Conheça as Ilhas Maurício

As estações do ano coincidem com as brasileiras

A mistura de culturas legou à gastronomia um sabor especial. Influências asiáticas, indianas, crioulas e francesas  se encontram à mesa
A mistura de culturas legou à gastronomia um sabor especial. Influências asiáticas, indianas, crioulas e francesas se encontram à mesa

Port Louis – Os primeiros relatos que ouvi sobre Maurício estavam recheados de clichês: mar azul-turquesa, areia branca, o pacote ideal para casais apaixonados. Uma única busca no Google e lá estava a superestimada citação de
Mark Twain: “primeiro Deus criou as Ilhas Maurício, depois o céu”.
À deriva no Oceano Índico, 2 mil quilômetros a leste da costa da África, a principal ilha do Arquipélago de Mascarenhas – composto também por Rodrigues, Reunião e outras ilhas não habitadas – é famosa por ser refúgio de turistas europeus ricos e jet setters que querem fugir dos holofotes. O que ainda pouco se fala é da pluralidade estética e cultural do país, um curioso mosaico étnico resultado de quatro séculos de colonização.
Na ilha, descoberta oficialmente pelos portugueses em 1505 e ocupada por holandeses – que a batizaram em homenagem a Maurício de
Nassau -, franceses e ingleses convivem com cidadãos de origem indiana, africana, chinesa e europeia. A população soma 1,3 milhão de habitantes, dos quais dois em cada três têm ascendência indiana. Circulam hindus, cristãos e muçulmanos falando inglês, francês e crioulo.
A pluralidade religiosa colore, literalmente, as ruas do país. Os telhados das casas são pintados de acordo com a crença de seus moradores. Os chineses ficam com o azul, cristãos com o amarelo e hindus com o vermelho. Estes chamam ainda mais atenção com as construções tâmil, estátuas multicoloridas de deuses e animais. A atmosfera acaba envolvendo até os turistas mais céticos. No Grand Bassin, lago sagrado ao sudoeste da ilha, é impossível não parar para fotografar as dezenas de famílias que diariamente trazem oferendas para Shiva às margens do que acreditam ser um pedacinho do sagrado Rio Ganges, na Índia.
A mistura complexa de culturas legou à gastronomia um sabor especial. Influências asiáticas, indianas, crioulas e francesas se encontram à mesa. Os frutos do mar são protagonista desse caldeirão, em especial o sacré chien, peixe local branco e delicado, preparado sempre sem economia de especiarias e pimentas. Os restaurantes dos resorts e hotéis de luxo são comandados por chefs talentosos, que harmonizam com habilidade curry, leite de coco e baunilha. Quando se trata de comida de rua, dhal puri (lentilha servida como recheio de uma espécie de panqueca) e boulettes (bolinhos chineses de lula) são especialmente saborosos.
As linhas intermináveis e geométricas das plantações de cana-de-açúcar ao longo das estradas são um lembrete de que Maurício é, essencialmente, agrícola. O cultivo ocupa quase 50% dos 2.030 quilômetros quadrados que formam a ilha, território pouco maior que o da cidade de São Paulo. Chá, café, baunilha, tabaco e cacau engrossam a atividade que representa 60% da economia. O turismo é apenas a terceira, atrás da indústria têxtil.
A capital Port Louis não ganha ninguém pela aparência. Cartazes de redes de fast-food, edifícios espelhados e o trânsito caótico inibem a beleza de algumas construções coloniais. O quente e úmido mercado central é uma ressalva charmosa e sensorial, com vegetais vistosos e enormes ramos de tomilho perfumando o ar. Se puder escolher, faça compras também no mercado de Flic en Flacq, cidade ao leste da ilha – lá, a estrutura é mais organizada e os preços, mais baixos. Um sari sai por 700 rúpias, algo como U$ 20. É bom lembrar que, no comércio de rua, o verbo imperativo é pechinchar.

NATUREZA
Enquanto a mistura étnica faz de Maurício um lugar único, a aquarela das belezas naturais reafirma todos os belos e inegáveis clichês da ilha. A areia fina e alva, o mar que oscila entre o verde-esmeralda e o azul-turquesa ao sabor da luminosidade, palmeiras que formam corredores de sombra pela orla, frutas tropicais servidas à beira-mar nos principais resorts da ilha.
Uma barreira de corais circunda quase totalmente os 180 quilômetros
de costa, transformando muitas praias em pequenos bolsões de águas calmas e quentes. Os recifes são ideais para mergulho e snorkelling.
O arquipélago está no Hemisfério Sul e, portanto, as estações do ano coincidem com as brasileiras. No inverno, as temperaturas ficam entre 20 e 25 graus; no verão, de 30 a 35 graus, com algumas pancadas de chuva. No geral, é ensolarada durante o ano inteiro.
Maurício recebe a-
nualmente um milhão de
estrangeiros, principal-
mente da Europa, do Oriente Médio e da Ásia, segundo a MTPA, autoridade turística local. Há dez anos, o número não chegava a 500 mil, e a meta é alcançar dois milhões em 2015. Com a crise na Europa, o país abriu os olhos para o mercado brasileiro, mais afeito aos mares caribenhos.
A diferença em relação a alguns pontos do Caribe é que, em Maurício, as praias nunca estão lotadas. E a atmosfera tropical encontra uma saborosa mistura de África e Ásia.

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