Uso da ‘pílula do câncer’ é polêmico

Fosfoetanolamina não foi testada em pessoas

10---Câncer

Após o Senado aprovar o Projeto de Lei que autoriza a prescrição e o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, o nome da substância foi um dos termos mais buscados na internet ontem.
Comemorada pelos pacientes da doença, que veem na cápsula uma esperança de cura, a decisão dos parlamentares foi criticada por alguns médicos, já que o composto nunca foi testado em humanos. Para entrar em vigor, a medida precisa ser sancionada pela presidente Dilma Rousseff.
A fosfoetanolamina
não é registrada na Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O texto do Projeto de Lei afirma que a autorização do uso da pílula – desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP) – se dá em caráter “excepcional, enquanto estiverem em curso estudos clínicos acerca dessa substância”. Dependendo dos resultados sobre a eficácia, deverá ser exigido registro ou a utilização da cápsula será proibida.
O primeiro estudo oficial sobre a fosfoetanolamina sintética, realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e divulgado na última sexta-feira, sugere baixo potencial da substância para combater tumores.
“Sabe-se que já foram feitos alguns testes mais elementares com células e outra pequena pesquisa com animais. Mas mesmo esses dados pré-clínicos são insuficientes. Testar a substância em pessoas envolve muito mais complexidade”, diz o oncologista Gustavo dos Santos Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. É uma pílula que se diz não ter efeitos colaterais e funcionar para todo tipo de câncer. Se Deus fez algum remédio assim, guardou para ele. Não existe isso. A fosfoetanolamina pode até ter resultado positivo, mas precisa ser submetida a estudos que validem isso.

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Os defensores da ‘pílula do câncer’ são pacientes que já a tomaram e afirmam que o efeito foi benéfico. Baseada nos relatos, a Justiça autorizou a USP a distribuir a cápsula a pessoas que vinham movendo ações para ter acesso a ela. Já a crítica dos médicos vai ao fato de o Senado ter invertido a ordem natural de uma droga ser testada antes de ter produção, distribuição e uso permitidos. “Vamos virar cobaias”, afirma Fernandes.
Em comunicado, a USP reiterou que a fosfoetanolamina só foi estudada como produto químico, não como remédio. A Anvisa, em nota, afirmou que é “inusitado” uma substância criada há 20 anos nunca ter tido pedido de registro.