Já ouviu falar em discalculia?

Transtorno de aprendizado de matemática atinge não só crianças

texto: Ana Paula Blower /infoglobo | foto: divulgação
texto: Ana Paula Blower /infoglobo | foto: divulgação

Ter problemas com os estudos na infância e na adolescência é normal, principalmente quando a matéria é matemática. Mas há um limite entre não gostar da disciplina e ter um bloqueio para aprendê-la. Quando isso acontece, o aluno pode ter discalculia, transtorno de aprendizagem específico da matemática.
De origem neurobiológica, o problema pode gerar quadros de ansiedade e gerar problemas no convívio social.
“Às vezes, a dificuldade se disfarça de rebeldia ou preguiça, mas por trás desse comportamento há uma dificuldade real de lidar com números e operações” – explica Viviani Zumpano, neuropsicopedagoga da NeuroKinder.
Ela comenta que os estudos sobre o assunto ainda são muito recentes, mas indicam que o problema atinge de 3% a 6% dos estudantes.
“Como não se consegue ver, é de difícil diagnóstico, mas pais e professores precisam ter um olhar atento e uma escuta ativa para os sinais” – observa a especialista.
A estudante Ana Clara Barboza não tem o diagnóstico fechado, mas convive há quatro anos com a dificuldade de acessar a memória e resgatar o que foi passado em aulas.
“Tenho que passar muito mais tempo estudando do que uma pessoa normal e, quando chego na prova, dá branco. Me sinto impotente” – conta a menina de 15 anos.

CONTEXTO ESCOLAR

Para Marilene Proença, presidente da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, qualquer dificuldade vivida por estudantes traz consequências para a representação que ele passa a ter sobre si mesmo, suas capacidades e futuro.
“A escolarização malsucedida acarreta um peso sobre a formação do indivíduo” – afirma a professora da USP.
Ela lembra que, até o momento, a discalculia ainda é um tema em discussão entre especialistas e que é preciso cuidado para não generalizar.
Para ela, o acompanhamento de estudantes com alguma dificuldade só tem resultado se ele for compreendido como um todo, sem ‘patologizar’ sua forma de ver o mundo.
“Esse para nós é o caminho do tratamento. Só faz sentido quando entendemos como a criança ou adolescente aprende, qual o seu contexto e história de escolarização, que práticas de ensino foram e estão sendo aplicadas a este estudante” – observa Marilene.
No desenvolvimento escolar, há ainda a participação da família como peça-chave. “Todos na casa têm que estar comprometido com o processo de aprendizado” – conclui.

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depoimento

Ana Clara Barboza, estudante, 15 anos

Eu gosto muito de estudar, mas quando fala de matemática, o coração até bate mais rápido. Essa dificuldade começou a ficar pesada no sexto ano. Hoje, só cheguei ao primeiro ano sem dependência com ajuda de professora particular. Sem ela, fico perdida. Eu travo com exatas, cálculos básicos, tabuada me confunde. Fazer conta, às vezes, é difícil. Acho o cúmulo todo mundo, sem precisar ser um gênio, conseguia fazer as contas e eu, não. Eu esqueço muito rápido. Fico triste porque estudo muito, faço a prova com calma e, mesmo assim, tiro nota baixa.