Quando é preciso ligar o alerta para a desnutrição

Educação alimentar e vigilância são fundamentais

texto: Ana Paula Blower/infoglobo  | fotos: divulgação
texto: Ana Paula Blower/infoglobo | fotos: divulgação

A alimentação saudável é um dos pilares da boa saúde e, em decorrência disso, é também uma das maiores preocupações das mães – os hábitos alimentares da primeira infância são determinantes para o bom crescimento e desenvolvimento intelectual da criança. Contudo, durante essa fase muitos pais enfrentam problemas que vão desde a dificuldade de aceitação de determinados alimentos do cardápio até o desafio de fazer o filho se alimentar adequadamente. Ainda que clássicas, essas situações têm se agravado devido aos hábitos da vida moderna: com a correria do dia a dia e a falta de opções saudáveis na dieta, a desnutrição é uma preocupação cada vez mais presente nos lares e nos consultórios médicos.
Dados do Ministério da Saúde apresentados durante o 3° Congresso Internacional Sabará de Saúde Infantil (SP), realizado em setembro, demonstram que apenas 60% das crianças brasileiras na fase inicial de alimentação sólida (entre 6 meses e 2 anos) ingerem alimentos saudáveis como legumes e verduras com frequência. Por outro lado, mais de 40% delas já consomem alimentos industrializados ricos em açúcares e conservantes. Este cenário liga o alerta para a desnutrição pois revela hábitos preocupantes quanto a educação alimentar infantil.

identificando o problema
Certamente, a perda ou dificuldade no ganho de peso, no crescimento e a má aceitação do alimento são as situações que mais preocupam as mães. Contudo, por mais que esses sejam os principais indicadores de um problema nutricional é preciso observar outros sinais que podem sugerir um problema dessa ordem. Ainda que a criança não apresente problemas relacionados ao apetite é preciso observar a qualidade da alimentação, pois muitas vezes mesmo uma criança que se alimenta normalmente pode apresentar algum indício de falta de nutrientes.
De acordo com nutricionista Joana Carollo, da Nova Nutrii, isso ocorre porque o problema não é decorrente exclusivamente da falta de alimentos “na verdade a desnutrição é caracterizada como um desequilíbrio na oferta de nutrientes, seja pela ingestão insuficiente ou inadequada de alimentos, seja pela dificuldade de absorção do organismo.” Justamente por isso, é importante observar outros sinais: mesmo que a criança esteja dentro do peso considerado normal, o problema pode fazer com que ela apresente um comportamento fora do habitual, geralmente demonstrando fraqueza, falta de apetite, apatia, pele e cabelos ressecados e, sobretudo, problemas de saúde recorrentes.

Desnutrição x vida moderna
Em vista das mudanças comportamentais e dos padrões alimentares das últimas décadas, a desnutrição não é mais um problema exclusivo da escassez de alimentos. Atualmente, casos de desnutrição acontecem mesmo nos lares cuja a oferta de alimentos é abundante. O alto consumo de industrializados, refeições prontas e fast foods contribuiu para um novo perfil deste problema: crianças que se alimentam normalmente, porém de forma inadequada.
É cada vez mais comum que crianças tenham contato, logo na primeira infância, com produtos industrializados na hora do lanche ou até mesmo nas refeições principais. O resultado disso: crianças acima do peso, porém com maior probabilidade de apresentar algum deficit nutricional. Dados do Ministério da Saúde estimam que, atualmente, 20% da população infantil está acima do peso, enquanto dados do IBGE (POF-2009) apontam que esta situação quadriplicou no país em duas décadas. Esta é mais uma razão pela qual a desnutrição não deve estar associada unicamente ao baixo peso, mas sim, observada como um quadro multifatorial.

Nutrientes essenciais

Ainda que a desnutrição esteja diretamente ligada a oferta calórico-proteica, alguns micronutrientes são essenciais durante a infância e tem sua disponibilidade prejudicada pelo distúrbio.
• Ferro: Essencial para o desenvolvimento físico e psicomotor durante a infância, sua carência pode levar a anemia ferropriva, que afeta tanto o crescimento, quanto o aprendizado. A falta deste mineral diminui a resistência do organismo e também pode afetar o comportamento da criança, levando a fraqueza, falta de memória, irritabilidade e indisposição.
• Zinco: Por estar relacionado ao metabolismo hormonal e a diversas reações enzimáticas do organismo, sua carência pode limitar o crescimento da criança, afetar o paladar e seu desenvolvimento cognitivo. Da mesma forma, seu baixo aporte pode enfraquecer a resposta imunológica e causar episódios de diarreia.
• Cálcio: Este mineral é essencial na formação do conjunto esquelético, crescimento e fortalecimento de ossos e dentes. Sua carência pode prejudicar o desenvolvimento da estatura, levando a complicações como raquitismo e má-formação óssea. As principais fontes desse mineral são produtos lácteos e seus derivados, contudo também existem opções vegetais como o couve, brócolis, amêndoas e castanhas. Para melhorar sua oferta, a nutricionista dá outra dica “a vitamina D melhora a absorção do cálcio, portanto é importante consumir alimentos ricos nesse nutriente como peixe e ovos. ” – além de tomar sol moderadamente, que é a principal fonte natural dessa vitamina.
• Vitamina A: Além de fundamental para a saúde ocular, a falta desse mineral pode igualmente prejudicar o crescimento da criança e afetar significativamente seu sistema imunológico. A nutricionista Joanna reforça sua importância: “esse nutriente é classificado como essencial, ou seja, não é fabricado pelo organismo e deve ser adquirido através da alimentação. ” Boas fontes de vitamina A são vegetais folhosos de coloração verde escura, a gema do ovo e frutas como a manga e o mamão.