Lanches nas escolas têm baixo valor nutricional

Pesquisa revela maus hábitos alimentares de crianças e adolescentes

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Dois a cada três produtos oferecidos e consumidos nas cantinas escolares é de baixo valor nutricional, segundo pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Nutrebem. A oferta e o consumo de produtos de alto valor nutricional, como frutas e sucos naturais, não chegam a 10%. O restante, em torno de 20%, foi classificado como de médio valor nutricional.
De acordo com dados da pesquisa, realizada em escolas privadas de todo o país em 2016, há uma forte relação entre a quantidade de produtos nutritivos ofertados e o que é consumido pelos alunos. Em escolas que oferecem grande número de alimentos com alto valor nutricional, o consumo desses lanches mais saudáveis chega até a 70%.
“Em uma situação de quase monopólio, como é o caso das cantinas na hora do recreio, a oferta faz muita diferença. O problema é que produtos menos nutritivos são, em geral, mais lucrativos para as cantinas e mais palatáveis aos jovens consumidores” – afirma Eduardo Andrade, coordenador da pesquisa.
A saída para mudar a situação envolve família e escola.
“Os pais têm responsabilidade pelo que é ofertado em casa e pela apresentação da alimentação saudável à criança, pois, se ela não souber o que é bom, não poderá escolher na cantina. Mas o estímulo da escola e dos colegas também é muito importante, pois as crianças são muito influenciáveis” – observa a nutróloga Juliana Risso.
Para a especialista em suporte nutricional do Hospital Quinta D’Or, Cristiane Carius, a infância é o momento ideal para iniciar bons hábitos alimentares: “as crianças têm mais facilidade de se adaptarem à alimentação saudável do que os adultos, elas estão em fase de aprendizado. É preciso que haja preocupação dos pais e da escola em oferecer essas opções.

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Surto de obesidade

A má alimentação, aliada ao sedentarismo, é a principal causa da obesidade, que no Brasil cresce rapidamente, tanto entre as crianças como nos adultos. Um relatório da Organização das Nações Unidas Para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 7,3% dos menores de cinco anos estão acima do peso.
“Os prejuízos são inúmeros tanto para a saúde física como para a emocional. Crianças e adolescentes já sofrem com várias doenças relacionadas à má alimentação, além das deficiências de micronutrientes, como vitaminas e sais minerais, e do excesso de sódio, muito presente em alimentos industrializados. A longo prazo, esses hábitos podem favorecer o desenvolvimento de doenças autoimunes e até depressão” – avisa a nutróloga Juliana Risso.
Segundo a médica Luciana Lopes, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a solução é apostar na prevenção: “já vemos as comorbidades da obesidade em uma fase muito precoce. Temos adolescentes diagnosticados com diabetes tipo 2. Criança ou adolescente obeso tem maior risco de doença cardiovascular. Para evitar isso, é preciso investir em prevenção, papel que deveria ser executado principalmente pelas escolas”.