Objeto de desejo – Noronha

Um paraíso brasileiro no estado de Pernambuco

Além do Ilha Tour, outro feito imperdível para quem vai ficar pouco tempo em Fernando de Noronha é o passeio de barco
Além do Ilha Tour, outro feito imperdível para quem vai ficar pouco tempo em Fernando de Noronha é o passeio de barco

Se ao avistar estas terras Américo Vespúcio proclamou que “o paraíso é aqui”, quem sou eu para discordar? Pelos idos de 1503 já planavam atobás e fragatas pelas 20 ilhas e ilhotas do arquipélago vulcânico encravado a 540 quilômetros da costa. Golfinhos serpenteavam, tubarões farejavam cardumes de sardinhas sob as arrebentações e tartarugas punham seus ovos em praias que sequer tinham nome. Tudo isso continua a se passar diariamente, mas, hoje, este lugar é destino cobiçado por turistas. Difícil explicar o que só Fernando de Noronha tem.
Noronha é sonho, e sonho não tem lógica, tem intensidade. Na vista do pôr do sol no mirante do Boldró, no cheiro de maresia, no ruído das aves, no sabor do peixe na folha de bananeira, na textura das areias. Intensa na história de seus dez fortes, hoje em ruínas, e na delicada Vila dos Remédios. Ah, e no bolso. Assim como a energia pulsante da ilha, os preços têm um coeficiente multiplicador – e talvez por isso mesmo se mantenha ilhada no oceano idílico das férias do brasileiro.
A ilha é cara, mas há alguma lógica. Além de poucas verduras, nada é produzido por lá. Do iogurte do café da manhã ao combustível do barco de mergulho, tudo navega por três dias ou voa do Recife e de Natal até o aeroporto mais oriental do país.
Nos últimos anos, a EcoNoronha, concessionária que administra a área do parque nacional, inaugurou os postos de informação e controle (PICs) e uma série de trilhas acessíveis, que permitem o acesso de cadeirantes aos mirantes do Sancho, da Baía dos Golfinhos e dos Porcos. Na praia do Sueste, há cadeiras adaptadas para que todos possam entrar na água com segurança.

Planeje-se
Qualquer amante da tríade areia, sol e mar perceberá que chegou no topo da cadeia alimentar praieira. Sancho foi eleita por internautas do TripAdvisor como a praia mais bonita do Brasil e do mundo em 2014. Mas, de certa forma, é injusto ranquear a beleza desta e de outras joias, como Praia do Leão, Cacimba do Padre e Baía dos Porcos, com seu visual clichê de Noronha. O morro Dois Irmãos emoldura postagens de Instagram dos felizardos que estão ali agora, enquanto você lê estas linhas.
Com planejamento e algumas economias dá para morder um naco de paraíso, como fizeram 76 mil visitantes em 2014. Para não ir à bancarrota, evite a alta temporada, de julho a março. Dezenas de pousadas, restaurantes e operadoras participam da campanha Mais Noronha e oferecem descontos de até 30% na baixa, entre abril e junho (a lista está em noronha.pe.gov.br). Tudo mais acessível, até passagens aéreas – aos fins de semana, é possível encontrar promoções com ida e volta de São Paulo por cerca de R$ 1 mil.
O que não é negociável são os valores do ingresso do Parque Nacional Marinho (R$ 75 para brasileiros e R$ 150 para estrangeiros) e a taxa de preservação ambiental, R$ 298,84 por uma semana – se ousar passar um mês, a conta chega a R$ 3.976,50.
A baixa temporada tem outras vantagens: menos pessoas circulando e grandes chances de ter uma praia só para você. As paisagens estão verdes, os melhores pontos de mergulho do Mar de Fora, como as Pedras Secas, ganham ótima visibilidade. E a cachoeira de 12 metros de altura na Praia do Sancho pode aparecer após a chuva. Igualmente curioso é descobrir que Fernão de Noronha, financiador da expedição de 1503 e dono da capitania hereditária, nunca esteve na ilha que leva seu nome. Não sabe o que perdeu.

PASSEIOS
Mergulho, trilha, pôr do sol… há muito o que fazer em Fernando de Noronha.
Por mais que ‘lagartixar’ ao sol seja a alma de uma viagem de praia – ainda mais em uma espécie de Disneylândia litorânea -, Noronha tem um leque de atrações que vão além da preguiça nas areias. Como dois terços da ilha estão em área protegida, para acessar a maior parte delas é necessário apresentar o comprovante de entrada no parque nacional, à venda na sede do ICMBio, no Boldró, ou na Praça Flamboyant, na Vila dos Remédios (R$ 75 para brasileiros e R$ 150 para estrangeiros).
Ilha Tour: o mais popular dos passeios de Noronha é também o mais necessário e um dos mais acessíveis. Por uma média de R$ 130 (sem almoço) por pessoa, um guia o busca logo cedo em um 4X4, em sua pousada, com destino às principais praias. Sem dúvida, o melhor jeito de ter uma ideia geral da ilha e das distâncias para escolher seu cantinho preferido – e retornar com calma. No roteiro, Sancho, Baía dos Porcos, Leão e Sueste, com parada para banhos e snorkeling. Desde R$ 100 na Costa Blue; R$ 130 na Atalaia.
Mergulho: sem exageros, Noronha é a meca brasileira do mergulho. O batismo permite que não iniciados desçam a até 13 metros de profundidade, por cerca de 30 minutos, em pontos abrigados como Ressurreta e Ilha do Meio (em média R$ 400, com um mergulho). Já os iniciados têm muito o que aproveitar, em pontos como Pedras Secas, Trinta Réis e Caverna da Sapata. As principais operadoras são Atlantis, Noronha Divers e Águas Claras.
Barco: tudo ganha novos contornos no tour que zarpa do Porto de Santo Antônio logo cedo e passa pelas ilhas Rasa, Sela Gineta e do Meio. Navegando apenas pelo Mar de Dentro, segue até a Ponta da Sapata, um dos extremos da ilha, passando pelas praias do Boldró, do Bode, do Americano e Baía dos Porcos. Com um tico de sorte avista-se golfinhos-rotadores. Na volta, parada para banho e snorkeling no Sancho. Muitas operadoras servem almoços a bordo, geralmente churrasco de peixe. Entre as principais, Happy Days (R$ 100) e Na Onda (R$ 160).