Nova Zelândia – Paisagens deslumbrantes

Cenário dos filmes da saga Senhor dos Anéis, país virou destino requisitado

TEXTO: Por Guilherme Sobota/AE | FOTOs: divulgação
TEXTO: Por Guilherme Sobota/AE | FOTOs: divulgação

A reação é sempre a mesma: dizer a alguém que você foi, ou vai, à Nova Zelândia, é garantia de espanto. Afinal, são em média 18 horas em dois voos, existe um oceano gigantesco entre nós e… o que mais mesmo? Essa é a dúvida que causa espanto, e agora que visitei quatro das principais cidades desse pequeno país no sudeste da Oceania, é possível atestar que a surpresa se justifica.
Visualmente deslumbrante, econômica e politicamente estável, nono IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo e com uma política amigável a imigrantes em busca de trabalho, o país acumula uma lista de razões para ser o próximo destino da viagem de férias.
Se comprimida, a área das ilhas que compõem a Nova Zelândia – as principais são a Norte e a Sul – caberia dentro do Estado do Rio Grande do Sul. A magia é justamente a capacidade do país de oferecer, em um espaço de terra tão reduzido, uma respeitável diversidade de paisagens, climas e ambientes urbanos e rurais. É essa, inclusive, uma das explicações para a pujante indústria do cinema que se formou no país desde que a franquia O Senhor dos Anéis caiu no gosto do público, no começo dos anos 2000.
Estive hospedado em quatro centros urbanos de diferentes tamanhos. De norte para sul, Auckland tem 1,5 milhão de habitantes e é o destino dos voos que chegam da América do Sul. Será, portanto, seu provável primeiro contato com o país. Rotorua, a 230 quilômetros de distância, tem 56 mil. Wellington, no sul da Ilha Norte, é lar de 400 mil pessoas, e a pequena Queenstown, já na Ilha Sul, tem 13 mil.
Dada a variedade de coisas para ver, fazer e comer, seria possível dizer que são quatro países diferentes, unidos pela orgulhosa hospitalidade dos kiwis, como são chamados os neozelandeses. Com as distâncias pequenas ou moderadas (nenhum voo dentro do país dura mais do que duas horas), é possível cumprir o roteiro e ter uma experiência rica dentro de 10, 12 dias.
Importante lembrar: a viagem não sai nada acessível. O câmbio é próximo do dólar americano – atualmente, US$ 1 equivale a 1,3 dólares neozelandeses. Como a economia é pesadamente dependente do comércio exterior, produtos e serviços tendem a ter preço salgado.
A boa notícia é que é possível se aventurar pela Nova Zelândia combinando turismo e trabalho. Brasileiros entre 18 e 30 anos podem se inscrever no programa Working Holiday Visa, que concede um visto de trabalho de até um ano. As próximas inscrições começam em agosto de 2017.
Já turistas comuns não precisam de nenhum tipo de visto, apenas de alguma atenção às restrições de bagagem: comida, por exemplo, não entra.
EM CLIMA DE METRÓPOLE
Auckland poderia ser a São Paulo deles: muito menor, obviamente, mas com um trânsito igualmente ruim. Mesmo no centro, a cidade é pouco verticalizada, o que faz com o que os deslocamentos de moradores sejam mais longos.
Mas não se deixe dominar por essa primeira impressão. Auckland é de fato uma metrópole, e um de seus pontos mais famosos, a Sky Tower, é parada indispensável. A torre mais alta do Hemisfério Sul – um guia disse que fizeram questão de construí-la maior do que qualquer coisa na Austrália, “é claro” – tem um lounge que permite observar a cidade em 360 graus e as ilhas que a cercam (custa 28 dólares neozelandeses para subir, R$ 65). É possível pular lá de cima atado a cabos de aço, mas enquanto estive lá, pelo menos três pessoas desistiram, mesmo depois de desembolsar nada módicos 225 dólares neozelandeses, R$ 530.
Por perto da torre, na Federal Street, há dois bons restaurantes O Federal Delicatessen foi construído como uma homenagem aos estabelecimentos judeus similares em Nova Iorque. O Depot Eatery tem um ambiente parecido. Os dois têm comida fresca e sazonal e servem o turbot slider, um pequeno hambúrguer de peixe. Já para acompanhar carnes vermelhas, em qualquer restaurante da Nova Zelândia, escolha o vinho feito com uvas pinot noir do próprio país.
Andando ao norte pela Queen
Street, a principal da cidade, em direção ao cais, há um terminal de transporte urbano chamado Britomart: a partir dele estende-se uma espécie de calçadão hipster que reúne galerias, bares e bons restaurantes. No Ortolana, o prato de nhoque fresco com cogumelos japoneses e nabo, mais uma sobremesa que vem do vizinho Milse, sai por 30 dólares neozelandeses (R$ 70).
O Britomart fica aos pés do terminal hidroviário de Auckland: dezenas de pequenas vilas em ilhas ou penínsulas ficam a um tíquete de distância dali. A mais indicada para turistas é Devonport, à qual se chega depois de uma travessia de apenas 12 minutos. A atração principal do vilarejo cheio de construções vitorianas é o cume do Monte Vitória, um dos três cones vulcânicos que circundam a vila. A vista para Auckland faz a caminhada de 20 minutos morro acima se pagar. Também há visitas guiadas diárias que podem ser adquiridas no terminal hidroviário.
Outros pontos que valem a visita em Auckland com mais calma: o pico do Monte Éden, a dez minutos de carro do centro e, ainda mais ao sul, o belo Cornwall Park, distante cerca de meia hora. Para curtir um parque mais perto com boa infraestrutura infantil, o Western Park está ao lado do centro.

PARA CINÉFILOS E NERDS
Se você é um pouco nerd, vai achar a próxima sugestão interessante. Caso seja muito nerd, bem, pode considerar que o paraíso foi encontrado: desde que terminaram as filmagens da série O Hobbit, que tem três longas, em 2011, o set em que o Condado (Shire) foi montado permanece de pé e aberto à visitação turística.
Os preços variam de 100 a 400 dólares neozelandeses (R$ 235 a R$ 940) em pacotes oferecidos pela Great Sights com saídas do Sky City Terminal, em Auckland; também é possível fazer o passeio a partir de Rotorua.
O set é incrível: apesar da movimentação intensa de turistas no lugar, o clima bucólico que domina os filmes nas cenas mais tranquilas permanece intacto no local – que é, na vida real, uma fazenda de criação de ovelhas.
Todas as cenas externas do Condado (tanto em O Hobbit como nos filmes da franquia O Senhor dos Anéis) foram filmadas por ali, inclusive a festa de aniversário de Bilbo no começo de A Sociedade do Anel. Segundo o guia do passeio, é bem comum turistas caírem em lágrimas ao se verem pela primeira vez diante do cenário real.
Veja outros filmes famosos cujo cenário é neozelandês:
1. Sagas ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘O Hobbit’ – Peter Jackson já era um diretor neozelandês de sucesso nos anos 1990 (ele tinha uma indicação ao Oscar); mas, ao decidir fazer O Senhor dos Anéis, em 1998, colocou definitivamente a Nova Zelândia no mapa de Hollywood.
2. ‘X-Men Origens: Wolverine’ – O filme com Hugh Jackman e Liev Schreiber teve cenas nas mesmas localidades em que foi montada a cidade de Isengard, de O Senhor dos Anéis, em Queenstown.
3. ‘O Último Samurai’ – A produção de 2003 com Tom Cruise e Ken Watanabe transformaram em Japão a região de Taranaki, na ilha norte da Nova Zelândia.

ROTORUA
Rotorua é o coração da cultura maori na Nova Zelândia. A grande atração é Te Puia, uma espécie de santuário de 70 hectares junto a um vale ao sul da cidade. Os locais dizem que esse é o lugar do mundo em que você pode chegar mais próximo a um gêiser; provavelmente estão certos. O parque é o centro mundial da cultura maori e um ótimo lugar para ver como uma sociedade indígena conseguiu se adaptar ao capitalismo do século 21 sem perder o senso de identidade.
Calor. A Nova Zelândia é um território com atividade vulcânica recente em termos geológicos – poucas centenas de milhares de anos. Por toda a cidade de Rotorua é possível ver fumaça saindo do chão – o enxofre expelido do fundo da Terra deixa o lugar com cheiro desagradável, mas que acostuma rápido. Em Te Puia, o gêiser Pohutu é uma das visões mais procuradas pelos turistas: entra em erupção e lança jatos a 30 metros de altura, 20 vezes por dia.
Essa atividade geotérmica foi exatamente uma das razões para os maori se estabelecerem no local, há coisa de 700 anos. Na cozinha, por exemplo, até hoje, esse povo usa a técnica de colocar carnes e vegetais enrolados em folhas de uma árvore local para cozinhar em “fornos” no solo.
Rotorua tem outra reserva geotermal, a Hell’s Gate, com águas termais e piscinas de lama aquecida onde é possível se banhar. Os tíquetes começam em 35 dólares neozelandeses (R$ 83).
Para relaxar. Depois de um dia em Te Puia, aproveite o clima ameno, de temperaturas que quase nunca superam os 20 graus, para ir às piscinas naturalmente aquecidas do Polynesian Spa (27 dólares; R$ 64).

Em Te Puia, o gêiser Pohutu é uma visão mais procurada com jatos de até 30m
Em Te Puia, o gêiser Pohutu é uma visão mais procurada com jatos de até 30m