Lençóis Maranhenses – oásis no deserto

Lagoas e dunas fazem parte da paisagem dos Lençóis

TEXTO: Por Bruna Toni/agência ESTADO | FOTOs: divulgação
TEXTO: Por Bruna Toni/agência ESTADO | FOTOs: divulgação

A temperatura da água daquelas lagoas, localizadas em meio a toneladas de grãos de areia, em um harmonioso conjunto batizado de Lençóis Maranhenses, era sempre a ideal, mesmo em meados de março – época em que, por ali, o calor continua intenso, mas as chuvas surgem sem avisar hora e lugar.
E elas, as chuvas, precipitaram como o prometido – nem tanto para nossa sorte, mas para a felicidade de quem pensa em visitar o destino turístico mais famoso do Maranhão em breve. Afinal, de junho a setembro, os sinuosos caminhos d’água que entrecortam ou contornam o deserto maranhense ficam cheios e vistosos como nos anúncios das agências de viagem. É época de preços mais altos, pousadas disputadas e pouca chance de chuva.
A baixa temporada, porém, não diminui as belezas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses – é preciso apenas ter flexibilidade para trocar as atividades caso necessário, em razão das chuvas. Entre as vantagens, está a de poder desfrutar com certa exclusividade parte de seus 155 mil hectares de área – 80% deles formados por dunas. Nos nossos sobe e desce pelas areias ora fofas, ora firmes, foram pouquíssimos os encontros com outros grupos de turistas, o que é ótimo em um lugar onde o silêncio cai muito bem.
Fato é que, mesmo em menor quantidade e com níveis mais baixos, os oásis de tons esverdeados, azuis ou amarronzados cristalinos estão lá, cavando seus espaços em meio a uma paisagem predominantemente bege. Além disso, algumas lagoas nunca chegam a secar, caso da Espigão e do Peixe.

saiba mais

Aéreo: o trecho SP – São Luís – SP para junho custa a partir R$ 560 na Gol (voegol. com.br) e a partir de R$ 610 na Latam (latam com).
Terrestre: a Brtur (brtur@terra.com.br) oferece transfers diários do aeroporto de São Luís até Barreirinhas por R$ 60 por pessoa. Já a Taguatur (taguaturonline.com.br), a maior agência do Maranhão, tem pacotes completos de uma a seis noites nos Lençóis, a partir de R$ 410 por pessoa.
Vacina: tome a vacina contra a febre amarela no mínimo dez dias antes da viagem: ao menos dois dos destinos (Barreirinhas e Araióses) estão na lista de cidades com risco de contaminação do Ministério do Turismo. Mais informações em bit.ly/vacinafamarela
Dicas: no inverno, faz calor, mas leve uma capa de chuva. Algumas vilas podem não ter máquinas de cartão, por isso ande com dinheiro em espécie.

Circuitos
Para explorá-las, há cinco circuitos possíveis no parque: um partindo da comunidade de Atins, três da cidade de Barreirinhas (principal base para quem vai a Lençóis), e o último saindo de Santo Amaro do Maranhão. Em quase todos, a passagem de carros tracionados é limitada até as chamadas zonas primitivas, abertas apenas à caminhada. A partir daí, trilhas envolvendo subidas e descidas são esperadas e, dependendo da disposição ou condição física, a locomoção pode ser um entrave. De qualquer forma, fique com a dica do nosso guia, o monitor ambiental J. Júnior, na hora de se aventurar ladeira abaixo: “jogue o corpo para trás e crave o calcanhar na areia”.
Em Barreirinhas, o circuito mais visitado é o da Lagoa Azul, que abriga, entre outras, a inesgotável Lagoa do Peixe. No circuito da Lagoa Bonita, está uma das dunas mais altas, com 60 metros (o equivalente a um prédio de 20 andares) e também a Lagoa do Clone O nome veio por causa da novela global na qual Jade, personagem de Giovanna Antonelli, caminhava por ali linda e reluzente, como se o Maranhão fosse o Oriente Médio – cena que nosso grupo de nove mulheres não resistiu em repetir.
Já o circuito da Lagoa da Esperança passa pela divisa entre Barreirinhas e Santo Amaro e conta com uma particularidade: suas águas são provenientes do Rio Negro, que margeia as dunas fixas e móveis da região e, portanto, nunca finda. Foi nela que sentimos, pela primeira vez, as águas mornas dos Lençóis ao cair de uma nublada quinta-feira.

rusticidade
A 100 quilômetros de Barreirinhas, a pequena Santo Amaro do Maranhão está colada no Parque Nacional e é opção aos turistas que desejam ficar mais perto de seus atrativos, apesar de ter menos infraestrutura turística que Barreirinhas. Ali, a lagoa ‘do momento’, como diz J. Júnior, é a das Andorinhas, que ganhou o posto até então ocupado pela das Gaivotas. “Ela (a das Gaivotas) já não tem mais o tamanho que tinha há cinco anos”, explica o monitor. “Nos próximos anos será outra, e assim vai.”
Por ali, a natureza altera tamanhos, contornos e cores dos elementos de seu cenário de forma constante. E sem pedir licença a seus visitantes.

O que fazer
DE LANCHA, NO RIO PREGUIÇAS
É inegável que os 120 quilômetros do Rio Preguiças, bem assim, no plural, provoca em quem senta à sua margem para contemplá-lo uma sensação, de fato, preguiçosa. Essa, ao menos, foi a primeira reação que tive diante do maior curso d’água da região dos Lençóis Maranhenses, que divide as áreas de preservação ambiental estadual e federal e oferece a quem o atravessa um cenário único, principalmente em relação à vegetação.
As primeiras verdinhas a se exibir, logo na saída de Barreirinhas, foram as palmeiras buritis, cujo pé dá aquela frutinha amarela que “da fibra se faz artesanato; da palha, teto; do fruto, comida”, explica J. Júnior. Ao lado delas estão o açaí, a carnaúba, o coco babaçu… Conforme seguimos pelo rio e nos aproximamos do mar, elas vão ficando mais escassas, cedendo lugar para o mangue vermelho, responsável por 23% da área do Parque Nacional.
Ao mesmo tempo, as modestas dunas que formam os Pequenos Lençóis vão dando as caras, criando belas paradas para fotos e banhos de mar. A primeira descida costuma ocorrer na comunidade de Vassouras, 50 minutos após o embarque. Ali, a maior atração, além das dunas e da praia de rio, é observar os macaquinhos ousados que chegam bem perto dos observadores, dispostos a receber algumas bananas pelo espetáculo.
Em seguida, a lancha segue até Caburé, onde é possível alugar quadriciclos, e à comunidade de Mandacaru, que abriga o Farol Preguiças, de 1909. Apesar de seus moradores, o lugar mais parece uma vila abandonada – não se encontra viv’alma por ali, ao menos no fim de tarde. Ainda assim, aproveite para subir no farol, que fica aberto das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17 horas. Chegar no topo será um desafio para as pernas cansadas das dunas, mas vale a pena: cada um dos degraus circulares levam à vista panorâmica do inspirador encontro do rio com o mar.
O tempo do trajeto até Mandacaru depende do piloto da embarcação e do gosto dos fregueses, que podem querer se estender em um ou outro lugar. O passeio em grupo custa R$ 70 por pessoa e, em lancha privativa, a partir de R$ 400. E, para quem quer seguir até Atins como nós, as embarcações costumam cobrar cerca de R$ 20 a mais – porém os preços são sempre negociáveis.

SUP NO RIO PREGUIÇAS
Equilíbrio, foco e força. Como um mantra, repetia essas três palavrinhas mágicas enquanto tentava, pela primeira vez na vida, ficar em pé sobre uma prancha. O passo seguinte era acertar na dobradiça das pernas (aqui está a importância da força) e conseguir manusear os remos, tocando em frente e olhando sempre para o horizonte, como me recomendava Alexandre Ugarte, professor e dono da Espírito de Aventura (bit ly/espiritodeaventura). A empresa, entre outras atividades, oferece o passeio de stand up paddle (SUP) pelo Rio Preguiças, partindo da Praia do Tapuio, uma gostosa praia de rio que fica no mesmo povoado da Casa de Farinha.
Recomendações do professor à parte, bastaram algumas poucas remadas para esta repórter desabar n’água. Falta de prática ou destreza talvez? Bem, minha colega de grupo, tão iniciante quanto eu, manteve-se de pé todo o tempo.
De fato, a atividade não é exatamente difícil – mas exige certo esforço e concentração para seguir adiante. Até porque, caso você também se molhe, saiba que o banho no rio é delicioso e que, com permissão aos conselhos motivacionais, sempre é possível levantar, sacudir os remos e dar a volta por cima. Quer ver como você se sai? Uma hora de aula, com aluguel da prancha, custa R$ 100 por pessoa.

O passeio pelo Rio das Preguiças dura o dia inteiro, pode ser contratado no seu hotel
O passeio pelo Rio das Preguiças dura o dia inteiro, pode ser contratado no seu hotel

BOIA CROSS
Se no stand up paddle o negócio é ficar em pé e não se molhar, a proposta do boia-cross no Rio Formiga é justamente a contrária. Basta sentar na boia e se deixar levar pela correnteza – tome cuidado apenas com indesejadas colisões com arbustos. Vez ou outra, o sossego é quebrado pela necessidade de um esforço breve, uma remada com as mãos para seguir em frente. Mas os guias também dão uma forcinha quando necessário.
O passeio pelo Rio Formiga corta a comunidade de Cardosa, na cidade de Paulino Neves, vizinha a Barreirinhas, e dura uma hora Os grupos partem do Restaurante Recanto da Paz, entre 9 e 14 horas.
Vindo de Barreirinhas, leva-se 1h30 até o local pela Estrada Pissara, caminho de terra que exige um 4×4. Quem vai por conta paga R$ 5 a boia de pneu, mais R$ 25 pelo serviço obrigatório de guia. Mas agências também vendem o tour, incluindo o transporte na jardineira, por, em média, R$ 80 por pessoa. Na chegada, não deixe de provar a tapioca de manteiga ou de coco com leite condensado, acompanhada de cafezinho (R$ 4).

Do alto, observa-se o perfeito contorno das dunas que levam as águas ao encontro do mar
Do alto, observa-se o perfeito contorno das dunas que levam as águas ao encontro do mar

SOBREVOO
A visão plana dos Lençóis que se tem quando o percorremos a pé ou de carro dá a sensação de que aqueles caminhos são intermináveis. Do alto, porém, tem-se a real dimensão de seus perfeitos contornos, quase sensuais, que os levam ao encontro das águas do mar, dos rios, das chuvas nas lagoas.
Há dois roteiros de sobrevoo para ver os Lençóis do alto, a bordo de uma aeronave do tipo Embraer Minuano ou do tipo Cessna 172, ambas operadas pela empresa AVA (voeava.com.br). O primeiro é o da Rota Litorânea, que começa sobrevoando os Pequenos Lençóis (passa por Vassouras, Mandacaru, Caburé e Atins) e, depois, segue aos Grandes Lençóis (lagoas Azul, Esmeralda e Preguiças).
O segundo é a Rota Baixa Grande, que sai em direção ao Parque Nacional entrando pela Lagoa Bonita, a mais visitada da região, seguindo para a Baixa Grande e a Queimada dos Britos, no município de Santo Amaro, retornando pelas lagoas Azul, Esmeralda e Preguiças, como na primeira rota.