A ilha da fantasia – inglaterra

Confira roteiros cinematográficos na mágica Londres

TEXTO: Por Luiz Fernando Toledo/agência ESTADO | FOTOs: divulgação
TEXTO: Por Luiz Fernando Toledo/agência ESTADO | FOTOs: divulgação

Estar na Inglaterra é reconstruir com os sentidos as memórias formadas graças à ficção, no cinema ou na literatura. Uma rua não é só uma passagem: por ali, a aclamada escritora Jane Austen (1775-1817) pode ter passado e se inspirado. Talvez você reconheça o lugar pelos passos de Elizabeth Bennet, a feminista de olhar à frente de seu tempo que protagoniza Orgulho e Preconceito – mas nada como seguir o exemplo da personagem e pisar na lama com seus próprios pés.
Um descuidado pode passar pelo número 221B da Baker Street, endereço do detetive mais famoso de todos os tempos, e acreditar que Sherlock Holmes realmente esteve lá. Elementar, caro leitor: o endereço está repleto de evidências – e os ingleses dificilmente negarão.
Não se confunda: os jovens ingleses de cachecóis coloridos que passam pela estação King’s Cross não são estudantes de Hogwarts, a escola de bruxaria onde estudou Harry Potter (embora pudessem ser). Afinal, parte de suas instalações está logo ali, pertinho de Londres, acessíveis a quem quiser ver. Difícil acreditar que em 2017 se completam 20 anos desde que a saga do bruxinho chegou às livrarias.
Nas páginas ou na telona, a ilha confunde quem ousa desbravá-la, misturando ficção e realidade com a maestria dos grandes escritores.

Na estação de trem King’s Cross há uma loja com produtos do mundo bruxo
Na estação de trem King’s Cross há uma loja com produtos do mundo bruxo

Harry Potter:
a magia dos bastidores
Está escuro. Tudo que se vê é uma grande tela de cinema que acabara de ser desligada. Minutos antes, os rostos de Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger davam as boas-vindas ao estúdio da Warner Bros. em Leavesden, a 1 hora de Londres, onde foram gravadas boa parte das cenas dos oito filmes da série baseados nos livros de J.K. Rowling. A tela sobe e uma grande porta, cheia de detalhes, se destaca. Uma funcionária incentiva as crianças a saírem de suas cadeiras e tocar no objeto mágico. “Estão preparados?”, ela pergunta, enquanto os olhos de meninos e meninas brilham. “Então podem empurrar.”
Em um instante, o que parecia ser uma sala de cinema se transforma no Saguão de Entrada de Hogwarts. É “uau” para tudo quanto é lado – e não só das crianças. À frente estão as mesas gigantes (nos filmes elas parecem maiores, é verdade), as cadeiras, os pratos, os talheres e as estátuas de aves que iluminam a sala com uma chama viva (de mentira, claro). Os figurinos dos professores da escola de bruxaria e do diretor Alvo Dumbledore estão logo no começo do corredor, em manequins. É só o começo.
Não só de efeitos especiais viveu a franquia. Praticamente tudo existe na ‘vida real’: os objetos que se mexem sozinhos, as escadas que se movem (mas só há uma, e não várias), as máscaras dos inúmeros monstros a dar as caras na série. Uma agradável surpresa, por exemplo, é descobrir que um monumento colossal que aparece na obra – Magia é Poder, localizado no Ministério da Magia –, foi construído e em tamanho real. É quase uma Fontana di Trevi do mundo bruxo.
A quantidade de informações visuais é tanta que faz cambalear o mais estável dos fãs da saga. Você dá alguns passos e se depara com uma parede imensa com todos os decretos de Dolores Umbridge enquanto inquisidora do castelo, assim como em cena de A Ordem da Fênix. À direita está o espelho de Ojesed, que, na série, mostra em seu reflexo o desejo mais profundo daquele que o observa. Bem, a não ser que estar ali seja o tal desejo, o produto deve estar quebrado. Mas renderá uma ótima selfie.
É difícil até escolher aonde olhar: trata-se de um universo enorme que cada item remete a um capítulo de algum livro, uma história, uma cena. O Troféu Tribuxo está ao seu dispor, assim como o Cálice de Fogo. E em tamanhos reais.
Dê atenção aos muitos cenários completos que podem ser visitados: a sala de Dumbledore, a casa na Rua dos Alfeneiros, o Nôitibus e até plataforma de trem que leva ao castelo. O mais importante deles, no fim do roteiro, é uma maquete do Castelo de Hogwarts, produzida por dezenas de artistas. É ele que aparece nas filmagens aéreas.
Hora de gastar. O fim do passeio traz uma surpresa e, ao mesmo tempo, um perigo: a megaloja de produtos oficiais da franquia. Há doces, como os sapos de chocolate e feijões de todos os sabores (e são muitos sabores mesmo, inclusive os de gosto horrível), bonecos dos personagens, estátuas, roupas e varinhas. Bichos de pelúcia se vê aos montes: da aranha Aragogue ao cão de três cabeças Fofo. O problema, assim como tudo na Grã-Bretanha, está nos preços. Difícil encontrar algum por menos de R$ 60. Não deixe de ver as Relíquias da Morte, idênticas às do filme.
Para as crianças, há mais opções de entretenimento. É possível, por exemplo, participar de uma aula de feitiços ou aprender a fazer uma vassoura levitar. O ponto alto da diversão é subir em uma vassoura e, com apoio de um software 3D, voar pelas ruas de Londres. Mas o preço para adquirir o arquivo pode ultrapassar £ 40 (R$ 155).
Outros passeios. O universo de Harry Potter não se restringe ao estúdio. Há passeios guiados pelas ruas de Londres, e muitos pontos citados nos livros de J.K. Rowling podem ser visitados por conta própria. Mas um guia ajuda a revelar curiosidades – o Harry Potter Walking Tour (bit.ly/potterwalk; £ 12 ou R$ 46) leva a cenários como a locação do Banco de Gringotes e do Beco Diagonal. Na estação de trem King’s Cross há uma loja com produtos do mundo bruxo e a reprodução da plataforma 9 ¾, onde turistas fazem fila para tirar foto cruzando a parede com seu carrinho de bagagens, com gaiola para coruja e tudo.

A Baker Street não é a mesma e tem até McDonald’s, mas o charme está  no número 221B
A Baker Street não é a mesma e tem até McDonald’s, mas o charme está no número 221B

DICAS
Sobre o tour: o ingresso adulto custa £ 37 (R$ 142); compre em wbstudiotour.co.uk. É possível reservar o tíquete já com o ônibus incluso a partir de Londres (£ 69 ou R$ 266); veja outras formas de chegar no site. São cerca de 3 horas de passeio – não deixe de provar a cerveja amanteigada (na verdade, um refrigerante) no meio do trajeto.
Novidade: a área da Floresta Proibida acaba de ser inaugurada – encontre a aranha Aragogue, o Hipogrifo e outras criaturas fantásticas por lá.
Peça: o espetáculo Harry Potter and The Cursed Child, baseado no último livro da série, está em cartaz no Palace Theatre. Ingressos a partir de £ 42,50 (R$ 165); harrypottertheplay.com.

Em Londres, investigando
Sherlock Holmes
Você pode nem estar procurando, mas Sherlock Holmes estará em algum lugar no centro de Londres. São tantas as referências aos livros, séries e filmes da saga que fica difícil ignorar as pistas. Um bom começo é aderir ao tour a pé (bit.ly/sherlockape; £12 ou R$ 46), que começa em um dos pontos mais movimentados e agitados de Londres, Picadilly Circus. Não será difícil encontrar o guia, que terá o símbolo máximo do detetive na cabeça: o chapéu.
É onde hoje está o Lyceum Theatre, no centro nobre da cidade, que a primeira peça baseada nos romances de Arthur Conan Doyle foi apresentada. A adaptação do livro, de William Gillette, traz uma surpresa: seu elenco tinha a participação de um ator de 13 anos cujo nome viria a ser conhecido mundialmente: Charlie Chaplin. A bela arquitetura barroca monumental não é a única coisa para se ver, mas também seus espetáculos – no momento, está em cartaz o musical O Rei Leão.
Ter assistido à série do detetive feita pela BBC (e disponível no Net-flix) deixará o roteiro mais interessante. Na Trafalgar Square, onde está a National Gallery, você verá exatamente o mesmo cenário em que os heróis Sherlock e Dr. Watson caminham em busca de um pichador que possa ajudá-los a resolver um mistério. Assista ao episódio (The Blind Banker) depois de passar por lá: a cena não teve figurantes contratados, e as pessoas olham curiosas para as câmeras.
A Somerset House, palácio com vista para o Rio Tâmisa, é um dos pontos mais utilizados por cineastas. Já foi cenário para filmes de James Bond (como O Amanhã Nunca Morre) e Jackie Chan (Bater ou Correr em Londres) e, claro, para uma das versões cinematográficas de Sherlock Holmes, sob direção de Guy Ritchie.
Pub. Uma das torturas do tour é passar pelo Sherlock Holmes Pub (10 Northumberland St.) e não entrar. Mas não se preocupe: do ponto final do passeio, a Somerset House, é um pulo. O local é dividido em dois andares: no térreo está o bar e, acima, um restaurante. O espaço é decorado com páginas de revistas e cartazes com tudo sobre o detetive. Só não faça como este repórter, que fez uma fila se formar ao observar os adereços nas escadas.
Na parte de cima há uma sala que simula o que seria o escritório de Holmes, mas não é possível se aproximar. Fique tranquilo: você terá a oportunidade no museu. Aproveite para pedir o clássico fish and chips (peixe com fritas), £ 14,45 (R$ 56) em uma porção bem servida.
Nenhum fã que se preze pode partir sem visitar a casa onde Sherlock viveu entre 1881 e 1904, segundo os contos de Arthur Conan Doyle. Ok, a Baker Street não é a mesma e tem até McDonald’s, mas o charme está lá. Esqueça as lojas caça-turistas e parta direto para o número que você já sabe: 221B.
Ali funciona um museu (sherlock-holmes.co.uk) dedicado à saga do detetive – a fila é grande e a espera pode levar meia hora. Compre os ingressos (£ 15; R$ 58) na lojinha, mas cuidado. O local pode ser um pesadelo de gastos, com praticamente tudo ligado ao detetive: livros, bonecos, chapéus, miniaturas, pelúcia, DVDs e pôsteres.
Não fique decepcionado, mas Holmes nunca morou no local – nem existiu, embora há quem diga o contrário. O que se sabe é que, antes de abrigar o museu, nos anos 1930, o endereço era a sede do banco Abbey National. E, embora resolver mistérios não fosse exatamente a habilidade dos proprietários, eles receberam, por muitos anos, cartas endereçadas ao detetive.
Na entrada, o próprio Dr. Watson recepciona os visitantes e aceita, de bom grado, posar para fotos. A visita não dura mais que meia hora: o grande barato é ver objetos e cenas feitas com bonecos que remetem aos livros. Uma equipe também está de prontidão para tirar dúvidas, embora não haja muita explicação para os “não iniciados” na saga. Não saia sem pegar o kit cachimbo-chapéu e posar em frente à lareira para uma foto – dizer o clichê “elementar, meu caro Watson” é opcional.

DICAS
Internet: dependendo do tempo que você ficar na Inglaterra, invista em um chip de celular (peça por um SIM card). Paguei £40 (R$ 155) para ter acesso à internet rápida e sem limites– inclusive para assistir vídeos.
Transporte: Ter um Oyster Card, o Bilhete Único londrino, é fundamental para se locomover na cidade (passe na catraca na entrada e na saída). Compre nos centros de visitantes; mais em bit.ly/oysterlondres.