Lugares para ver arte e comer bem – toronto

De hotel a galerias, tudo vira tendência nos bairros do oeste

O complexo de restaurantes, cafés, chocolateria, lojas e espaços artísticos ocupa 47 prédios vitorianos construídos em 1832 para abrigar a antiga fábrica de bebidas
O complexo de restaurantes, cafés, chocolateria, lojas e espaços artísticos ocupa 47 prédios vitorianos construídos em 1832 para abrigar a antiga fábrica de bebidas

Um dos filhos mais famosos de Toronto, o rapper Drake cunhou há cerca de dois anos o apelido mais cool que a maior cidade canadense já teve: The Six. A origem é a música Know Yourself, lançada em 2015, que tem na letra o trecho ‘running through the 6 with my woes’ (correndo pelas seis com minhas angústias), e se confunde com a união, em 1998, dos seis distritos que formam a Toronto atual: Etobicoke, North York, Scarborough, York, East York e a própria Toronto.
Também há quem diga que o apelido vem dos códigos telefônicos de Toronto, 416 e 647. A versão que envolve o rapper, no entanto, tem um ponto a seu favor: dialoga com a vibe criativa que domina vários aspectos do cotidiano da cidade. E conquista os turistas.
Para uma parte dos brasileiros, aliás, está mais fácil visitar o Canadá. O governo canadense passou a conceder isenção de visto a uma parcela de visitantes. Desde 1.º de maio, brasileiros que tiraram algum visto canadense nos últimos dez anos ou que tenham um visto americano válido só precisam preencher uma Autorização Eletrônica de Viagem (eTA). Custa 7 dólares canadenses (R$ 17), tem validade de 5 anos ou até expirar o passaporte, o que acontecer primeiro, e o processo todo é feito online: bit ly/canada_eta. A eTA só vale para entrar no Canadá por via aérea.

Diversidade
A massiva presença de imigrantes na população ajuda a garantir a diversidade que torna Toronto tão confortável para os turistas. O último censo mostrou um aumento de 6,2% na população da cidade em cinco anos, entre 2011 e 2016 – um crescimento que é atribuído em parte ao aumento da imigração.
Até por isso, andar por Toronto é uma experiência cultural intensa. A arte está por todos os lados, seja a dos museus e galerias, reconhecida e unanimemente respeitada, seja a que desperta controvérsia, feita na rua, nos muros, combatida pelo Poder Público. Um tipo de arte que combina com a atmosfera jovem da produção musical de Drake.

ARTE NA RUA
Nem galerias, nem museus: há quem defenda que a faceta mais criativa da arte de Toronto está nas ruas. Não que as autoridades aqui sejam entusiastas do grafite. Ao contrário, a Lei Municipal proíbe esse tipo de intervenção urbana, prevê aplicação de multa ao proprietário que permitir que seu muro seja grafitado e só abre algumas exceções – depois da análise do desenho por um conselho que determina o que é arte ou vandalismo, o que fica e o que será eliminado.
Como se o sistema já não fosse controverso o suficiente, uma parcela da população também é contra a arte de rua nos muros e paredes. Enquanto isso, tours de grafite já são parte do menu turístico de Toronto.
O guia Julian fornece tais informações enquanto nos conduz pelos 500 metros do Grafitty Alley (Beco do Grafite), entre a Spadina Avenue e a Queen Street West, apontando e comentando desenhos. São de alguns dos grafiteiros mais relevantes do Canadá e também de estrangeiros.
O conteúdo político e a origem multiétnica de muitos dos grafites espalhados pela cidade ajudam a turbinar a tensão. Grafiteiros acusam a prefeitura de contratar agências, que recontratam artistas dispostos a cobrir algumas paredes de desenhos de temas amenos para abafar o conflito. Julian mostra os grafites espontâneos e os ‘oficiais’. A diferença é gritante.
Julian é guia da Tour Guys. A empresa oferece diariamente, às 17 horas, um passeio guiado de 90 minutos, gratuito. O ponto de encontro é a esquina da Queen Street West com a Soho Street, diante da pintura onde se lê ‘hug me’,’me abrace’ que enfeita um tronco de árvore – falso, feito de fibra para relembrar a árvore que existia ali até ter sido derrubada pela colisão de um carro.
O tour pela arte de rua termina na mesma Queen Street West; a rua ferve com lojas criativas, brechós, galerias, restaurantes e bares. Caminhe ainda mais para oeste, em direção ao bairro de Little Portugal, para explorar a parte mais alternativa da via.
A 2,5 quilômetros da Spadina estão dois hotéis queridos no circuito de arte alternativa. O Gladstone Art Boutique Hotel (quartos desde US$ 179) fica em um prédio vitoriano de 1889, restaurado em 2005, e abriga quatro andares de exposições de arte local. O Drake Hotel (desde 209 dólares canadenses), além de mostras, tem bar e balada.

ANTIGA DESTILARIA
Faz 14 anos que o Distillery District é uma das vanguardas de Toronto. O complexo de restaurantes, cafés, chocolateria, lojas e espaços artísticos ocupa 47 prédios vitorianos construídos em 1832 para abrigar a antiga Gooderham & Worts Distillery, uma fábrica de bebidas que foi, no século 19, a maior destilaria do mundo. Abandonada por mais de uma década a partir de 1990, quando encerrou as atividades, a fábrica foi reformada e reabriu em 2003 como espaço de artes, entretenimento e gastronomia.
O Distillery District fica a leste do centro de Toronto, a 15 minutos de caminhada do Mercado St. Lawrence. As ruas são de paralelepípedos como antigamente, proibidas para carros, e você pode passear por elas a pé, de bicicleta ou de segway – 44,90 dólares canadenses, com taxas, pelo tour guiado de 30 minutos na Go Tours Canada.
Vale gastar ao menos uma tarde inteira por ali. Chegue para almoçar ou fique para jantar no delicioso Cluny Bistrot, lindo na decoração e delicioso no cardápio; nos fins de semana, o restaurante serve brunch até as 16 horas. Você não vai se arrepender de passar pelo charmoso Balzac’s
Coffee, marca original da canadense Stratford, a cidade onde nasceu o cantor Justin Bieber. O café é excelente.
Parada deliciosa também é a chocolateria Soma. Além dos chocolates fabricados com cacau vindo de diferentes partes do mundo, o chocolate quente é uma experiência sensorial memorável. E não é que fomos servidos por um brasileiro?
Para não negar as origens alcoólicas, funcionam no local a cervejaria Mill Street Brewery e a fabricante de saquê Izumi. Esta começou a funcionar em 2011 com a assistência da Miyasaka Brewing Co., cuja operação no Japão data dos anos 1600. As duas oferecem degustação.