Rio de Janeiro – Leve na esportiva

As praias da Região dos Lagos, estão entre as prediletas dos brasileiros

TEXTO: Por Bruna Toni/agência estado | FOTOs: divulgação
TEXTO: Por Bruna Toni/agência estado | FOTOs: divulgação

E se a canoa virar? Esse era meu pensamento nas primeiras remadas pela Lagoa Araruama, em Cabo Frio. Eu era uma estreante, e não podia dizer que os outros cinco ocupantes da charmosa canoa havaiana estavam exigindo muito da minha força – era mais uma questão de coordenação motora. Parece pouca coisa, mas ouvir o remador do meio gritar ‘hip’,
indicando que era hora de mudar a braçada de lado, não foi tão simples assim.
Distante 156 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, Cabo Frio tem explorado mais sua natureza e boa infraestrutura para tentar atrair turistas tanto quanto a vizinha Búzios, quinta cidade mais visitada no país segundo o Ministério do Turismo. E é justamente na diversidade de opções para praticar esportes que a filha mais velha do trio que compõe a Região dos Lagos se faz singular. A cidade é, inclusive, o berço das atuais campeãs nacionais na modalidade C6 da canoagem, a mesma em que me arrisquei.
Cabo Frio, Armação dos Búzios e Arraial do Cabo são mesmo diferentes, apesar de terem em comum o mar esverdeado sempre gelado e a pesca como atividade principal, ao lado do turismo. Consequências do fenômeno da ressurgência, que traz as águas mais frias e profundas, ricas em nutrientes, para a superfície.
Três perfis. Enquanto Búzios construiu sua imagem como destino badalado e muitas vezes caro, com lojas famosas, celebridades e hospedagens de luxo, Arraial procura ganhar adeptos pelo lado oposto: o rústico.
Ideal para quem procura natureza na sua forma mais livre, Arraial faz jus à fama de ser o cartão-postal da Região dos Lagos. Suas águas tranquilas, de um degradê entre o verde e o azul, e suas áreas protegidas são o paraíso para mergulhadores e para quem quer paz e economia.
Já Cabo Frio, a sétima cidade fundada no Brasil, lá em 1615, tem a vantagem da maturidade: quer manter a simplicidade e o lado despojado de Arraial, sem deixar de oferecer a estrutura e a gastronomia do nível de Búzios.
Quer uma dica? Visite as três e aproveite, de uma vez ou aos poucos, já que são tão próximas à capital fluminense, o melhor de cada uma delas.
‘Hip’, e lá se vão três remadas da direita para a esquerda. E se a canoa não virar, como não virou, você não só chegará lá, como verá um Rio de Janeiro ainda mais encantador.

AO AR LIVRE, ÁGUAS FRIAS
E TRILHA PANORÂMICA
Lugares para desfilar biquínis e maiôs não faltam em Cabo Frio. São 14 praias com paisagens e públicos variados e um ponto em comum: o mar gelado.
Enquanto as praias do Foguete e das Dunas atraem praticantes do surfe à vela, a Praia Brava recebe adeptos do naturismo, e a Peró abraça os orgulhosamente preguiçosos. Quem não gosta, afinal, de sentar em um quiosque à beira-mar para degustar frutos do mar e uma boa cerveja?
A Praia do Peró este ano ganhou aval para tentar conquistar o certificado internacional de sustentabilidade Bandeira Azul – só seis praias no país têm tal reconhecimento. Aqui também se faz um dos passeios mais aventureiros de Cabo Frio. Por uma trilha no Morro da Vigia (ou do pau-brasil, nos tempos em que a árvore existia no local), é possível ter uma vista em 360 graus dos contornos naturais da Região dos Lagos.
A trilha é organizada pelo Circuito Peró Mais, um projeto com alunos da Escola Municipal Evaldo Sales, liderado pelo turismólogo e ambientalista Paulo Bayer e a coordenadora da escola, Priscila Ramalho. Com conhecimentos de fazer inveja a qualquer geógrafo, as jovens – naquela ocasião, sem um só garoto – nos guiaram pela trilha das Pitangueiras até a Gruta do Sargento e a Praia das Conchas, explicando cada formação rochosa, ilha isolada, vegetação curiosa, como cactos de cabeça branca e casuarinas finas.
A caminhada de três horas sai por R$ 48, incluindo camiseta, água e almoço. Para fechar, o grupo ainda apresenta a centenária Barraca do Jamil, que resistiu às pancadas da água do mar e se tornou ponto turístico. Mariana Liriel, de 14 anos, aspirante à turismóloga, conta: “uma cena da (novela) Avenida Brasil foi gravada aqui”.
Antes de o dia acabar, um passeio de barco pelo Canal do Itajuru poderá render um dos retratos mais bonitos da viagem. Em meio ao manguezal, uma infinidade de garças fazem das ilhotas do Parque Estadual Costa do Sol seu dormitório. O evento pinta o céu de branco e rosa sempre no mesmo horário, todo santo dia. Ali, o pôr do sol também é majestoso.
Agências como a Guga Tour fazem o roteiro de 1 hora (R$ 25). Indo até a Ilha do Japonês, prolonga-se o passeio para 1h30 (R$ 40).

MODALIDADES ESPORTIVAS
Canoa havaiana: Força nos braços e bastante coordenação motora. Pronto, é só remar em sincronia com os demais ocupantes da canoa havaiana, ou polinésia, uma referência ao país onde a embarcação foi criada, há mais de 3 mil anos. Principiantes levam alguns minutos para fazer a canoa se deslocar de fato pelas águas da Lagoa Araruama. A agência The Trip leva interessados nas remadas em uma canoa de 14 metros em meio à singular caatinga fluminense, com direito à parada na Ilha do Japonês. Se a água estiver clara, é possível ver tartarugas. O passeio de canoa custa a partir de R$ 30 e dá para incluir no roteiro trilha e bike (R$ 120).
Náuticos: A parceria entre água e ventania proporciona bons momentos aos adeptos do kitesurfe, do
windsurfe e da vela. O kite é o queridinho da região, com escolas que oferecem cursos de uma hora a uma semana. Na Forte Kitesurf (fortekitesurf.com br), os preços vão de R$ 230 (curso avulso de 1 hora) a R$ 1,8 mil (dez aulas, cada uma com 2 horas) e há um intensivão de três dias para quem já tem alguma noção do esporte (R$ 1,1 mil). Já na AKS, os cursos vão de R$ 400 (2 horas) a R$ 3 mil (horas ilimitadas). Para os mais experientes, as praias do Foguete, Peró e Pontal do Peró são ideais em Cabo Frio.
Surfe: De maio a outubro, melhor época para altas ondas em Cabo Frio, as praias Brava, Aquárius, Foguete, Peró e do Forte são tomadas por surfistas. A cidade se orgulha tanto de ser o berço de Victor Ribas, pioneiro e melhor brasileiro antes de Gabriel Medina na modalidade, que fez até uma estátua dele ao lado da do ídolo do futebol cabofriense Leonardo – ambas estão na moderna Praça das Águas, na orla da Praia do Forte. Mesmo se você não curtir muito essa história de deslizar sobre o mar, vale a pena a visita à coleção impressionante de Telmo Moares, um surfista de 63 anos dono do melhor estilo carioca gente boa. Apaixonado pelo esporte, montou o que, segundo ele, é o maior acervo de pranchas do mundo – são 821, 161 expostas. Há raridades como um modelo de 1920 e outro de 1967 produzido na primeira fábrica brasileira de pranchas, instalada em São Conrado. O Museu Internacional do Surf fica dentro do Shoping Park Lagos (R$ 10).
Sandboard: Tanto quanto um lugar de água, Cabo Frio é o lugar da prancha, seja sobre ondas ou sobre dunas. Nas areias o sandboard garante momentos de adrenalina, e nem exige dunas enormes – qualquer montinho serve. ‘É o snow do verão’, explica o atleta cabofriense Rafael Marendino, praticante da modalidade e um dos maiores incentivadores do esporte na região. Privilegiada pela geografia de dunas, a cidade tem um cantinho ideal para quem quer se arriscar: fica no Parque Estadual da Costa do Sol.
Vôlei de praia: As areias da Praia do Forte ficam iluminadas pela luz do sol mesmo quando o fim da tarde é frio como o que nos recepcionou. Mas a sensação gelada era apenas para quem estava do lado de fora da arena montada na altura da Praça das Águas para o Circuito Brasileiro do Vôlei de Praia. Profissionalmente, a cidade recebe as disputas da categoria Sub-23 do nacional. Mas, para se divertir, meninos e meninas aproveitam diariamente as redes mais simples e democráticas fincadas na extensa faixa de areia do lado de fora.
Skate e patins: Pertinho da arena do vôlei de praia, na altura da Praça das Águas, foi instalada em 2014 uma enorme pista de skate, de padrão internacional, onde idade e gênero não fazem a menor diferença: todo mundo aproveita para fazer suas manobras, estabanadas ou radicais, em uma área de quase 1,7 mil metros quadrados.

BÚZIOS: FAMA MAIS QUE JUSTIFICADA
Enquanto Brigitte Bardot observa o mar acomodada em um banco da orla batizada com seu nome, Juscelino Kubitschek faz o mesmo um pouco adiante, na Praia da Armação, sorrindo a três pescadores com um aceno. Coisa de político.
As esculturas são algumas das muitas espalhadas por toda Armação de Búzios, nome completo desse canto do litoral fluminense que prefere a informalidade do nome encurtado, Búzios. A Orla Bardot compõe com a Rua das Pedras, ali perto, o epicentro do turismo na cidade. O agito noturno dos bares e baladas, as lojas de grife, o ver e ser visto, a gastronomia: tem tudo isso por ali.
Em relação à comida, são quase 300 restaurantes, muitos deles famosos e com preços bem salgados. Mas há opções econômicas, caso da generosa fatia de bolo de banana com chocolate do Café Maré Mansa (Travessa Oscar Lopes Campos, 4), por R$ 12. Ou do festival gastronômico que a cidade faz toda primeira quinzena de julho, com pratos de bons cozinheiros a preços em conta. Na edição mais recente, custaram R$ 15 (entradas) e R$ 20
(principais).
Entre as opções sofisticadas, o 74 Restaurant é novidade. Inaugurado no fim de 2015 no hotel-butique Casas Brancas, une as cozinhas regional e mediterrânea em um belo salão-terraço. Reserve.
Com cerca de 20 praias, difícil é escolher onde estender a canga. Nossa dica: peça informações na pousada e visite no máximo duas por dia – ou você perderá a chance de curtir um dos trechos mais bonitos e de mar mais calmo do país.
Para escapar do agito, a Ponta do Criminoso, entre as praias João Fernandes e Brava, recebe mergulhadores e pescadores e guarda uma vista que ainda lembra aquela Armação dos Búzios selvagem que atraiu Brigitte Bardot.

Cabo frio é o lugar da prancha onde nas areias, o sandboard garante adrenalina
Cabo frio é o lugar da prancha onde nas areias, o sandboard garante adrenalina