Boneco de Neve estreia no Topázio

Filme conta a história da caçada de um assassino

Foto divulgação

Filho de ator e diretor (Hans Alfredson), irmão de outro diretor (Daniel Alfredson), Tomas pertence a uma linhagem do cinema nórdico. Ele próprio já recebeu duas vezes o Guldbagge, o Oscar da Escandinávia, pelos filmes ‘Four Shades of Brown’, em 2004, e ‘Deixa Ela Entrar’, em 2008.
Tomas Alfredson dirige outra adaptação – ‘Boneco de Neve’ baseia-se no romance homônimo de Jo Nesbø. O filme conta a história da caçada que dupla de policiais de Oslo move a um assassino de mulheres que se identifica como ‘Snowman’. Como história e tema não representam necessariamente a mesma coisa, ‘Boneco de Neve’ é sobre pais e filhos. Em todos os casos em que a mãe desaparece e é presumivelmente morta, a questão está no pai, que nunca é o pai biológico das crianças afetadas. Vale para Harry Hole, o policial interpretado por Michael Fassbender, e os demais pais em cena. De cara, Hole/Buraco faz ‘jus’ ao nome. Bêbado e afastado da polícia, ele também é um solitário a quem Rebecca Ferguson se junta profissionalmente.
Como de perto ninguém é normal, todos os personagens têm segredos a esconder. E como se a trama fosse insuficiente – afinal, é só um serial killer – outra das muitas subtramas diz respeito a um milionário que banca a candidatura de Oslo para ser sede dos Jogos Olímpicos de Inverno, e o personagem é interpretado por J.K. Simmons. No melhor estilo Harvey Weinstein, o poderoso Simmons é um ‘womanizer’ que tem até o seu cafetão, um obstetra que possui uma clínica clandestina de abortos e age de forma suspeita para dispersar a atenção do público sobre quem é ‘Snowman’. Quando sua identidade é revelada no desfecho, você vai murmurar consigo – claro, só poderias ser. Quem mais?
‘Boneco de Neve’ é um filme bem-feito, esplendidamente fotografado.
Nenhum estranhamento que o longa seja bem montado – talvez, considerando-se que é sobre um criminoso brutal, que esquarteja suas vítimas, arrancando-lhes pedaços. A chave é sempre o ‘Boneco de Neve’, que já aparece no prólogo e que vai seguir como prenúncio para as demais mortes. Sendo o filme tão bem-feito e interpretado por Fassbender, Charlotte Gainsbourg, Rebecca Ferguson e Val Kilmer – o pobre J.K., infelizmente, não chega a ser um personagem para defender – a questão incômoda que fica com o espectador é relativamente simples.
Sem dúvida que o filme deixa-se ver, mas é o que se chama de ‘unappealing’. Parece desconjuntado e não cria empatia emocional. Por isso, quando alguém, revelada a identidade de ‘Snowman’, pede a Fassbender que vá lá e mate – “Mate, mate, por favor!” – o apelo parece despropositado. Antes disso, Hole, do fundo do buraco em que vive, já se havia queixado ao chefe de polícia da sua síndrome de abstinência por crimes violentos. Oslo seria pacífica demais para o seu gosto. Mas é justamente essa ideia que o filme quer subverter. Esse mundo claro, luminoso, ‘clean’, consegue ser bem ‘sujo’.