‘Pratão’ de comida engorda tanto quanto o fast-food

Pesquisa mostra que refeições prontas exageram na quantidade

texto: Ana Lucia Azevedo / foto divulgação

Com pratos cheios de fazer corar estivador e um dos maiores índices de obesidade do planeta, os americanos conquistaram a fama de glutões do mundo. Mas não estão sós. Uma pesquisa realizada no Brasil, China, Finlândia, Índia, Gana e também nos Estados Unidos revelou que 94% das refeições vendidas em restaurantes populares contêm mais do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Quando se trata de abusar do risco de obesidade, estamos juntos. A exceção é a China, cujas refeições têm o tamanho apropriado.
A epidemia causa o efeito cascata de aumento de casos de diabetes do tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. Restaurantes populares são aqueles que vendem comida a quilo, pratos feitos, marmitex e prato executivo, segundo a coordenadora da pesquisa no Brasil Vivian Suen, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Realizada com o apoio da Fapesp, a pesquisa foi publicada no periódico British Medical Journal. O estudo analisou o fast-food e este não surpreendeu. Além do pouco valor nutritivo, engorda. Mas a chamada alimentação balanceada do brasileiro de equilibrada nada tem. Não estamos só comendo pior, mas exageradamente. Muitas vezes um prato considerado saudável pode engordar mais do que o de um fast-food. A quantidade calórica do prato típico – arroz, feijão, carne e salada – é 33% maior do que a do fast-food, diz Suen. Isso acontece porque a salada ganha a companhia de porções de carboidratos, sejam eles batata, aipim, massas ou farofa. O ovo se junta à carne e esta, de preferência, ainda ganha queijo.

Almoço vale por quase todas as refeições
O brasileiríssimo arroz, feijão, frango, mandioca, salada e pão tem 841 gramas e 1.656 quilocalorias. Uma pessoa adulta deve ingerir por dia de 2 mil (mulheres) a 2.500 quilocalorias calorias (homens), segundo a OMS. Mas os pratos servidos pelos restaurantes têm, em média, mil quilocalorias. Só no almoço se ingere quase todo o necessário por dia, frisa a pesquisadora. Na verdade, a OMS é até generosa com a ingestão calórica. Para não engordar, as pessoas deveriam ingerir entre 1.500 a 1.800 quilocalorias diárias, observa Suen.
Segundo ela, um almoço normalmente implica de 70% a 120% das necessidades calóricas diárias para uma mulher sedentária, cerca de 2.000 quilocalorias:
– Emagrecer não é fácil e não existe milagre. É preciso comer menos e escolher o que se come com sabedoria.

Quanto mais come, mais tem vontade
O estudo analisou o teor calórico de 223 amostras de refeições populares de 111 refeições de restaurantes de Ribeirão Perto (Brasil), Pequim (China), Kuopio (Finlândia), Acra (Gana), Bangalore (Índia). O resultado dos excessos se vê na balança. Hoje 54% dos brasileiros estão acima do peso. Destes, 18,9% são obesos, segundo o Ministério da Saúde.
Vivian Suen e seus colegas estão convencidos de que uma parcela da população confunde fome com vontade de comer. E isso tem explicação.
– Comer é muito bom. Mas muitas vezes comemos mais do que devemos e nem nos damos conta. Nada tem a ver com fome – diz Suen.
Os pesquisadores reconhecem que, muitas vezes, a comida funciona como válvula de escape para as durezas da vida. Fugir do sedentarismo tampouco é fácil em cidades quentes, lotadas, esburacadas e violentas, hostis à prática de atividade física.
– Sabemos que não é fácil. Mas engordar não pode ser opção e comida não é refúgio, pois os problemas aumentam – frisa.
Ao buscar refúgio e prazer na comida em excesso, a pessoa acaba aprisionada pela obesidade. Os mecanismos de compensação bioquímica do cérebro são afetados e a pessoa perde a noção do exagero e da saciedade. O organismo precisa de cada vez mais alimento para ter a sensação de saciedade. E muitas pessoas têm os mecanismos de saciedade normalmente alterados, um distúrbio que nada tem a ver com força de vontade.
– Obesidade é uma doença. As pessoas precisam ficar atentas a isso, principalmente, se já têm propensão a ganhar peso. O importante prevenir – destaca a cientista. A gordura engana o cérebro e isso não é força de expressão e sim resposta aos mecanismos bioquímicos de compensação. Quanto mais se come, mais o corpo pede.