Você tem cabeça de gordo? saiba como controlar

Pensar todo momento em comida pode levar à obesidade

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Você mal começou o almoço e já está de olho na sobremesa. No trabalho, passa a tarde sonhando com um doce para levantar o ânimo e, no fim de semana, conta as horas para se deliciar com uma pizza no sábado à noite. Se isso descreve sua vida, talvez o corpo até não acuse, mas sua cabeça é de gordo. Pensar demais em comida – a chamada fissura – pode levar ao sobrepeso ou se tornar uma forma de autossabotagem, quando já se está em tratamento da obesidade. E parece impossível, mas não é: dá para tirar o foco daquele hambúrguer suculento sem deixar de ser feliz.
Por trás da cabeça de gordo, em geral, existe um quadro de ansiedade, que faz a pessoa buscar no alimento um refúgio para os problemas emocionais.
“Não necessariamente quem pensa muito em comida tem um consumo excessivo. Mas existe uma preocupação exagerada, seja com a quantidade ou com a qualidade do que se vai comer. Tudo gira em torno disso”, explica a nutricionista clínica Alessandra Paula Nunes, da Salutem Nutrição e Bem-estar.
Por isso, a fissura é diferente da compulsão alimentar, que nem sempre implica obsessão por comida.
“O compulsivo é aquele que come muito em um intervalo curto de tempo e sente culpa, arrependimento e tristeza depois. São episódios nos quais o indivíduo tem sensação de perda de controle, e que precisam acontecer de duas a três vezes por semana em um período de seis meses para caracterizar o diagnóstico”, diz o endocrinologista Pedro Assed, pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (Iede).
Apesar de não ser doença, a cabeça de gordo aumenta o risco de obesidade ou de abandono do tratamento de perda de peso, já que a pessoa pode não resistir às tentações, além de tender a ter mais dificuldades de se reeducar na dieta. A falta de domínio sobre os pensamentos em comida também pode causar diabetes e alterações nos triglicérides e no colesterol.
O problema requer tratamento, para identificar quais gatilhos desviam o foco para os alimentos e para ajudar o paciente a ser seletivo.
“Como a pessoa está viciada a pensar em comida o dia todo, no início, o objetivo é fazer com que ela selecione itens saudáveis, enquanto ainda não tem controle sobre a mente”, afirma Alessandra.

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Luta para se controlar

Fernando Ceylão, antes e depois de fazer dieta e perder 44kg Divulgação/TV Globo/João Miguel Júnior/2011
Fernando Ceylão, antes e depois de fazer dieta e perder 44kg
Divulgação/TV Globo/João Miguel Júnior/2011

A tentativa de parar de pensar em comida o tempo todo é uma luta diária para o humorista Fernando Ceylão, de 40 anos. Autor do livro “Cabeça de gordo”, o ator conseguiu perder 44 quilos do ano passado para cá, graças a um regime rigoroso. No entanto, a briga com a balança – e com a mente – continua. “Eu estou sempre calculando o que vou comer e quando vou comer. Mas ainda não consegui o equilíbrio: ou eu me alimento de maneira assustadora ou faço uma dieta radical. O ideal seria comer uma quantidade média todo dia, sem ficar nessa loucura – conta Fernando, que atualmente pesa 98 quilos e tem 1,93 metro de altura.
O humorista tinha um comportamento típico de obesos, que a psicologia chama de “teoria do tudo ou nada”. Trata-se de cometer um deslize na dieta e, então, passar a desconsiderar o regime no resto do dia, se permitindo comer o que quiser. Depois, compensa-se o erro com um dia de boca fechada.
Segundo Alessandra Paula Nunes, para resistir à vontade causada pelos pensamentos em comida, é necessário fazer escolhas inteligentes: “Se a pessoa está pensando em doces, ela pode comer algo que não traga prejuízos nutricionais, como uma fruta aquecida no micro-ondas com adoçante e canela. Também é preciso colocar uma rotina diferente na vida, fazer exercícios e se envolver em atividades que não envolvam comida”.