Mínimo de exercício pode fazer a diferença

Análise revela que pouca
atividade combate a obesidade

30---Sedentarismo

Mesmo um mínimo de atividade física pode fazer uma grande diferença na luta contra a obesidade. É o que revela análise de 60 estudos envolvendo mais de 200 mil pessoas publicada no periódico científico ‘PLoS Genetics’. Segundo o levantamento, bastaria fazer mais de uma hora de atividade moderada por semana – o que pode ser cumprido, por exemplo, caminhando seis minutos em ritmo acelerado entre o ponto de ônibus ou estação do metrô e sua casa na ida e volta de um trabalho sedentário de segunda a sexta-feira – para contrabalançar em 30% os efeitos da principal variante genética relacionada ao ganho de peso descoberta até agora.
De acordo com pesquisas anteriores, quem nasceu com duas cópias desta mutação no gene conhecido como FTO tem um risco até 60% maior de ser obeso do que quem só tem uma ou nenhuma cópia dela nos dois lados de seu cromossomo 16. Isto porque a variante afeta vários aspectos de nosso apetite e metabolismo, tornando os alimentos mais saborosos e prazerosos aos indivíduos com ela, além de ‘otimizar’ o armazenamento em forma de gordura de qualquer caloria extra ingerida e reduzir drasticamente a chamada taxa metabólica basal.

Há explicação e solução

Segundo o endocrinologista Flávio Cadegiani há realmente pessoas com tendência para engordar.
“Sabe aquela pessoa que diz: “qualquer coisa que eu como engorda”? Pois bem, elas realmente existem. Esta mutação provavelmente foi adquirida na própria evolução do ser humano, já que em cenários de escassez de comida seus efeitos são muito vantajosos. Mas, nestes tempos de abundância de alimentos, isto é um desastre”.
Na mesma linha segue Pedro Assed, pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares da PUC:
“É como se, pela atividade física, você estivesse desativando um gene que traz uma grande predisposição à obesidade”.
Flávia Conceição, presidente da Regional RJ da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, por sua vez, destaca o fato de a análise ter demonstrado que fatores ambientais podem ajudar no combate à predisposição genética à obesidade.
“Este estudo vem reforçar ainda mais a importância da atividade física na luta contra a obesidade – considera. – A pessoa não precisa virar um atleta, um maratonista de uma hora para a outra, mas sair do sedentarismo já é um passo importante.

Sedentarismo de lado e mais saúde

O estudante de letras Yago da Fonseca Oliveira, de 22 anos, autodefinido ‘gordinho’ durante a infância e adolescência, há dois anos decidiu mudar sua situação. A princípio, Yago tentou perder peso apenas controlando a alimentação, mas não foi suficiente:
“Até emagreci, mas não muito” – conta. “Então, há um ano e meio, decidi entrar na academia para começar um programa de atividade física. Antes eu era completamente sedentário no dia a dia, não fazia nada. Se tinha que andar um pouco mais, pegava um ônibus. E isso fez toda diferença” – conta o rapaz.
Mas a análise liderada por Mariaelisa Graff, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, EUA, e Tuomas Kilpeläinen, da Universidade de Copenhague, Dinamarca, não detectou apenas a influência da atividade física com combate à predisposição à obesidade trazida pela variante no gene FTO. Ao cruzar os dados sobre os parâmetros físicos – índice de massa corporal, circunferência da cintura e relação cintura-quadril – dos mais de 200 mil indivíduos participantes dos estudos com seu nível de sedentarismo e constituição genética, os cientistas identificaram mais 11 genes com variantes relacionadas à obesidade antes desconhecidos.
Estes novos genes se somam então aos outros mais de 90 que já se sabia ligados ao problema, mostrando que este tipo de abordagem também pode ser importante para ampliar as pesquisas sobre os efeitos do genoma no ganho de peso.