Entre feras e fofuras – Sydney

A Austrália é conhecida como um país acolhedor

A Grande Barreira de coral pode ser vista do espaço e é a maior estrutura do mundo feita unicamente por organismos vivos com extensão de 2,9km texto: Por Felipe Mortara/ae  | foto: divulgação
A Grande Barreira de coral pode ser vista do espaço e é a maior estrutura do mundo feita unicamente por organismos vivos com extensão de 2,9km
texto: Por Felipe Mortara/ae | foto: divulgação

Está no olhar do guia aborígine na reserva de Mosmann Gorge e na orla de Sydney. Nas cores néons da Grande Barreira de Corais e nas notas amadeiradas do vinho de Yarra Valley. Está no pôr do sol de Port Douglas e no canguru saltitante que cruza a estrada. A natureza australiana é vasta e única – espalhados pelo país-continente de dimensões semelhantes às do Brasil estão os fofos coalas e os assustadores crocodilos de água salgada, florestas e um imenso deserto, o Outback. Conhecer tudo em uma só viagem, portanto, está fora de cogitação.
Mas vale reservar um bom tempo para o país. Afinal, a distância – de 19 a 30 horas de voo para chegar, dependendo da rota – e os preços altos das passagens costumam ser as maiores barreiras para os brasileiros.
Embora o dólar australiano tenha cotação menor que o americano (vale R$ 2,81), é importante dizer que o custo de vida é alto e atrações como os indispensáveis mergulhos têm preço tão salgado quanto a água do mar cristalino que banha o norte do país. Por outro lado, o nível dos serviços é excelente.

Identidade malemolente
Apesar de ser um país jovem – a Austrália foi reivindicada para a coroa britânica pelo capitão James Cook em 1770 e começou a ser colonizada 18 anos depois -, há, sim, uma identidade australiana. Uma espécie de Inglaterra malemolente, com um quê da nossa leveza latina. Talvez sejam os trópicos, afinal, grande parte do país está em latitudes semelhantes às brasileiras.
Comparações entre Sydney e o Rio de Janeiro não demoram a surgir diante de praias convidativas, surfistas e parques cheios de esportistas e famílias com carrinhos de bebê. Reflexos ou causas dessa tal qualidade de vida, aparentemente tão abundante que colocou a Austrália na segunda posição do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre 187 países, em 2013.
É no aeroporto da maior cidade australiana, com cerca de cinco milhões de habitantes, que desembarcam os viajantes internacionais – reserve alguns dias para explorá-la. O metrô (chamado de train) leva ao aeroporto e a pontos turísticos, como a Darling Harbour. O complexo guarda bares e restaurantes animados, além do espetacular Aquário de Sydney (28 dólares ou R$ 78; sydneyaquarium.com.au).
Para ter uma visão privilegiada dos contornos da cidade, a 134 metros de altura, encare um tour pela Harbour Bridge (158 dólares australianos ou R$ 440; bridgeclimb.com). Ali pertinho, a Opera House (sydneyoperahouse.com) e os belos jardins do Royal Botanical são programa obrigatório. Do Circular Quay, terminal de balsas, saem ferryboats para praias como Bondi Beach. Antes de chegar à areia, o amplo gramado funciona como arquibancada para observar surfistas profissionais e amadores em ondas.
Já Manly tem um astral mais família e é a favorita dos brasileiros que vivem na cidade. O centrinho é gostoso, com restaurantes vegetarianos e abundante oferta de açaí, porém chama mais atenção por seu calçadão repleto de coníferas. No canto direito, caminhe pela Marine Parade margeando Cabbage Tree Bay até Shelly Beach, prainha miúda e aconchegante. Em dias de mar calmo, é possível avistar tartarugas nadando por ali.
A minha favorita, contudo, foi Balmoral Beach, cuja delicadeza é acentuada por Rocky Point, uma pequena península que divide a praia em duas. Mas outras belezas me esperavam ao sul e ao norte do país.

Dos vinhedos
às panelas
Dominique Portet é um homem cujo sotaque denuncia imediatamente sua origem francesa. Pas de problème, estamos em Yarra Valley, uma das mais festejadas regiões vinícolas australianas, a 50 quilômetros de Melbourne. Há tempos é conhecida a qualidade dos tintos, brancos e espumantes produzidos na Austrália. Gente com o know-how de Portet, da nona geração de uma família de vitivinicultores da região de Bordeaux, transformou os terroirs de diversas regiões em fábricas de grandes vinhos e polos turísticos e gastronômicos.
Tido como o melhor produtor de Yarra Valley, Portet aposta nos cortes (misturas de diferentes qualidades de uvas) – o rótulo André 2008 foi, de longe, o melhor tinto que provei do outro lado do mundo. A mistura de shiraz e cabernet sauvignon tinha um aroma fabuloso – percebi que se tratava de um grande vinho antes mesmo de degustar. O bolso é que não gostou muito: 150 dólares australianos (R$ 418) a garrafa.
Beber é tão importante quanto comer nessa região. Usar ingredientes vindos de produtores locais é regra em quase todas as casas, e o restaurante Bella Vedere conectou com primor os vinhedos às panelas – a lasanha de enguia defumada com massa de ovo com mostarda (19 dólares australianos ou R$ 53) deu liga com um belo sauvignon blanc 2015.