A alma colorida da Cidade do México

Capital mexicana possui costumes divertidos

28---Casa-dos-AzulejosDe um México a outro era possível passar em um segundo. Retratada com uma palheta infinita de cores, a trajetória de sete séculos da capital mexicana resumia-se em 450 metros quadrados de parede, estampada pelos traços e pela aquarela de Diego Rivera.
A História do México, nome do mural produzido pelo pintor no Palácio Nacional, de 1929 a 1935, porém, prendia nosso olhar e essa nossa alma latina por muito mais tempo do que um segundo. De Teotihuacán à chegada dos espanhóis. Da luta pela independência à ditadura de Porfírio Diaz. De Zapata aos movimentos sociais do século 20. Personagens e cenários preenchiam nossa imaginação por completo.
No entanto, quem anda pelas ruas da capital mexicana, a vibrante Cidade do México, encontra explicação para os sentidos aguçados diante da arte. É que as cores que tanto inspiraram muralistas como Rivera estão na realidade dessa metrópole de 8,8 milhões de habitantes, a 2.235 metros de altitude. Nela, os tempos se misturam, formando a essência de um povo cujas raízes pré-colombianas mantêm suas marcas no cotidiano contemporâneo tanto quanto a insistente globalização.
Basta começar o passeio para encontrar ruínas astecas dividindo espaço com construções de estilo europeu; barracas de rua e restaurantes exalando cheiro de milho e carne de porco sempre cheios; uma esquina separando Trotsky de Frida Kahlo; mariachis disputando o movimento da noite com um cartel de lucha libre.
Fora do foco turístico de luxo e tranquilidade dos resorts de Cancún, a Cidade do México é o lugar que melhor mostra o lado cultural, político, histórico e gastronômico do país. Por isso, merece uma viagem dedicada só a ela ou ao menos uma semana antes de seguir a outros destinos – que podem ser interessantes, claro, mas dificilmente te levarão a todos aqueles Méxicos possíveis e sonhados no mural de Rivera.

MIGUEL HIDALGO
A ida ao distrito de Hidalgo tinha um foco: conhecer o Museu Nacional de Antropologia. Mas, qual não foi nossa surpresa ao desembarcarmos na estação de metrô El Rosário e nos depararmos com a imensidão do Bosque de Chapultepec, onde está, entre outras atrações, o museu.
Considerado o pulmão da capital, tem 678 hectares por onde se espalham fontes, lagos, plantas e animais, além do Museu Nacional de Antropologia, o Castelo de Chapultepec e o Museu de História Nacional.
Fora dos padrões hollywoodianos, apesar de grande, o Castelo de Chapultepec (bit.ly/chapulcastelo; 70 pesos ou R$ 12) fica no alto da colina de Chapulín, a 2.325 metros de altitude e a subida até lá é um agradável caminho murado e florido onde os corajosos praticam cooper.
Desde que foi construído, no século 18, a mando do vice-rei Bernardo de Galvez, foi Colégio Militar, observatório astronômico e residência presidencial. Também esteve sob domínio francês e foi palco de guerra durante a invasão norte-americana, entre 1846 e 1848. Tornou-se Museu de História em 1944. Entre as preciosidades da coleção, estão mais de 23 mil peças do universo numismático, que ajudam a contar a história nacional.
Se tiver pouco tempo para ver tudo, comece pelo castelo, mais breve, e fique com o dia livre para o verdadeiro tesouro: o Museu de Antropologia.
Paraíso antropológico. Imenso, o Museu de Antropologia surpreende logo na entrada. Na praça central, há uma estrutura de concreto de 84 metros de extensão, sustentada por apenas um pilar de 11 metros de altura, por onde despenca água por todos os lados. Chamam a atenção também a riqueza do acervo e a forma de exposição. Em 23 salas, divididas em dois andares, está um dos mais importantes legados da cultura pré-hispânica.
No térreo ficam os achados arqueológicos do México antigo, e cada sala se dedica a uma civilização ou região. Acima está o acervo etnográfico. Portas laterais levam a áreas externas, onde se concentram réplicas de estátuas e reconstruções. Há muitas crianças e jovens mexicanos: eles frequentam os museus com a família, e não só com a escola.
Em cada sala há objetos do período retratado escavados, pinturas, estátuas e reproduções de cenas da vida doméstica de um povo ou de uma guerra – em tamanho real ou miniaturizado. Você ainda encontrará informações sobre alimentação, comércio, sociedade e religião.
Um dos destaques é a Pedra do Sol. O objeto, talhado de forma minuciosa, representa 20 dias do calendário ritual asteca e impressiona pelas dimensões: 24 toneladas e 3,6 metros de diâmetro.

PARA IR A PARTIR DO ZÓCALO
1. Casa dos Azulejos: Chama a atenção a fachada azulada do edifício barroco de 1793, coberta de azulejos espanhóis. Monumento nacional, o antigo Palácio dos Condes de Orizaba pertenceu a muitas famílias, foi sede do Jockey Club e, desde 1919, abriga uma loja de departamento da rede Sanborns. Tem café e restaurante no pátio.

2. Palácio de Belas Artes: Sede do Balé Folclórico e dos museus de Belas Artes e de Arquitetura, já recebeu orquestras do mundo todo e nomes como Placido Domingos e Luciano Pavarotti. Em seu interior, exposições de artistas nacionais e murais de Diego Rivera, José Orozco, David Siqueiros e Rufino Tamayo. Mais: bit ly/belasartesmx.

3. Templo Mayor: As ruínas do mais importante templo asteca foram descobertas em escavações dos anos 1970 e ficam a poucos metros da praça. Algumas das peças encontradas, como um monólito pré-hispânico de 8,5 toneladas, estão no museu anexo ao sítio arqueológico. Mais: bit.ly/tmayor.

4. Casa Churra: Há várias casas que vendem churros, um legado dos ibéricos que tornou-se bem popular entre latinos. Sem tentar resistir, experimente a versão de avelã da Casa Churra (27 pesos ou R$ 4,50). Há também opções com amora, caramelo, morango, acompanhadas de sorvete, e até porções dos doces compridinhos. Mais: casachurra.com.MX.

5. Barrio Chino: O cantinho chinês do México começou a se formar no fim do século 19. Apesar de ter ‘bairro’ no nome, limita-se a um quarteirão. É decorado com luminárias vermelhas e douradas. Com mesas na rua, os restaurantes têm opções à la carte e por quilo. Lá, repare na ruelinha Callejón de las Damas – descubra sua história em bit ly/nomexico.

6. Museu de Desenho: Sua entrada no número 74 da Avenida Francisco Madero é discretíssima. Como seus vizinhos, ocupa um prédio antigo, e, o que parece ser só um café, se transforma em um espaço descolado onde cabem exposições de ilustrações, desenhos e cartazes e uma lojinha com produtos originais (e caros). Mais: mumedi.MX.

7. Secretaria de Educação: O edifício na Calle República de Argentina é obrigatório a quem quer conferir mais do legado artístico de Diego Rivera. Atual sede da Secretaria de Educação e antiga escola onde Frida Kahlo estudou, preserva murais do pintor de 1922 que retratam as raízes pré-colombianas e lutas nacionais. Mais: gob.mx/sep.

Cinco passeios para fazer na Cidade do México
1. Lucha libre: Um, dois ou três lutadores mascarados e fantasiados dividem o mesmo ringue, disparando golpes, acrobacias e saltos perigosos – até em direção às arquibancadas. Esporte e teatro cômico ao mesmo tempo, é super popular por lá. Na capital, assista na Arena México: bit.ly/luchaarena.

2. Zona Rosa: Quer uma noite agitada? A Zona Rosa, no bairro Juárez, é seu destino. Basta seguir pela Avenida Paseo de La Reforma no sentido contrário ao Zócalo para se deparar com o conjunto de ruas, algumas exclusivas a pedestres, que reúne restaurantes, bares, baladas LGBT, sex shops e até um cassino.

3. Praça Garibaldi: Outro lugar com vida noturna animada é a Plaza Garibaldi, a dez minutos do Zócalo. Com mesas ao ar livre, seus bares ficam lotados e rodeados pelos mariachis, que embalam o popular gênero mexicano. Por lá também é possível bailar em salões de dança como o Tenampa e o Tropical – um pouco decadentes hoje em dia, já receberam a elite mexicana e são bem tradicionais.

4. Santuário de Guadalupe: O Santuário Nacional é um dos mais visitados do mundo – média de 20 milhões de pessoas por ano. Formado por 17 áreas, entre capelas, batistério, criptas, museu e duas basílicas – a nova, de 1974, e a antiga, completamente inclinada por causa do afundamento. Mais: bit.ly/guadalupemx.

5. Estádio Azteca: O maior estádio da América Latina deixa qualquer um de ‘boca aberta’ pelo tamanho e por sua história. Palco das finais das Copas de 70 e 86 no México, onde Pelé e Maradona brilharam, tem capacidade para 87 mil pessoas. Se conseguir, assista a uma partida. Ingressos: bit.ly/estadioazteca.

SAIBA MAIS
Aéreo: SP – Cidade do México – SP: desde R$ 2.284 na Latam (latam.com) e R$ 4.668 na Aeromexico (aeromexico.com/pt). Ambos voos diretos.
Terrestre: a locomoção para áreas turísticas da cidade é facilmente feita de metrô – o movimento é enorme nos horários de pico.
Clima: Com clima ameno, a capital pode ser visitada o ano todo. Entre junho e setembro chove um pouco mais (nada que atrapalhe).