Discreta exuberância – Caribe

Um paraíso tropical chamado ilha de Santa Lúcia

Medindo apenas 43 quilômetros de norte a sul e 22 de leste a oeste, com paisagens desertas que serviram de cenário para a série Piratas do Caribe Foto: divulgação
Medindo apenas 43 quilômetros de norte a sul e 22 de leste a oeste, com paisagens desertas que serviram de cenário para a série Piratas do Caribe
Foto: divulgação

Eu tinha uma imagem clichê do Caribe. Generalizava as 7 mil ilhas da região como vastas planícies de coqueiros à beira-mar, lotadas de gringos com camisas floridas sacolejando os ombros ao som de um mambo ensurdecedor, à beira da piscina em um megarresort. Ao menos era o que havia vivido em três ou quatro experiências anteriores na área. Até que, no fim de 2015, desembarquei na desconhecida Santa Lúcia, uma das Pequenas Antilhas do sudeste caribenho.
Medindo apenas 43 quilômetros de norte a sul e 22 de leste a oeste, aquela que no mapa parecia um pontinho perto da Venezuela se mostraria, ao vivo, uma montanhosa preciosidade verde bem preservada. Em vez de merengue no resort, eu ouviria bom jazz em um hotel butique. E no lugar das excursões de americanos com camisões de cores berrantes, encontrei casais discretos e grupos de amigos a fim de curtir a natureza.
É justamente por estar fora do circuitão turístico que a ilha descoberta em 1502 por Cristóvão Colombo desenvolveu essa personalidade discreta. Tal perfil acabou atraindo celebridades avessas a holofotes.
As paisagens desertas fizeram com que Santa Lúcia virasse ainda cenário de filmes como os da série Piratas do Caribe. De propriedade de um hoteleiro santa-luciense, o navio pirata local Brigg Unicorn foi rebatizado como Black Pearl para servir de cenário às aventuras de Jack Sparrow.

Duas pontas
Localizada na ponta norte, Rodney Bay concentra o movimento urbano de hotéis, bares e restaurantes, e tem até shopping center. Possui uma bucólica praia de areias brancas onde as crianças podem brincar em um parque aquático flutuante, o St. Lucia Water Park, além da única muvuca noturna que presenciei na ilha: a festa de Gros Islet, que toda sexta reúne quem está cansado de calmaria para beber rum e ouvir DJs de tuts-tuts em plena rua. Quem preferir um ritmo mais manso pode fugir para o Irie, boteco roots de reggae, na vizinha Church Street.
Rodney Bay está a 10 quilômetros da capital Castries, base do aeroporto regional George F. Charles. Aeronaves maiores, como as que vêm de Miami, pousam no aeroporto internacional de Hewannorra, em Vieux Fort, na ponta sul da ilha. A 30 quilômetros dali está Soufrière, pacato vilarejo de pescadores que serve como base para quem se hospeda nos mais luxuosos hotéis-butique, a maioria deles encarapitados na montanha à beira-mar.
Nos deslocamentos en-
tre uma ponta e outra, vai-se explorando os cinquenta tons de azul das praias – umas com vento bom para praticar kitesurfe, outras mansas para nadar, remar ou fazer nada. Nos vilarejos, a população de 117 mil pessoas exibe as influências dos colonizadores. Depois de enfrentarem a brava resistência inicial dos caraíbas nativos, franceses e ingleses se estabeleceram, ao longo de 150 anos dos séculos 17 a 19, alternando o domínio da ilha nada menos que 14 vezes. Em 1814 os britânicos levaram a melhor, até que a ilha conquistasse a independência em 1978.
Ainda que a França tenha deixado marcas na gastronomia, na língua crioula, na arquitetura e na religião, a Inglaterra está presente na mão inglesa no trânsito, na popularidade dos jogos de críquete e na política: Santa Lúcia é umas das ex-colônias membros da Comunidade Britânica. A própria rainha Elizabeth II já deu o ar da graça por duas vezes. Não por acaso, vêm desses países – assim como dos Estados Unidos e do Canadá – um número cada vez maior de visitantes em busca da elegância discreta de Santa Lúcia.

gastronomia
Vale a pena dizer sim se o motorista lhe perguntar, poucos quilômetros depois de deixar o aeroporto de Vieux Fort, se você quer experimentar o pão local. Em um pedaço qualquer da estrada, sem placa, cadeira ou glamour, um grupo de padeiros
da improvisada Roadside Bakery dá as boas-vindas com uns pãezinhos bicudos, recheados com coco, queijo, salame ou até anis, em uma primeira evidência das vantagens da colonização francesa. Esse será o início de uma série de degustações que estará por vir – ainda que boa parte dos hotéis ofereça, orgulhosamente, menus internacionais. Mas bom é provar o típico.
A vasta produção de bananas faz com que a fruta esteja por toda parte, desde o prato nacional, feito com figo verde e peixe salgado ao estilo bacalhau, até o catchup e no molho barbecue. O único souvenir tão popular quanto os condimentos de banana é o chocolate. Há séculos produzindo cacau de qualidade em suas fazendas, Santa Lúcia se orgulha por ser grande fornecedora de marcas internacionais como a Hershey’s.
Não por acaso há visitas a propriedades produtoras e curso rápido de culinária voltada ao doce. Existe até um hotel especializado nisso, o Boucan, que serve pratos e usa, no spa, cosméticos à base do cacau produzido ali
mesmo.