, diz.
Como tal, patrocínios – entre eles o da TV Globo, que transmite o espetáculo no Sábado de Aleluia –, nomes conhecidos no elenco, efeitos especiais, mudanças de figurinos e cenários e investimento em novas mídias estão na conta do sucesso.
Seguindo uma constante, os principais personagens continuam sendo interpretados por rostos midiáticos. Este ano, Rômulo Neto será Jesus; Letícia Birkheuer, Maria; Adriana Biroli viverá Maria Madalena; Joaquim Lopes, Pilatos; Raphael Viana faz o vilão Herodes; Aline Riscado, Herodiades; e Jesus Luz, o apóstolo João.
À frente da empresa que, sem fins lucrativos, monta o espetáculo móvel em nove palcos diferentes, espalhados pelos nada modestos 100 mil metros quadrados de área do Teatro Nova Jerusalém, o maior ao ar livre do mundo, Robinson Pacheco ajuda a coordenar uma equipe de 50 atores, 400 figurantes e centenas de outros profissionais responsáveis por contar, por 2h30, os últimos dias na vida de Jesus Cristo.
Antes de tomar as atuais dimensões, a Paixão de Cristo era encenada nas ruas de terra da vila de Fazenda Nova, em Brejo da Madre de Deus, sob o nome de Drama do Calvário. Epaminondas e Sebastiana Mendonça, avós de Robinson Pacheco, foram os mentores da peça. “Minha avó gostava muito de teatro, de arte”, diz, enquanto o avô, comerciante, viu na ideia uma chance de atrair gente à cidade e, com isso, movimentar o comércio.
E não é só na coordenação do espetáculo que estão os traços da veia artística da família de Robinson. Para além de novos cenários e figurinos, as novidades de 2017 incluem a inauguração de dois monumentos logo na entrada do teatro. Um deles homenageia Plínio Pacheco, pai do diretor e mentor da Paixão de Cristo e do Teatro Nova Jerusalém; e seu fiel companheiro, o operário Cazé, que por 40 anos trabalhou e ensinou a arte de transformar pedra bruta em angular para erguer o espaço. O outro é uma réplica de Pietà, da obra-prima de Michelangelo. mas com os rostos de Diva e Luiz Mendonça, mãe e tio de Robinson, que viveram por anos os papéis de Maria e Jesus na época da Fazenda Nova.
A 200 quilômetros do Recife, Brejo da Madre de Deus ganhou fama por causa da visibilidade da Paixão de Cristo, é verdade. Mas a pequena cidade no agreste nordestino, de aproximadamente 48,5 mil habitantes, reserva outras peculiaridades e atrações que podem valer a passagem por ela, mesmo fora da Páscoa, a começar pelo próprio Teatro Nova Jerusalém, aberto à visitação durante o ano inteiro.
No centro histórico, além de casarios do século 19 e igrejas que remontam ao século 18, quando Brejo da Madre de Deus foi povoado por portugueses, encontra-se ainda o Museu Histórico da cidade, com acervos arqueológicos e paleontológicos. O espaço está em reforma, mas, segundo a irmã de sua fundadora e atual responsável pelo atendimento do espaço, Dona Margarida, a previsão é reabrir em junho.

NÃO PERCA:
1. Teatro Nova Jerusalém – O local onde o espetáculo é encenado em nove palcos está aberto à visitação o ano todo. Fora da época das encenações, é possível percorrer todo o espaço, uma verdadeira cidade murada e cheia de colunas.
2. Caruaru – A cidade que se intitula dona do “maior São João do mundo” está a apenas uma hora dali. Durante a época dos festejos juninos, é possível juntar os dois programas em uma mesma viagem
3. Sítio arqueológico Furna do Estrago – Na necrópole pré-histórica foram encontrados, na década de 1970, objetos cerâmicos e de madeira, joias e ossos humanos de povos primitivos que viveram na região.
4. Em meio à natureza – Tanto a Serra do Ponto, que serviu de cenário para O Auto da Compadecida (2000), quanto a Mata do Bitury são ideais para praticar rapel ou trekking, fazer trilhas e até acampar.