Rio de Janeiro – Overdose de cartões-postais

Faltam 12 dias para os Jogos, e o Rio está diferente, sem deixar de ser o mesmo

TEXTO: Por Bruna Toni e Nathalia Molina, especial para AE | FOTOs: divulgação
TEXTO: Por Bruna Toni e Nathalia Molina, especial para AE | FOTOs: divulgação

O Rio de Janeiro não continua sendo (o mesmo), dirá, porventura, quem cruzou ou cruzará suas ruas e avenidas nos próximos meses. Há motivos para a discordância poética. Desde que foi escolhido sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, viu mudar seus contornos, suas formas de locomoção e prioridades geográficas. Viu seu cotidiano se transformar no centro das atenções do mundo todo.
Nove anos depois e a 13 dias da chegada da Tocha Olímpica ao Maracanã, palco da cerimônia de abertura (e de encerramento) da maior competição esportiva do mundo, a cidade ainda se esforça para fazer a experiência dos cerca de 1 milhão de turistas aguardados por lá ao longo do ano ir além das disputas em 28 modalidades.
Não por acaso, pela primeira vez em Jogos de Verão, a pira olímpica ficará acesa fora do estádio olímpico. Por aqui, sua casa será na Candelária, localizada entre a requalificada zona portuária e o centro, as duas regiões cariocas que mais sofreram modificações com a Operação Porto Maravilha – bem polêmica, diga-se de passagem.
É também nesta parte do Rio que ficará o principal Boulevard Olímpico da cidade, uma área de entretenimento aberta ao público, com cerca de 3 quilômetros de extensão e capacidade para 80 mil pessoas, no estilo das Fan Fests da Copa, em 2014. Além de transmitir as principais competições, terá atrações gratuitas, entre exposições, shows, bungee jumping e balão panorâmico. Com previsão de abertura em 5 de agosto, funcionará diariamente, das 9h à meia-noite – com mudanças em dias de maratona.
As tradicionais Casas Olímpicas serão mais um espaço para a folia dos torcedores. Apesar de muitos países ainda não terem confirmado os locais onde se instalarão e de alguns preferirem receber apenas suas delegações, outros, como México, Alemanha e Japão, já têm endereço certo para recepcionar qualquer um que estiver pelo Rio.
Mas seria contraditório a uma cidade com tantos cartões-postais não apostar neles justamente neste momento. Por isso, se a badalada zona sul ganhou mais atrativos, a zona norte tem aproveitado o fato de abrigar dois centros de disputa – Maracanã e Engenhão – e de ter Deodoro por perto para entrar de vez no roteiro turístico.
O Rio também tem redescoberto sua zona oeste, onde foi montado o Parque Olímpico, centro com o maior número de competições e onde os atletas ficarão hospedados durante a Olimpíada, de 5 a 21 de agosto, e a Paralimpíada, de 7 a 18 de setembro.
Parte dessa redescoberta se deve ao fato de que, com a implementação do BRT, um ônibus que transita por via exclusiva, chegar à região da Barra da Tijuca ficou menos difícil e demorado. A outra parte se deve ao que sempre existiu por lá. Para além de ser a ‘Miami brasileira’, como dizem os próprios cariocas, reserva surpresas naturais e culturais que merecem mais de um dia de visita.
Foram muitas transformações – que devem seguir até os Jogos e, provavelmente depois deles. Na sexta-feira, por exemplo, a cidade-sede declarou calamidade pública para ter acesso mais rápido a recursos federais. A justificativa é honrar compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), como o término da linha 4 do metrô, entre Ipanema e Barra da Tijuca.
Independentemente de questões políticas, o Rio seguirá atraindo os turistas. Por isso, fizemos um guia de atrações, divididas em cinco regiões, com 105 opções de passeios, praias, gastronomia e noite, e mais 79 na versão online, que pode ser levada no celular antes, durante e depois dos Jogos. Porque, apesar de não ser mais o mesmo, o Rio de Janeiro continuará lindo.

antes ou depois dos Jogos
Paquetá – 20 km: Da histórica Praça XV partem barcas em direção à Ilha de Paquetá todos os dias, em vários horários (passagem R$ 5,60). Muito frequentada por cariocas nos fins de semana, pode ser contornada em menos de uma hora e sem pressa a pé, de quadriciclo, bike ou charrete (negocie valores). Não deixe de visitar a Pedra da Moreninha e o Parque Darke, de onde se avista o Rio do outro lado da Guanabara. Site: ilhadepaqueta.com.br.
Petrópolis – 70 km: Palacetes preservados enfeitam o centro histórico da cidade que era o refúgio de verão de d. Pedro II. O Museu Imperial (museuimperial.gov.br) é um dos mais interessantes do país. Fique ao menos dois dias para curtir a paisagem de montanha, ver o Palácio de Cristal, a Casa de Santos Dumont e o Palácio Quitandinha, e visitar a Cervejaria Bohemia. Site: visitepetropolis.com.
Vale do Café – 120 km: O turismo ganhou força na região, no Vale do Paraíba fluminense, a partir do Festival Vale do Café (festivalvaledocafe.com.br), de música instrumental em praças e fazendas históricas, realizado desde 2003 – este ano, de 23 de julho a 3 de agosto. Em 26 e 27 de agosto tem o Encontro de Seresteiros de Conservatória. Em dois a três dias, visite a Fazenda do Paraízo (contato@fazendadoparaizo.com.br; R$ 70), com móveis do século 19, e durma nas fazendas Florença (hotelfazendaflorenca.com.br; R$ 1.558) e União (fazendauniao.com.br; R$ 1.700; foto) – valores para dois, duas diárias com pensão completa.
Búzios e Região dos Lagos – 210 km: Dá para ficar uma semana pela região, que lota nos feriados e fins de semana. Búzios é mais charmosa, dos hotéis – como Insólito (insolitohotel.com; desde R$ 1.380) e Casas Brancas (casasbrancas.com.br; desde R$ 951) – aos restaurantes na Orla Bardot e no Porto da Barra. Praias são mais de 20, das baladeiras às esportistas ou familiares, e beleza de sobra. Porém as mais bonitas da região estão em Arraial do Cabo: imperdível é o Pontal do Atalaia, acessível de carro ou de barco. As pousadas são mais simples. Cabo Frio é a cidade mais urbanizada e estruturada da área.

Noite
Teatro Rival: Desde abril de 2016, o Rivalzinho, antigo Café Rival, virou opção de happy hour na região da Cinelândia, com um mix que inclui boa música e comidinhas preparadas por Kátia Barbosa. A proprietária do restaurante Aconchego Carioca tornou-se sócia da atriz Leandra Leal no Teatro Rival, espaço democrático e de vanguarda artística carioca há 82 anos. A entrada é grátis de segunda a sexta-feira; de quinta a sábado e em véspera de feriado, o Rivalzinho vira uma festa na rua. Paga-se para assistir aos shows aos fins de semana.
Trapiche Gamboa: O bar fica perto da Pedra do Sal (leia abaixo), ventre do samba, na região central do Rio. O Trapiche Gamboa não se considera boate nem casa de shows. É refúgio do jongo, do ijexá, do samba de roda e de raiz. Não há palco, os músicos tocam próximos ao público, que dança ou bate na palma da mão em clima animado que remete aos velhos terreiros. A construção de 1857 tem piso original, parede revestida de óleo de baleia e pé direito de 13 metros de altura.
Pedra do Sal: Um rosto negro pintado na parede colore um pedaço sem saída no fim da Rua Argemiro Bulcão. Estamos no pé da Pedra do Sal que, por sua vez, fica aos pés do Morro da Conceição. Ali era descarregado o sal trazido do porto por negros escravizados. Ponto de encontro de estivadores que se reuniam para fazer um sambinha após o expediente, a Pedra do Sal deu origem aos primeiros ranchos carnavalescos e foi palco de personalidades como Pixinguinha e Donga. A roda de samba é passeio certo às segundas, das 18h30 à meia-noite.

À noite, vale a pena visitar o bar Trapiche Gamboa, ventre do samba de roda e de raiz na região central do Rio de Janeiro
À noite, vale a pena visitar o bar Trapiche Gamboa, ventre do samba de roda e de raiz na região central do Rio de Janeiro