Volta às aulas sem estresse

Regularizar os horários das crianças é o desafio da casa

texto: Luís Guilherme Julião/infoglobo E Kátia Nunes e Diana Siquelero | foto: divulgação
texto: Luís Guilherme Julião/infoglobo E Kátia Nunes e Diana Siquelero | foto: divulgação

Na volta às aulas, famílias começam a se preparar para a rotina das crianças. Especialistas dão dicas para que este não seja um evento traumático para pais e filhos. Envolver os pequenos no planejamento, como a compra e organização do material escolar, por exemplo, pode tornar o retorno melhor, diz Isabella Cunha, psicopedagoga do Centro Educacional da Lagoa.
“Os pais também devem observar se, depois do início das aulas, os filhos ficam apáticos ou afastados, o que pode ser um sinal de não adaptação. Eles devem conversar com a criança e com os professores” – diz Cunha.
A publicitária Cinthya Magdala Torres já adota a tática da transição gradual com as filhas Maria Fernanda, de 10 anos, e Maria Antônia, de 5. Quando as aulas começarem, as meninas terão que almoçar às 11h, mais cedo que nas férias, porque entram na escola ao meio-dia. Por isso, ela já vai mudando progressivamente a rotina e preparando a família.
“Nem sempre temos disponibilidade para viajar nas férias. Por isso, acabo deixando elas dormirem até mais tarde e liberando uma alimentação menos regrada, como pizza, por exemplo. Não dá para ser ‘general’ o ano inteiro “- brinca.
Para incentivar uma alimentação saudável, a nutricionista da clínica Tostes, Bruna Lyrio, recomenda variar nos lanches. Ela sugere combinar iogurte, água de coco ou suco natural com pão integral recheado com queijo Minas ou pastas de atum ou frango e uma fatia de bolo caseiro ou fruta.
“É melhor que a água de coco seja sem conservantes e sejam evitadas as bisnaguinhas, porque aumentam muito a taxa de glicose. Pães integrais evitam a prisão de ventre” – explica
Carolina Braga, professora da Educação Infantil do Colégio Integral Alphaville lembra que esta fase é bastante difícil, mas que normalmente passa tão rápido quanto a intensidade que veio. “Entra ano, sai ano, as professoras lidam com essa questão. Entre um choro de criança aqui e um choro de mãe ali, procuramos levar tranquilidade, agir com transparência e conquistar a confiança para reduzir a ansiedade, tão natural e compreensiva neste momento”.

Na própria pele
A psicóloga Carolina Miguel Baracioli Bócoli experimentou essa inquietação com seus três meninos, Kauan, de 9 anos, Enzo, de 5, e Lucca, de 2 aninhos, e não é porque já estava ’escolada’ que tirou de letra quando chegou a hora do segundo e do terceiro filho. “Cada um deles viveu essa fase diferente e ao ouvir o choro eu me culpava e refletia, será que estou fazendo certo o meu papel de mãe? Mas, por outro lado, é um sinal de que a criança está crescendo com saúde e de que estamos criando os filhos para se virarem no mundo, que é como deve ser”, pondera.
A mãe salienta que o respeito da escola em entender que cada família tem o seu período de adaptação é fundamental. “O colégio não fazer pressão, permitir que fiquemos com a criança e nos afastemos gradativamente nos assegura que fizemos a escolha certa pela instituição”, observa a psicóloga.

Dicas para passar melhor pela adaptação

Por Carolina Braga professora da Educação Infantil do Colégio Integral Alphaville

Como a escola deve proceder quanto à adaptação escolar, tanto em relação à criança, quanto à família?
“Em relação à criança, é importante que a escola permita que elas criem experiências positivas durante a adaptação escolar, que se sintam valorizadas e especiais. Os professores, por exemplo, podem se preparar antes do início das aulas, aprendendo o nome dos alunos novos: a criança se sente única e especial quando chamada pelo nome. É importante também que a escola mostre e deixe que as crianças experimentem todas as instalações do ambiente escolar, explicando como tudo funciona. Isso deixa a criança à vontade no espaço e faz com que ela se sinta mais segura naquele novo ambiente.
Em relação à família, a escola deve estar sempre à disposição para tirar as eventuais dúvidas que possam surgir durante o processo de adaptação. Manter os pais informados do comportamento da criança também é um dever de extrema importância e é papel que deve ser exercido pela escola.
O que nunca se pode fazer neste processo, tanto a escola, quanto os pais?
Não é recomendado que os pais saiam escondido da escola, sem se despedir da criança, pois isso causa muita insegurança. Por outro lado, também não é recomendado que a despedida seja muito longa. O ideal é ser breve na despedida para não estender o momento de separação, mas sem deixar de ser afetuoso. Diga tchau, abrace e que voltará logo para buscá-la. Não é fácil fingir que não estamos nos importando com o choro ou com o pedido para que a gente não vá embora, mas é importante mostrar que confiamos na escola e na professora. Desistir de ir embora porque a criança começou a chorar passará a ideia de que realmente a escola não é um bom lugar e assim, a adaptação será muito mais difícil e traumática para todos.
Existe uma média de tempo esperada para adaptação da criança?
Algumas crianças se adaptam rapidamente. Outras, especialmente as que estão entrando na escola pela primeira vez, muitas vezes precisam de algumas semanas. No entanto, não existe uma regra. Cada criança tem um tempo para se adaptar a situações novas e isso precisa ser respeitado. Mas em média, salvo alguns casos específicos, é esperado que a criança após o primeiro mês de aula já esteja à vontade e bem adaptada ao grupo e à nova professora.
Que dicas você dá para as famílias que estão nesta fase?
Estar segura com a escolha da escola e confiar nos profissionais que cuidarão da criança são os primeiros passos para uma adaptação de sucesso. O diálogo também é muito importante neste momento. Tire todas as dúvidas e não exulte em procurar a equipe pedagógica caso não esteja se sentindo confortável com qualquer situação. Tente também conversar o máximo possível com as crianças, explicar o que vai acontecer e prepará-las para a nova rotina. Evite criar falsas expectativas e conte como funciona a escola e como será a convivência com outras pessoas. À medida que a criança sente que os pais estão felizes e seguros, consequentemente ela também se sentirá assim.
A adaptação escolar representa a estreia da criança na escola ou qualquer transição que o aluno passe também é considerada adaptação escolar?
Qualquer transição que aconteça dentro da escola que modifique a rotina do grupo é considerada adaptação escolar. A adaptação mais comum é a entrada na escola, mas algumas crianças podem precisar de ajuda também para se adaptar a chegada de um colega novo na turma no meio do ano ou para iniciar o uso de um material pela primeira vez. O mais importante é estar sempre atento às necessidades de cada criança.