Adoção de crianças da Bahia é concedida definitivamente a famílias de Indaiatuba e Campinas

Chega ao fim, após oito anos, o caso das crianças de Monte Santo (BA) adotadas por famílias de Indaiatuba e Campinas (SP). A Medida foi proferida pelo juiz do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
A história começa em 2011, quando no interior da Bahia cinco irmãos são retirados dos pais biológicos por Ordem Judicial expedida pelo juiz Vitor Manoel Xavier Bezerra, com base em documentos apresentados pelo Conselho Tutelar de Monte Santo, e com o aval do Ministério Público, por acusações de maus-tratos. As crianças na época com idades entre 2 meses e 8 anos foram direcionadas para quatro famílias da RMC (Região Metropolitana de Campinas), que já estavam no Cadastro Nacional de Adoção, já que nenhum familiar tinha condições de acolher os irmãos.
Um ano depois começou o transtorno. Através de uma matéria jornalística veiculada pelo ‘Fantástico’ na Rede Globo em 2012, as famílias foram acusadas de fazer parte de uma quadrilha de tráfico de crianças, na matéria a mãe e o pai biológico, já separados, alegaram não haver abandonado os filhos e que os queriam de volta. O juiz Luis Roberto Cappio Pereira, da Comarca de Monte Santo (BA), determinou, então, que as cinco crianças adotadas retornassem à mãe biológica na Bahia.
Os pais adotivos não desistiram das crianças e também de provar a sua inocência nesse caso. Foi então que em 2015 outra notícia veio à tona, a mãe biológica das crianças, Silvânia Maria Mota Silva, procurou o SBT para contar a sua versão da história. Na Reportagem ela afirma que se arrepende de ter reivindicado os direitos da guarda das crianças e que gostaria de devolvê-las às famílias substitutas. Na mesma Reportagem, que foi ao ar no dia 26 de maio de 2015, ela alega que as crianças estavam com o pai e que ela temia que o pior pudesse acontecer.
A Justiça autorizou o retorno das crianças que também foi televisionado comprovando que as famílias não tiraram as crianças à força da primeira vez como dito na Reportagem do jornalista José Raimundo para o ‘Fantástico’. A própria mãe biológica trouxe as crianças até São Paulo e entregou aos pais adotivos.
Foi na terça-feira (26) que as famílias receberam o que para elas, foi uma das melhores notícias de suas vidas, o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) concedeu a adoção definitiva das crianças que agora poderão ter em suas Certidões de Nascimento os nomes dos pais adotivos.
Em Coletiva de Imprensa na manhã de ontem (28), Dra. Lenora e os pais de três das crianças deram depoimentos de qual o sentimento após todos esses anos. “Nós vivemos todos esses anos detalhes e coisas que são terríveis, até que se provou dentro do Processo Administrativo que o juiz Luis Roberto Cappio Pereira estava de conluio com o jornalista que fez a matéria. Isso está documentado, é fato! Então hoje a gente prova que tudo foi uma farsa”, diz a advogada.
Eles relatam que além da dor da perda dos filhos ser tachados de traficantes foi muito doloroso. “A sorte é que na época da matéria a imagem dos pais não apareceu em Rede Nacional, a casa apareceu e pessoas iam até lá atiravam pedras. Eu mesma recebi ameaças e xingamentos em minhas redes sociais por ser a advogada que defendia as famílias”. Diz ela ainda, o processo contra a emissora já está ocorrendo e a expectativa é de que até o final de maio saia a sentença dos processos de cada família.
Alessandra Pereira de Souza Pondian e Anderson Richard Pondian, que adotaram Daniel e Ricardo, afirmam que nunca pensaram em desistir, “quando eles saíram nós fizemos uma promessa a eles dizendo que nós íamos lutar até o fim por eles, e o Dani perguntava, ‘mas você vai bater em alguém?’, e nós dizíamos não, esse vai ser outro tipo de luta”, diz Alessandra.


Para Débora Brado Melacardi e Nelson Luiz Melacardi, que são os pais de Luan a sensação é de alívio, já que o medo de qualquer coisa acontecer agora passou. “Foi um trauma muito grande para ele, para nós e para minha filha que na época tinha a mesma idade que ele e estava perdendo o irmão. O que falaram para eles foi que nós tínhamos os devolvidos, então fizeram todo um terrorismo em torno de todos. Agora ontem (28) com a resolução parei e pensei nossa, parece que está faltando alguma coisa para eu me preocupar (com risos), estou muito tranquila, e isso nos trouxe um alívio muito grande”, ressalta Débora. Luan, todo sorridente, também quis dar entrevista e falar de sua felicidade, “Eu sinto uma felicidade grande, agora que já posso ter meu nome completo eu quero fazer meu RG, até falei para minha mãe. Eu sou muito feliz de estar com toda a minha família”, diz o garoto que hoje tem 10 anos.

 

Os filhos de Alessandra e Anderson não compareceram a Coletiva pelo trauma de estar à frente de jornalistas, já que tinham consciência do que aconteceu na época por serem mais velhos. “O lado que eles viram do jornalismo foi o lado desonesto, então hoje é difícil explicar para eles que nem todos são iguais”, diz Alessandra.

Cappio também foi afastado. Documentos analisados pelo Ministério Público da Bahia e Tribunal de Justiça daquele estado mostraram que o juiz Cappio mentiu por diversas vezes no processo. Uma das farsas dizia respeito às ameaças sofridas. Ele chegou a usar colete à prova de balas e andava com agentes da Polícia Federal.