Enxaqueca: mal hereditário

Pesquisa com famílias revela influência de somatório de variações no DNA

Nauseantes e, por vezes, debilitantes, dores de cabeça afetam de 15% a 20% dos adultos, mas muitos casos ainda são difíceis de explicar. Os cientistas sabem que as enxaquecas tendem a atingir integrantes da mesma família, mas não sabem exatamente o porquê. No entanto, um novo estudo, considerado “o mais amplo já feito sobre o tema”, publicado ontem no periódico científico “Neuron”, revela de que modo algumas famílias são mais suscetíveis às enxaquecas e como a genética pode influenciar o tipo de dores que sentem.
– Por muito tempo ficamos pensando como uma doença comum, como as enxaquecas, se agregam em torno de algumas famílias – conta Aarno Palotie, pesquisador do Instituto para Medicina Molecular da Finlândia e do Instituto Broad, dos Estados Unidos.
Ao estudar mais de 59 mil pacientes com enxaqueca, os pesquisadores por trás desse estudo identificaram mais de 40 variantes de risco genético significativas que predispõem os indivíduos à enxaqueca.
A equipe, então, combinou informações de todas essas variantes de risco implicadas e calculou uma “pontuação” de risco genético pessoal para cada um dos participantes do estudo. Este método foi utilizado para estimar e comparar a carga genética conferida por variantes comuns em diferentes subgrupos de pacientes com enxaqueca.

Genes com ‘defeitinhos’ causam a dor
Pesquisas prévias sobre as enxaquecas identificaram duas maneiras pelas quais elas podem atingir as famílias. Estudos de “ligação”, que traçam o caminho de partes dos cromossomos passados dos pais para os filhos, identificaram três genes associados às chamadas enxaquecas hemiplégicas (forma severa da condição). Esses genes se encaixam nos modelos de herança mendeliana, em que as duas cópias de um gene herdadas por uma pessoa de seus pais determinam o surgimento de um traço ou doença.
A segunda maneira envolve envolve heranças poligênicas. Se um traço é poligênico, isso significa que um grupo de genes influencia seu surgimento. Cada variante genética comum tem só um pequeno efeito individual, mas o conjunto destas variantes leva ao desenvolvimento da doença.
Diante disso, Palotie e seus colegas decidiram investigar se apenas genes mendelianos, uma acumulação poligênica de variantes comuns ou uma combinação dos dois mecanismos influenciam a maneira como as enxaquecas são herdadas nas famílias.
O resultado mostrou que as variantes comuns poligênicas tinham maior influência no aparecimento da condição do que os três genes mendelianos. Os dados também apontaram que se as enxaquecas de uma pessoa começaram mais cedo na vida, eram mais severas ou estavam presentes em sua família, era mais provável que fossem causadas pelas variantes poligênicas.
– A força destas variantes comuns nessas famílias nos surpreendeu – diz Palotie.