Formas de descobrir Curitiba

Confira os passeios indispensáveis na cidade

28---Jardim-Botânico

Já era quarta-feira quando surgiu a chance de passar um fim de semana em Curitiba, saindo de São Paulo na sexta-feira à noite e retornando no domingo. Eu mal conhecia a capital paranaense. Havia passado apenas uma tarde na cidade, a caminho de Santa Catarina, no fim da década de 1990, e o desejo de voltar com calma permaneceu.
Até porque, desde daquela época, Curitiba mudou. Para começar, desde que a Operação Lava Jato teve início, a capital paranaense não sai mais do noticiário. Surfando na onda da visibilidade, foram criados um Tour da Lava Jato e um escape room – aquelas salas temáticas onde é preciso desvendar o mistério para conseguir sair – cuja história tem elementos de corrupção envolvendo uma empresa de engenharia (soa familiar não é mesmo?).
Mas nem de longe Curitiba se limita à Lava Jato, tampouco mantém um clima pesado, como se poderia imaginar, ao menos turisticamente falando. Há muitas atrações para curtir a cidade. Além disso, valeria visitá-la apenas para fazer algum de seus passeios de trem, que ganham novos roteiros e atrações a cada ano. O mais famoso deles, a litorina de luxo que leva de Curitiba à simpática Morretes, é imperdível para quem gosta dos trilhos.
Fácil de chegar – o voo desde São Paulo leva 1 hora; de carro ou ônibus, são 6 horas -, Curitiba cabe muitíssimo bem em um fim de semana. Não vai dar para ver tudo em dois dias, claro. Para isso, avalie a condição de ir em um feriado prolongado. Mas, fazendo escolhas, dá para combinar bons passeios sem ter de ver tudo com pressa.
Uma dica – na qual embarcamos – é fazer o city tour da Serra Verde Express, o maior receptivo da cidade, que dá um gostinho dos principais pontos turísticos em uma tarde, ao longo de 3h30. É possível comprá-lo à parte (a partir de R$ 72) ou então fechar um pacote para o fim de semana já com hospedagem e aéreo – a operadora BWT tem opções como o Curitiba de Luxo (R$ 1.168 por pessoa, incluindo aéreo, passeio de trem, city tour, duas diárias com café da manhã e serviço de transfer). Indo por conta, considere comprar o tíquete do Linha Turismo (R$ 39), o bom ônibus hop on/hop off da cidade.
A seguir, confira os passeios indispensáveis de Curitiba, seja para incluir no pacote ou fazer por conta própria.

Com disposição arquitetônica, conta com um mirante de 65 metros de altura e cascata
Com disposição arquitetônica, conta com um mirante de 65 metros de altura e cascata
O Parque Tingui leva o nome da tribo indígena que habitava a região séculos atrás
O Parque Tingui leva o nome da tribo indígena que habitava a região séculos atrás

JARDIM BOTÂNICO
O sol de inverno no fim de tarde fez com que a visita ao Jardim Botânico de Curitiba fosse ainda mais prazerosa. Para que a identificação seja imediata, digo logo que trata-se do principal cartão-postal da capital paranaense – nenhuma foto de Curitiba é tão simbólica quanto a da estufa de estrutura metálica e vidro, com três abóbadas transparentes e canteiros floridos em frente, cuja construção foi inspirada no Palácio de Cristal de Londres.
Os 178 mil metros quadrados abrigam jardins feitos à moda de outro país europeu, a França, além de uma fonte. Os canteiros são geometricamente organizados e dão uma sensação curiosa de harmonia e preguiça – não à toa, casais e famílias aproveitam para estender o corpo e relaxar a alma no gramado, enquanto crianças rolam morro abaixo. Nos fins de semana, é passeio concorrido e costuma ficar bem cheio.
O Jardim Botânico abre diariamente das 6 horas às 19h30 (no horário de verão, estende-se até as 20 horas) e tem entrada gratuita. Tanto o city tour da Serra Verde Express quanto o ônibus da Linha Turística passam por ele.

ÓPERA DE ARAME
A lembrança que guardava da Ópera de Arame era a de um lugar bonito, mas coberto pelo nevoeiro. Vê-la fora do cenário cinzento, portanto, era minha maior expectativa. E fui atendida.
O passeio não demora muito se você quiser conhecer apenas o teatro feito de estrutura tubular e teto transparente. Há um café na parte interna e algumas exposições – na minha visita, uma pequena mostra de bicicletas antigas. Fique de olho em sua agenda de shows, que até o fim deste ano tem confirmados Jorge Vercillo, NxZero e Alceu Valença.
Ao lado da Ópera está o Parque das Pedreiras, onde funciona o Espaço Cultural Paulo Leminski. Apesar de não ser aberto à visitação no dia a dia, recebe shows – John Mayer se apresenta por lá em outubro.
TREM NA SERRA DO MAR
Curitiba é, cada vez mais, a capital onde o apito do trem resiste e se reinventa no turismo. Além do clássico (e imperdível) trajeto sobre trilhos até Morretes, operado pela Serra Verde Express, a cidade acaba de ganhar outros dois passeios, o Expresso Classique e o Trilhos e Estrelas, lançados este ano em comemoração aos 20 anos da operadora.
O Expresso Classique revive o glamour da década de 1930, fazendo um roteiro noturno dentro da própria cidade. O jantar, seu ponto alto, é servido dentro do trem, que também conta com música ao vivo, dança e charutaria (R$ 279). Já o Trilhos e Estrelas terá sua primeira edição no dia 30, e levará os turistas de Curitiba a Morretes em um trem de categoria turística, sempre com a participação especial de um artista na viagem – a primeira convidada será a cantora e youtuber Sofia Oliveira. O pacote inclui almoço e show do artista em Morretes, com retorno rodoviário à capital (desde R$ 390 a inteira).
O clássico passeio de trem até Morretes dura um dia inteiro e pode ser feito de muitas formas. A primeira delas é a bordo de vagões simples, com passagens para qualquer dia da semana, ida e volta ou só um dos trechos – os valores por trecho começam em R$ 99 (adulto). Também nos vagões mais simples é possível comprar o combo que dá direito a serviço de bordo e city tour por Morretes (incluindo almoço) e por Antonina, outra cidadezinha charmosa na costa do Paraná. Neste caso, há as opções classe turística, classe executiva e litorinas – desde R$ 269 adulto (crianças e idosos têm desconto).
Cometemos o pecado da luxúria e embarcamos em uma das litorinas, o que valeu muitíssimo a pena, apesar do preço salgado. São duas opções, a Litorina Luxo e a Litorina Curitiba. Ambas saem aos fins de semana e feriados, mas têm configurações diferentes dentro dos vagões, dando mais ou menos privacidade.
A Litorina Luxo tem vagões com decoração inspirada na Mata Atlântica (batizada de Foz) ou nas calçadas cariocas (a Copacabana), com poltronas e sofás estofados que, de tão confortáveis, fazem as três horas de viagem passarem muito rápido – se bem que a paisagem vista das janelas panorâmicas é tão bonita que isso definitivamente não é um problema. Já a Litorina Curitiba tem assentos dispostos da forma tradicional, e não em lounges, o que a torna R$ 40 mais em conta, em média, por pessoa.
O serviço de bordo das litorinas é outro destaque: o café da manhã é servido assim que o trem começa a andar, bem quentinho, e as bebidas – dá para escolher entre refrigerante, café, cerveja e espumante – são servidas durante toda viagem, sem limites. Além disso, há sempre um guia bilíngue dando informações históricas sobre a região.
É possível comprar passagem por trecho ou o pacote que dá direito ao city tour por Morretes (incluindo almoço no restaurante da Serra Verde, que serve o tradicional barreado) e por Antonina. Também inclui transfer do hotel na ida e na volta, feito em uma van pela Estrada da Graciosa no fim da tarde (R$ 399 a Litorina Curitiba e R$ 439 a Litorina Luxo, com descontos para idosos e crianças).
Em Morretes, aproveite para visitar diversas lojas de artesanato, restaurantes, sorveterias e cafés. Entre eles, chamou a atenção um espaço verde e gracioso batizado Bistrô da Vila, que vale a parada, no mínimo, pelo cafezinho, que pinga direto do coador. Já em Antonina, passe pela Igreja Nossa Senhora do Pilar, de onde se tem uma bela vista da cidade, e preste atenção às fachadas de algumas construções, com plaquinhas com letras de música.

PARQUES E BOSQUES
Áreas verdes não faltam em Curitiba e, assim como o Jardim Botânico, outros parques são ótimos para relaxar em meio à natureza. E o melhor: eles estão tanto na rota do ônibus Linha Turismo quanto no roteiro do city tour (se quiser aproveitá-los por mais tempo, considere ir por conta).
O Parque Tingui leva o nome da tribo indígena que habitava a região séculos atrás e fica no bairro São João, no norte de Curitiba. Dentro dele fica o Memorial Ucraniano, uma área construída em homenagem à presença dos imigrantes dessa nacionalidade na capital paranaense, aberta em 1995. Além da réplica da Igreja São Miguel Arcanjo – a original foi construída na cidade de Mallet, também no Paraná –, há uma típica casa ucraniana aberta à visitação e uma outra onde funciona uma loja.
A área do Parque Tanguá, à beira do Rio Barigui, tem passado curioso: ali funcionava um complexo de pedreiras, hoje desativado.. Com disposição arquitetônica e paisagística disciplinada, conta com um mirante de 65 metros de altura, cascata e um jardim também de estilo francês. Subir em seu belvedere de três andares vale a pena pela visão privilegiada da natureza curitibana.
Enquanto isso, o Parque Barigui, o mais visitado pelos curitibanos e um dos maiores da cidade, reserva áreas para piquenique, churrasco, um lago de 230 mil m2 e aparelhos de ginástica para exercícios. O parque abriga o Museu do Automóvel, onde estão expostos mais de 150 veículos e suas histórias.

SANTA FELICIDADE
“Ir a Curitiba e não conhecer Santa Felicidade é como não ir”, me disse uma amiga curitibana. Por isso, optamos pelo almoço de domingo em um dos restaurantes da região.
Colônia imigrante desde o fim do século 19, o distrito de Santa Felicidade recebeu o nome em homenagem à Dona Felicidade Borges, uma senhora de origem portuguesa que doou parte de suas terras aos italianos recém-chegados. Hoje, são 16 bairros, anunciados por uma estátua do Leão de São Marcos no portal de boas-vindas e repletos de vinícolas, lojas de artesanato e restaurantes.
Entre os estabelecimentos mais famosos de Santa Felicidade estão a Adega Durigan, uma enorme loja com vinhos, espumantes, frios e outros produtos de dar água na boca, e o Restaurante Madalosso, um clássico, com duas unidades na agitada Avenida Manoel Ribas.
Com 4.645 lugares e uma área total de 7.671 metros quadrados, ele foi apontado como o maior restaurante da América Latina em 1995, entrando para o Guinness Book. Sua proposta é a de uma cozinha tipicamente italiana: rodízio de massas acompanhado de polenta e frango frito à vontade. É tão gostoso que vale o aviso: cuidado para não comer muito logo na entrada e ficar sem espaço no estômago para a massa. O valor do rodízio é de R$ 48,50 (mais 10% por pessoa, sem bebidas) na unidade maior e R$ 54 (sem bebidas) na menor e mais antiga – o valor mais alto refere-se à inclusão de carne no rodízio.

EVENTOS
Todos os anos, o evento Natal Curitiba agita a capital no fim do ano. Uma de suas atrações é o coral do Natal do Bradesco, que chega à 27ª edição este ano e ocorre de 1º a 15 de dezembro no Palácio Avenida, sempre às sextas-feiras, sábados e domingos.
Desde 1992, o Festival de Teatro torna Curitiba um interessante polo cultural entre março e abril. Companhias e espetáculos nos teatros e também nas ruas, gratuitamente. Assisti a uma peça itinerante noturna, no centro. Veja agenda de 2018: festivaldecuritiba.com.br