Chapada dos Guimarães e Nobres

Confira os passeios em um roteiro pelo Mato Grosso

texto: Por Adriana Moreira /agência estado | fotos: divulgação
texto: Por Adriana Moreira /agência estado | fotos: divulgação

Doze anos atrás, quando percorri o Estado do Mato Grosso em uma viagem de ônibus por algumas de suas principais atrações, meu celular era apenas um acessório, que passou quase o tempo todo dentro da mochila. Além de não pegar na maioria dos lugares, conexão com a internet ainda era coisa para lan houses ou salas de informática – um luxo raro, especialmente em viagens com a natureza como protagonista. Em casos assim, a ideia era de isolamento total, algo cada vez mais difícil nos dias de hoje.
Desta vez, embora ainda não haja conexão em áreas mais afastadas – como o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, ou mesmo nas ruas do distrito de Bom Jardim, em Nobres – pousadas, hotéis e mesmo alguns restaurantes oferecem Wi-Fi grátis. A sensação de isolamento se restringe apenas aos passeios.
Logicamente, esta não foi a única diferença que encontrei na região depois de tantos anos. Algumas são positivas, como a inauguração do primeiro resort do Estado, localizado entre as já citadas Chapada dos Guimarães e Nobres. Assim, ficou mais fácil intercalar bate-volta focado em ecoturismo com dias mais relaxados, que incluem drinques à beira da piscina e refeições caprichadas, tudo no sistema all-inclusive. No rol das boas notícias também está a estrada para Nobres, que era de terra e hoje está asfaltada e bem sinalizada, o que permite que a viagem a partir de Cuiabá seja feita em apenas 2 horas.
Mas dói ver a quantidade de obras que deveriam ter sido concluídas para a Copa do Mundo, como a do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), na capital, e a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. O problema das queimadas na região também continua, especialmente nessa época do ano, com pouca chuva e mato seco. Da estrada, vimos um imenso rastro de destruição e labaredas que consumiam quilômetros de vegetação – felizmente, o incêndio já foi controlado.
O saldo, contudo, é positivo. O clima ensolarado quase o ano todo harmoniza perfeitamente com praias de cachoeira e flutuação em rios de águas cristalinas, repletos de peixes. Aproveite antes que as multidões descubram.

 Cachoeirinha tem uma área de areia maior e a profundidade da piscina é ideal para crianças
Cachoeirinha tem uma área de areia maior e a profundidade da piscina é ideal para crianças

SIM, TEM PRAIA NA CHAPADA
A imponência da cachoeira Véu de Noiva permanece igual, mesmo na época de seca, quando há menos volume d’água. Agora, contudo, quem vai ao Parque Nacional da Chapada dos Guimarães só pode observá-la do mirante: sentir seus respingos sobre o rosto, como fiz há 12 anos, é impossível. A trilha que levava a seu poço foi fechada por risco de desmoronamento no entorno da cascata.
Para as melhores fotos, prefira a parte da tarde. Mas a beleza é uma só a qualquer hora: as águas do Rio Coxipozinho despencam a 86 metros (equivalente a um prédio de 28 andares), pelas bordas de um imenso paredão de arenito. Embora o banho ali seja vetado, há outras maneiras de se refrescar do calor mato-grossense no Parque. Duas Cachoeiras que ficavam em propriedades vizinhas foram incorporadas à área protegida, para a alegria dos visitantes.
A dos Namorados é menorzinha, compacta, mas deliciosa para passar o tempo no seu poço raso. A segunda, a Cachoeirinha, tem uma praia maior, para jogar a canga na areia e se refestelar sob o sol do cerrado. A piscina natural que se forma ali é ótima para ir com as crianças – mesmo debaixo da cascata, a água chega na altura da cintura. Uma delícia, aproveitada em igual medida por turistas e moradores das proximidades.
A trilha que leva a ambas tem cerca de 1,2 mil metros de extensão, é autoguiada e bem marcada – leve água e, se quiser curtir as cachoeiras por mais tempo, também um lanche. No caminho, repare na vegetação: próximo à entrada do parque, ela é ressecada, típica do cerrado. Como há milhões de anos a área era ocupada pelo mar, é comum encontrar no caminho fósseis de conchas e animais marinhos. Fotografe e devolva para o mesmo lugar, ok?
À medida que se avança para mais perto das águas, as árvores ficam altas e imponentes, e dá para sentir a umidade no ar. “Mas as espécies são as mesmas, a diferença está na cobertura do solo”, explica o guia Lucas Buttura, da Confiança Turismo.
Para ir a outros atrativos, no entanto, será preciso o acompanhamento de um guia. O Circuito das Cachoeiras, por exemplo, tem 10 quilômetros de extensão (ida e volta) e passa por seis cascatas. Vá com roupa de banho por baixo para se refrescar sempre que possível – e não esqueça o protetor solar. A entrada no parque é grátis; mais: bit.ly/parnaguima.
Na cidade. Chapada dos Guimarães é também o nome da simpática cidadezinha onde está o parque nacional. Mais alta que Cuiabá (800 metros acima do nível do mar), tem um clima mais fresco à noite, especialmente no inverno. Um alívio em comparação ao calorão da capital.
No centrinho, a praça no entorno da Igreja de Nossa Senhora de Sant’Ana, do século 18, reúne uma feira de artesanato, bares e lojinhas simpáticas. A ONG, por exemplo, vende camisetas de boa qualidade, com frases tradicionais do Mato Grosso. Ao lado, a Delícias do Cerrado tem picolés e sorvetes com sabores típicos, como umbu, buriti e tamarindo.
Almoço com vista. Mais afastado do centro, vale a pena reservar um almoço no Morro dos Ventos (morrodosventos. com.br), restaurante com um belo mirante – em dias claros, dá para ver até os prédios de Cuiabá, a cerca de 70 quilômetros de distância
Mas o que seria da vista se não fossem os sabores? O menu tampouco decepciona, com pratos típicos do Estado, muito bem servidos. Pedimos a costelinha de porco com arroz (R$ 136, para três pessoas, mas quatro comem tranquilamente), acompanhada de feijão, torresmo, farofa de banana e salada. Para fazer a digestão, melhor caminhar (bem pouco) até o mirante antes de voltar para o hotel.

A ESSÊNCIA DE NOBRES
Rios de águas cristalinas perfeitos para flutuação, repletos de peixinhos, peixões e arraias, são o cartão-postal de Nobres. Com atrativos similares aos de Bonito, no Estado vizinho do Mato Grosso do Sul, a cidade ‘importou’ de lá o modelo de visitação aos seus principais pontos turísticos.
O visitante precisa ir a alguma das agências locais para adquirir o voucher que será apresentado nas atrações – não é possível comprar na entrada e os preços são tabelados. A ideia, dessa forma, é movimentar toda a cadeia do turismo local, como explica Vicente Campos, dono da agência Anaconda e representante do Conselho Municipal de Turismo. Com o voucher, é possível ter um controle para que não seja ultrapassada a capacidade de carga nas atrações. Além disso, são recolhidos 1% para o Fundo de Turismo (Futur) Municipal e 3% de ISS.
A maior parte dos atrativos se concentra no distrito de Bom Jardim (ou na vizinha Rosário), que também serve de ponto de apoio. Há doze anos, a infraestrutura turística ali era quase inexistente. Embora algumas atrações, como o Aquário Encantado, já recebesse visitas, não havia pousadas (a hospedagem se concentrava em casas de família) ou restaurantes.
Hoje, ainda trata-se de um destino rústico, com ruas de terra e imóveis simples, mas a mudança é evidente. Segundo Vicente, já são 14 pousadas, 7 restaurantes e 12 agências de turismo, que vendem 25 atrações turísticas.
A flutuação é o carro-chefe, mas há outros programas. Para não comprometer as nascentes, protetor solar e repelente costumam ser proibidos: deixe para passar ao sair das atrações. Fique atento nas estradas: é comum avistar emas, tucanos e outros animais silvestres.

Cachoeira Serra Azul: fica dentro da propriedade adquirida pelo Sesc, cujo potencial ainda vem sendo mapeado. A cachoeira é uma das atrações abertas ao público – para chegar a ela, no entanto, é preciso enfrentar 800 metros de escadaria antes de conseguir a recompensa: flutuar no poço de águas cristalinas, com aproximadamente 6 metros de profundidade. Colete salva-vidas, máscara e snorkel estão inclusos: você vai precisar deles para observar as dezenas de piraputangas que circulam pelo local. Elas não caíram da cascata de 46 metros de altura nem foram colocadas ali: simplesmente subiram o rio. Para voltar, dispense a escada: a tirolesa de 700 metros de extensão oferece emoção na medida certa. Preços de R$ 70 (flutuação) ou R$ 105 (com tirolesa).

Flutuação no Rio Triste: De triste, só mesmo o nome do rio: a flutuação ali é só alegria. São cerca de 1.500 metros por águas rasas, em que não é preciso fazer nada além de se deixar levar pela correnteza. Aliás, quanto menos movimento, melhor para a visibilidade: além das fáceis piraputangas, dá para ver dourados e até as arraias. Na nossa visita, no entanto, elas estavam bem escondidas: apenas uma, pequenininha, deu as caras. Preço: R$ 75.

Flutuação no Aquário Encantado: Localizado no Rio Salobra, o Aquário Encantado se destaca por seu poço de seis metros de profundidade, por onde brota a água cristalina, repleta de peixes. Depois de nadar ali por alguns minutos, os turistas partem para a flutuação no Rio Salobra. Preço: R$ 75. No local, serve-se almoço em sistema bufê, simples e caseiro, pago à parte.

Lagoa das Araras: Mais próxima ao centro de Bom Jardim, a Lagoa das Araras é exatamente o que o nome diz: um alagado repleto de buritis para onde, no fim da tarde, diversas espécies de aves vêm se aninhar. As araras estão lá, como promete a atração, mas há também garças, biguás, maritacas, periquitos e até um gavião esperando um pássaro se distrair para atacar os ninhos. Chegue por volta das 17 horas besuntado de repelente. Preço: R$ 15.

Mirante do Cerrado: Trata-se de um lugar para relaxar. No alto de um morro, próximo ao Aquário Encantado, o bar oferece uma bela panorâmica vista de Bom Jardim, com uma piscina em forma de peixe para se refrescar enquanto aprecia o pôr do sol. Se estiver sentindo falta de emoção extra, a tirolesa de 700 metros de extensão (R$ 30, pagos à parte) dá conta do recado. Vale a emoção pelo valor de R$ 25.