Beata indicada ao Nobel tem trajetória narrada

Filme celebra centenário de nascimento da irmã

Glória Pires tem uma breve e decisiva participação como a mãe e Bianca Comparato e Regina Braga interpretam a protagonista
Glória Pires tem uma breve e decisiva participação como a mãe e Bianca Comparato e Regina Braga interpretam a protagonista

Em São Paulo e Rio a estreia aconteceu somente quinta-feira (27), mas na sexta-feira (14), Irmã Dulce já entrou em cartaz no Norte/Nordeste, em um circuito amplo que irá de Salvador a Manaus.
Era um desafio grande que o diretor Vicente Amorim e a produtora Iafa Britz enfrentaram com garra. O desafio de Iafa Britz foi econômico, mas não só esse. Levantar a produção de um filme ‘grande’ nunca é fácil. Iafa não se vexa de dizer que, como a própria Irmã Dulce, saiu estendendo a mão. Ela fazia isso por seus pobres. No filme, quando estende a mão, Irmã Dulce recebe uma cuspida. E diz – “Isso foi para mim”. E estende a outra mão – “Agora, para os pobres”.
Amorim também enfrentou seu desafio – imenso – e o dele foi não apenas contar sua história, mas como Irmã Dulce foi uma mulher extraordinária. Você não precisa ser religioso para acreditar nisso. E, mesmo que ela venha a ser santificada, o filme não é sobre a ‘santa’. Como diz Madre Fausta a Irmã Dulce, que quer remover montanhas, ‘somos apenas mulheres’. Na ficção de Vicente Amorim, a pequena Maria Rita descobre a pobreza e perde a mãe. As duas coisas estão ligadas em seu imaginário para todo o sempre. Ela será a mãe de muitos, mas a vida inteira sonhará com aquela mãe.
Irma Dulce, o filme, evita a hagiografia. Conta a história de uma mulher que desafiou as convenções do seu tempo, e da instituição – a Igreja – à qual se consagrou. Mas Amorim teve um problema. Irmã Dulce teve atitudes, comprou brigas, venceu batalhas. Mas sua vida foi uma linha dramática continua, sem sobressaltos. Seu conflito era com, o mundo, não consigo mesma. Como construir um arco dramático para o espectador? Por meio de personagens secundários. O filho, João, que representa todos os filhos. A Madre Fausta. Sobre que é seu filme? Vicente Amorim responde: “sobre a ordem no caos”.
Já era assim, em seu longa anterior, Corações Loucos. E talvez tenha sido por isso que Amorim enfrentou outro desafio recente – o de creiar as ligações para os episódios de Rio, Eu Te Amo. Face à desordem do mundo – a miséria, a violência -, Irmã Dulce responde com seu desejo (ético) de reorganização da sociedade e do mundo. Como ela diz, ‘não vou virar as coisas de novo para aqueles que o mundo renegou’.
Vicente Amorim usa muito olhar para definir e interiorizar seus personagens. Creia grandes cenas emocionantes – atrás de João, que se perdeu na noite do crime, Irmã Dulce vai à mãe de santo. São duas grandes mulheres. Uma sabe da força da outra. Respeitam-se. É o momento ‘Iafa Britz’ do filme. A produtora de Irmã Dulce acredita no entendimento. É judia e já fez filmes sobre espiritismo (Nosso Lar) e agora uma figura icônica do catolicismo brasileiro.
Glória Pires tem uma breve e decisiva participação como a mãe. Bianca Comparato e Regina Braga estão além dos elogios. Criam uma única e impactante personagem. E ambas acreditam que Irmã Dulce, mais que nunca, é a personagem para se entender e unir o Brasil dividido das últimas Eleições.