Quando a pílula é o perigo

Método contraceptivo aumenta o risco da trombose

texto: Elisa Clavery  | foto: REPRODUÇÃO/fACEBOOK
texto: Elisa Clavery | foto: REPRODUÇÃO/fACEBOOK

Foram cinco anos tomando anticoncepcional, indo a três ginecologistas diferentes: nenhum fez o alerta sobre o risco de trombose. Na última semana, o relato da universitária Juliana Bardella, de 22 anos, foi compartilhado mais de 227 mil vezes no Facebook e levantou o debate sobre os riscos da pílula. Sua dor de cabeça era sinal de trombose venosa cerebral – que pode causar sequelas irreparáveis e até a morte. O método contraceptivo, dizem os médicos, de fato facilita a formação de coágulos no sangue, gerando a doença.
Todo anticoncepcional oral tem potencial trombogênico. Aqueles com estrogênio, principalmente, podem causar a hipercoagulabilidade no sangue – explica Marcos Areas, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio.
Segundo o médico, a trombose pode ocorrer em qualquer local onde circula sangue, e a forma mais comum é a trombose venosa profunda dos membros inferiores: “o maior risco de trombose na perna é a embolia pulmonar, quando um coágulo vai para o pulmão, podendo ser fatal.”
Antes de prescrever a pílula, é preciso investigar o histórico clínico da mulher.
“Deve-se saber se a mulher tem alguém na família com trombose, se tem problemas vasculares, varizes, é fumante ou obesa,” – esclarece João Bosco Meziara, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, que acrescenta: “os benefícios da pílula, porém, são maiores que os malefícios.”

PAULA AZEVEDO
Estudante, 21 anos, teve trombose aos 19

Tenho uma doença que facilita a trombose e o anticoncepcional foi o estopim. Não foi pedido nenhum exame quando fui à ginecologista, e comecei a tomá-lo. Um mês depois, começaram dores fortes na perna esquerda, bem lá dentro. Fui em um ortopedista achando que era dor muscular, ele passou anti-inflamatório e compressa. Passei cinco meses assim, com a dor piorando. Começou a doer a perna direita, já não conseguia mais dobrar. Até que acordei com uma faixa roxa na perna. Fomos correndo a um angiologista, e, da consulta, ele me passou um exame, e eu fui no mesmo dia para o hospital. Era trombose. Ela foi subindo até as veias ilíacas no intestino, quatro dedos abaixo do pulmão. Não posso mais comer nada verde, por conter vitamina K, que afina o sangue, beber, comer chocolate ou qualquer coisa que tenha cafeína. Tomo anticoagulante e faço exame de sangue toda semana para verificar se está fazendo efeito.

ENTENDA A DOENÇA

O QUE É: O sangue coagula e pode tampar o vaso. Normalmente, ocorre na veia, já que o fluxo de sangue venoso é mais lento.

FATORES DE RISCOS: História prévia de trombose, casos na família, idade avançada, imobilização, cirurgias, gravidez, pós-parto e trombofilia (doenças que aumentam a coagulação).

SINAIS: Embora possa ser assintomática, sinais mais comuns são dor, inchaço, sensação de calor, veias dilatadas e pele endurecida. Quando no cérebro, pode causar tonturas e enxaquecas.

TRATAMENTO: É realizado com uso de anticoagulantes. Em casos graves, é feita cirurgia para desobstrução das veias.

O OUTRO LADO: Se prescritos corretamente, as pílulas melhoram a TPM, evitam as cólicas menstruais, diminuem o sangramento e riscos de anemia e previnem contra endometriose e cistos no ovário, dizem os médicos.