Entrevista com Patrícia Pereira dos Santos

PARALIMPÍADAS

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Paratleta de Indaiatuba foi bronze no revezamento 4x50m em Tóquio

Natural de Vitória, no Espirito Santo, Patrícia Pereira dos Santos, de 43 anos, faz parte da equipe de natação da APIN/Naurú (Associação Paraolímpica de Indaiatuba). A capixaba conquistou a medalha de prata nos Jogos Paralímpicos de Verão de 2016 no Rio de Janeiro, na categoria 4×50 metros livre misto e medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 no revezamento misto 4×50 ao lado de Joana Neves, Daniel Dias e Talisson Glock.

Em 2020, ela se mudou de Vitória (ES), para Indaiatuba (SP). Acompanhe a entrevista exclusiva do Jornal Exemplo® com a paratleta, contando toda a sua trajetória, do início da sua carreira ao pódio em Tóquio 2020.

1. Como foi o início da sua carreira?
R: No início da minha carreira eu comecei no basquete, onde fiquei 12 anos e um dia recebi uma proposta para conhecer o projeto da natação da equipe onde fiquei durante 10 anos, fiquei até 2019. Gostei da magia que a água da ao meu corpo e estou até hoje me aventurando nas águas pelo mundo a fora.

2. Você começou a praticar natação em 2009, são 12 anos de esporte na sua vida, como foi a sensação de ganhar a primeira medalha nos Jogos Paralímpicos em 2016, no Rio de Janeiro, logo dentro do nosso país? Como e quando esse sonho começou?
R: Quando eu comecei a nadar eu ficava imaginando se um dia eu ia conseguir encontrar os meus ídolos, e em algumas das competições que eu fui eu encontrava as pessoas que eu me identificava e só via na televisão. Era aquela “tietagem”, minhas primeiras competições e eu pedindo para tirar foto com eles porque eu era fã. Isso começou em 2012, 2013, onde aguçou minha vontade de melhorar a minha performance e desde lá eu venho buscando minhas metas porque para estar próximo deles, eu teria que estar no nível deles. Ter essa oportunidade de fazer uma Paralimpiada no Brasil, eu fiquei sabendo dois dias antes que eu iria abrir o revezamento. Meu coração disparou, porque eu iria abrir o revezamento para os meus ídolos e era uma mega responsabilidade e um misto de sentimentos que não consigo descrever de tão incrível que foi aquele momento. Dois momentos épicos na minha vida que tive oportunidade de estar, em 2016 no Rio e agora em Tóquio, estar próximo do Daniel, da Joana, estar no encerramento da jornada do Daniel, para mim foi uma oportunidade do universo. Eu não tinha pretensão nenhuma e chegou um momento na minha cabeça de não estar em Tóquio por dificuldades que eu obtive no trajeto até a preparação dos jogos. Estar no Japão foi surreal e sou grata pela oportunidade que tive em Indaiatuba na equipe da APIN/Naurú, que foi essencial e crucial para a minha retomada as atividades e treinamentos.

3. Nos Jogos Paralímpicos, a natação é uma modalidade em que o Brasil desponta entre os favoritos em várias classes, foram 23 medalhas conquistadas em Tóquio. Ao que se deve todo esse destaque da campanha histórica que vimos no Japão?
R: Eu acredito muito na base e nos projetos filantrópicos que muitos Estados proporcionam alguma atividade física, algum conhecimento das modalidades. É muito bom que isso ocorra e que venham muito mais profissionais, todo esse holofote tem que ser pra eles, porque a gente vem de situações sem condições financeiras e sem investimentos. Hoje já se tem oportunidades de captação de recursos e investimentos, mas a base para chegar em uma Seleção Brasileira começa lá trás onde quase ninguém enxerga, mas estamos lá e eu sou fruto disso. Acreditar nos projetos, alimentar as oportunidades gera pessoas e oportunidades como eu tive e estou tendo, não só eu mas muito atletas brasileiros pelo Brasil a fora, nem todo mundo tem a oportunidade de ser bolsista, a gente começa pela paixão pela natação e o resultado é consequência daquilo que a gente se dedica.

4. Qual foi sua principal dificuldade de se adaptar a treinar, nadar em um país com um fuso-horário tão diferente do Brasil? Sentiu falta de algum fator?
R: Foi uma paralimpíada épica por estar no meio de uma pandemia e muitas pessoas estavam com os nervos a flor da pele pois muitos perderam muitas pessoas por esse vírus mortal e tudo isso mostrou um outro lado do ser humano, mais acolhedor, dando mais valor a pequenos gestos e atitudes e que tem tamanho poder de transformação de resgate. Só tenho a ser grata a eles, foram acolhedores, hospitaleiros, prestativos. Eu como brasileira sempre vou sentir falta da alimentação, foi o único ponto negativo, o resto é oportunidade e privilegiados fomos por estar e vivenciar quaisquer que seja a oportunidade. Tenho que parabenizá-los porque conseguiram fazer um espetáculo e nos deixaram a vontade e a prova do resultado que o Brasil trouxe pela atmosfera do ambiente.

5. A medalha de bronze no revezamento 4x50m livre foi a primeira medalha coletiva do Brasil em Tóquio. Porém, apesar da liderança nos primeiros 50m, foi uma disputa de recuperação no final contra a Ucrânia, com uma diferença de 7 centésimos a frente. Qual a importância do trabalho psicológico em momentos decisivos como esse?
R: O esporte brasileiro passou por uma alavanca importante. Este trabalho é essencial em todas as modalidades e hoje temos uma equipe de psicólogos no CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) que foi essencial porque trabalhamos diariamente a parte física, mas se não trabalhar a capacidade mental, muitos desses resultados não teria tido êxito. Este tipo de trabalho tem que continuar pois é fundamental, tudo é um passo a passo e eu tive o privilégio de começar a fazer esse trabalho antes, se eu não tivesse tido um psicólogo eu teria jogado a toalha, eles são aquela válvula de ar que o corpo e a mente precisam para determinadas situações. Tenho que parabenizar os psicólogos porque tiveram grande importância em todo esse processo.

6. Você tem apoio do município de Indaiatuba? Eles ajudam em alguma coisa? Como é o incentivo das entidades esportivas?
R: Eu recebi o convite para voltar as piscinas em novembro de 2020 da equipe da APIN/Naurú. Sempre vi a história da equipe aqui de Indaiatuba, a gente se encontrava sempre nos Campeonatos Brasileiros, sempre observava a forma de como eles conduziam e tinham uma equipe muito grande, eram campeões de tudo. Hoje nós sabemos que tem os projetos voltados para a base. Quando eu cheguei estavam em um pequeno momento turbulento pela extinção de alguns programas que tinham na cidade, então quem tá vindo de fora fica perplexo de vivenciar a situação sem poder fazer nada, justamente no período de preparação para os Jogos Paralímpicos e isso afetou a equipe e um trabalho de 17 anos, foi uma situação delicada. Hoje nós temos uma equipe técnica fantástica, que me fez acreditar que eu ainda era capaz, nosso treinador, preparador e todo o apoio que temos e que permaneça, pois o incentivo e a valorização é muito importante. Esse é o sonho de todo atleta.

7. Qual o seu recado para todas as pessoas que tem o sonho de participar dos Jogos Paralímpicos?
R: Acredite nos que está sendo feito, acredite nas instruções, informações que são passadas. Não vai ser fácil. Sonhar é bom, mas botar ele em ação é o que faz a diferença. Isso começa com disciplina, fazer determinadas abdicações, se você tiver um objetivo e centrar ele, é aquilo que você quer alcançar. É botar o braço na água, absorver as informações e buscar. A gente vai encontrar dificuldades, pra quem é deficiente, vai a limitação física, rotina do dia a dia, preparação, treino, adversidades que você encontra no percorrer do dia a dia de se deslocar de um canto para outro. Isso faz com que nos fortaleça.

Foto: Reuters