Exagero pode ser um delírio psicótico – Erotomania

Fã acredita, de fato, que vive uma relação com o ídolo

INSTAGRAM: Fã declarava seu amor de forma  exagerada nas  redes sociais texto: Elisa Clavery | foto: reprodução/facebook
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Fã declarava seu amor de forma
exagerada nas
redes sociais
texto: Elisa Clavery | foto: reprodução/facebook

A admiração de um fã ultrapassou os limites, no sábado, quando Rodrigo de Pádua, de 30 anos, invadiu o quarto de hotel de Ana Hickmann armado, fez reféns e saiu de lá baleado e morto. Para psiquiatras, porém, seu comportamento foi além do fanatismo: ele podia sofrer de erotomania, transtorno psiquiátrico em que o indivíduo tem delírios e acredita que outra pessoa, de projeção midiática ou status elevado – como celebridades, políticos ou até médicos -, é apaixonada por ele.
“O indivíduo tem certeza que é correspondido, mas que por algum motivo eles não conseguem ficar juntos”, explica o psiquiatra Daniel Sócrates: “chega o momento em que a paixão começa a ficar raivosa, porque ele está sendo frustrado, já que devia ter um projeto de que os dois ficariam juntos”.
No Instagram, Rodrigo de Pádua escrevia como se, de fato, tivesse um relacionamento com Ana. “Você acha maneiro me ver com ciúmes?”, postou, há cinco dias, na rede social. O médico em psiquiatria pela UFRJ, Rodrigo Pessanha, diz que quem sofre dessa síndrome costuma ter delírios, associando atitudes aleatórias como demonstrações de afeto: “há a ideia de que a outra pessoa envia sinais pelos meios de comunicação. As atitudes da Ana em seu programa, por exemplo, poderiam ser interpretadas de outra forma por ele. E é comum o paciente achar que está recebendo mensagens telepáticas”.
O delírio – que já envolveu fãs de celebridades como Leonardo DiCaprio, Rihanna e Miley Cirus – pode estar associado a psicoses, como esquizofrenia e transtornos bipolar e delirante crônico.
“Se a erotomania ocorre juntamente com um transtorno mental, o tratamento psiquiátrico pode ajudar e até eliminar os sintomas”, explica o psiquiatra da USP Rodrigo Fonseca Leite: “porém, quando a erotomania é um quadro isolado, o tratamento é difícil pois as pessoas em volta e o próprio não reconhecem a necessidade do tratamento”.

transtorno

QUEM ESTÁ SUJEITO: Não é possível ‘mapear’ quem pode ter o distúrbio, diz Sócrates. É um transtorno raro.
violência: Os casos que chegam a atitudes drásticas, como o que aconteceu sábado, são raros. “Por isso é importante não estigmatizar a maioria dos pacientes, pois 99,9% deles não são violentos”, explica Fonseca Leite.
COMO IDENTIFICAR: “Se a pessoa indicar que está tendo comunicação com o ídolo, ou dizer que o ídolo também está apaixonado, é um sintoma delirante”, diz Sócrates. Ela também pode ter dificuldade de integração social, além de apresentar outras formas de delírio, explica Pessanha.
TRATAMENTO: O tratamento exige psicoterapia e medicação. Na hora de buscar o médico, a família precisa abordar o tema sem quebrar o delírio. “É possível incentivar o tratamento dizendo que isso vai ajudá-lo a acabar com o sofrimento”, diz Sócrates.