Um adorável clichê – suíça

Zurique é a cidade com maior cartaz entre brasileiros

As paisagens são arrebatadoras, até o mais inexperiente fotógrafo é capaz de conseguir um registro digno de curtidas em suas redes sociais  TEXTO: Natália Mazzoni/ae | foto: divulgação
As paisagens são arrebatadoras, até o mais inexperiente fotógrafo é capaz de conseguir um registro digno de curtidas em suas redes sociais
TEXTO: Natália Mazzoni/ae | foto: divulgação

É impossível falar da Suíça sem entrar em clichês. O país, dividido em 26 cantões, entrega pontualmente todas as ideias prontas que temos de lá: paisagens impecáveis, chocolates deliciosos, queijos inesquecíveis. Nunca será tão agradável descobrir que tudo aquilo que você imaginava era, de fato, verdade. A Suíça tem apenas 41 mil quilômetros quadrados de área, o equivalente ao Estado do Rio de Janeiro. De leste a oeste, dá para percorrer o país em apenas três horas de trem – o transporte público favorito de turistas e suíços.
Para absorver a essência e as nuances suíças, o ideal é incorporar em seu roteiro cidade e montanhas. As duas atmosferas se transformam lentamente, um espetáculo delicioso de assistir pela janela do trem. Nossa viagem segue essa receita: chegamos por Zurique, no centro do país, seguimos a Gstaad, a três horas de trem, e fechamos a viagem com uma esticadinha na bela capital, Berna, duas horas distante na linha ferroviária.
Em Zurique, passado e presente conversam em um diálogo que diz muito sobre o país: eles sabem contar sua história, mostrar suas origens, e são abertos ao futuro que já dá as ‘caras’ nos bairros mais descolados, tomados por gente jovem. Nas montanhas, os Alpes fazem você respirar fundo. As paisagens são arrebatadoras, até o mais inexperiente fotógrafo é capaz de conseguir um registro digno de recorde de curtidas em suas redes sociais. Olhe por qualquer ângulo, de qualquer fresta, e descubra um lugar que parece saído de um sonho.
O preço para desfrutar dessas experiências é salgado. Quando comparada a países como Alemanha ou Portugal, a Suíça se mostra como um dos destinos mais caros da Europa. Economizar não é missão fácil, especialmente em razão do valorizado franco suíço. Por outro lado, os queijos produzidos ali, de alta qualidade, têm preço bem menor do que os encontrados no Brasil – na embalagem original, podem ser trazidos na mala. Sendo assim, faça as contas, estude seu roteiro, e quando estiver no trem, olhe pela janela.
Afastado do centro antigo, com suas construções do século 13, e, bem, do jeito impecável de ser de toda a Suíça, o lado oeste de Zurique guarda a face mais descolada da cidade. Em Zurich West, uma antiga área industrial, as máquinas pararam de fazer barulho e a fuligem deu lugar a lojas, galerias de arte, baladas, restaurantes e mercados mais modernos da cidade. Sim, os hipsters estão por toda a parte.
A transformação do bairro no que ele é hoje começou em 1990, quando foram permitidas novas construções no lugar. Antes, com o fechamento das fábricas, a região ficou abandonada, com pontos de venda de drogas e moradores de rua. Hoje, o distrito tem personalidade própria e uma energia bastante diferente do resto da cidade.
Se a ideia é fazer compras, caminhe ao longo dos 500 metros de arcos ferroviários, erguidos no fim do século 19, que hoje acomodam estabelecimentos comerciais numerados em seus vãos. O projeto que revitalizou o Im Viadukt, como hoje é chamada a construção, foi feito em 2010 pelo escritório de arquitetura EM2N. O governo cobra preços acessíveis para alugar os espaços – em contrapartida, os donos têm de contribuir socialmente com a cidade, contratando pessoas sem nenhuma experiência profissional ou portadores de deficiência, por exemplo.
O mercado fechado com dezenas de produtores, é uma das principais paradas ao longo dos arcos. Além de encontrar produtos frescos, a maioria vinda direto do produtor, os preços são melhores dos que os praticados no resto de Zurique. Um combo com croissant, café e suco sai por 7,90 francos suíços (R$ 27) na simpática padaria St. Jakob Beck. Para se ter ideia, nos restaurantes do centro, uma garrafa de água chega a custar 6 francos (R$ 20). Saindo da Jakob, a vitrine da tradicional Tritt-Käse exibe fatias apetitosas de queijos orgânicos de produtores dos Alpes. Um pedaço de 100 gramas de queijo de cabra do Vale do Loire custa por volta de 4 francos (R$ 13) – na embalagem original, você pode até trazer para o Brasil. Em outra parada está a Shepherd’s Pie, recheada de tortas doces e salgadas. A mais famosa, de carne e cerveja escura, custa em média 8,50 francos suíços (R$ 29). Nas outras pequenas lojas, geleias, cervejas, embutidos, vinhos: um ‘prato cheio’ para quem gosta de gastronomia.
Fora do mercado, lojas variadas se espalham pelos 36 arcos. Design, moda, arte, tudo tem uma pegada descolada. Entre uma galeria e outra, um pequeno estádio de badminton faz o lugar parecer ainda mais cool.
A verdade é que em se tratando deste bairro, não há roteiro pronto. Separe um dia da viagem e se perca pelas ruas, lojas, cafés e galerias para conhecer essa outra versão da maior cidade da Suíça. O vai e vem de gente jovem, a conversa alta e os lambe-lambes das vitrines e muros mostram que Zurich West, definitivamente, respira outros ares.