Independência, autonomia e um apoio amigo

Cão-guia chega aos 11 anos e está às vésperas de ser aposentado

O advogado e administrador de empresas Marcelo Panico, 46 anos, é um exemplo de pessoa com deficiência visual que batalha diariamente por independência e autonomia. Há 13 anos, as veias da retina de Marcelo se romperam e ele perdeu a visão repentinamente devido a uma doença chamada ‘xintoma elástico neovascular’, semelhante a estrias muito comuns na pele e que se manifestam na retina e são diagnosticadas apenas quando já foram ativadas, embora estejam presentes na carga genética. Neste momento, segundo Marcelo, sua vida deu uma reviravolta, tanto que ele passou por um tempo em luto, sem saber o que faria na sua vida pessoal e também profissional.
“O processo de reabilitação acontece quando a pessoa perde a visão no decorrer da vida. E há diferentes formas de retomar as atividades – para cada pessoa há uma forma, um tempo e serviços direcionados e personalizados”, complementa Ika Fleury, presidente do Conselho de curadores da Fundação Dorina.
Após receber técnicas de mobilidade, se sentir seguro, autônomo e independente em sua mobilidade, Marcelo conheceu o instituto IRIS, que trabalha para apoiar e dar assessoria a pessoas cegas que desejam ter um cão-guia. Vale reforçar que para ter um cão-guia, os interessados passam por várias avaliações, tanto psicológicas, sociais e também de mobilidade. “A pessoa cega que não é reabilitada, não aprendeu a se locomover com a bengala longa, não estará apta a guiar um cão-guia. Afinal, o animal acompanha a pessoa seguindo comandos e também deve se sentir seguro com seu condutor”, explica Marcelo, que foi presidente voluntário do IRIS de 2012 a fevereiro de 2016.
Em 2005, Marcelo se inscreveu e aguardou por dois anos por Harley, um labrador preto, que foi o grande companheiro de Marcelo por 9 anos. Porém, ao completar 11 anos de vida e passar por avaliação médica, chegou ao momento da aposentadoria de Harley. Em outubro Marcelo viaja para os Estados Unidos para treinar com um novo cão-guia, um novo ‘anjo de quatro patas’.
“O Harley se tornou uma extensão do meu corpo e o considero muito mais do que um cão-guia. Ele é meu melhor amigo, meu confidente, meus olhos e o ser que me trouxe uma grande melhoria na qualidade de vida. Além de o Harley me propiciar uma maior liberdade, locomoção, segurança e independência, ele me devolveu a inclusão”, conta Marcelo. “Nós formamos uma dupla por 9 anos e confesso que eu sabia que esse momento um dia iria chegar, mas esperava que fosse mais fácil aceitar. Sei que está chegando a hora de ele descansar do trabalho e então, continuarei a dar-lhe todo o suporte necessário para que a transição seja a mais tranquila possível”.
Sobre a expectativa com o novo cão-guia, Marcelo diz: “espero que fisicamente o novo cão-guia seja diferente do Harley, até para não ocorrer comparações, mas espero que ele tenha as mesmas virtudes: equilíbrio para decidir, educação para se comportar nos lugares, como um Lorde Inglês e muita disposição e alegria para brincar nos momentos de sua folga. Porém, espero principalmente a mesma dedicação do meu velho companheiro e sei que isso somente acontecerá após a nossa
convivência”.
Os cães-guias que se aposentam permanecem com seus donos como animais de estimação e é necessário que a família acolha os dois animais, por isso é feita uma avaliação e um acompanhamento caso a pessoa com deficiência visual vá lidar com um novo
cão-guia.