Papai noel existe? O fim de uma fantasia pode ser cruel

Veja como lidar com as perguntas de seu filho

18---Natal-4A noite de Natal tem o dom de transformar fogos de artifício em trenó e barulho no cômodo ao lado em pulo de Papai Noel pela janela. É inegável a magia da figura do ‘Bom Velhinho’ na festa que deixa pequenos com olhos brilhando. Mas uma hora a fantasia acaba, e há de se tomar cuidado para a descoberta não ser traumática para a criança: “é importante alimentar sonhos e, para a mãe não se passar por mentirosa, é ideal que o Papai Noel seja tratado no campo da fantasia, como representação da bondade, nunca da mentira, – explica Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, que dá mais dicas para manter a magia, sem infantilizar o desenvolvimento das crianças: “é comum que os filhos comecem a questionar os pais a partir dos 6 anos.
Mãe de Eduardo, de 6 anos, e Luisa, de 4, a médica Paolla Figueiredo, de 33, passou por uma ‘saia justa’ com o mais velho recentemente: “ano passado, ele pediu uma cobra de verdade para o Papai Noel. Tentei contornar, dizendo que os presentes tinham que ser coisas que pudessem ser compradas e que tivessem um valor razoável. Foi assim que, aos 6 anos, Eduardo deixou de lado o mundo da fantasia e resolveu o assunto: “ele me disse: ‘não existe e pronto. Isso é coisa para criança pequena. Eu já cresci e já entendi, contou a médica, que pediu ao filho para não dizer nada à irmã, que continua acreditando no ‘Bom Velhinho’.

Paolla Figueiredo
Médica, 33 anos

“Quando Eduardo, de 6 anos, pediu uma cobra verdadeira ao Papai Noel, eu tentei contornar, mas também acho importante que eles cresçam com educação financeira, tendo noção do valor das coisas, do que vale a pena ou não. Ele começou a perguntar, por exemplo, como o Papai Noel conseguia entregar presentes para todas as crianças, e eu expliquei que ele pedia ajuda aos pais, que, inclusive, davam presentes para as crianças do orfanato. Foi então que ele afirmou que sabia que não existia. Fiquei com medo de forçar a barra e criar uma decepção grande. Então, disse a ele que acreditar nisso era legal, que ele não devia sair gritando isso pelos quatro cantos da casa e respeitar o tempo da irmãzinha, que é toda romântica e faz cartinha. Fico até triste por Eduardo já ter quebrado o encanto, mas ele é precoce e eu ia ter que ficar inventando desculpas até ele dizer: ‘puxa, mamãe, está mentindo para mim’? Temos um acordo de não mentir”.

Suzane Sant’anna
Consultora, 42 anos

“A maioria das crianças que estuda com a Lívia, que tem 7 anos, acredita em Papai Noel, mas um amiguinho afirmou a ela que era mentira. Ela veio me perguntar e eu devolvi a pergunta: ‘você acredita’? Ela disse que sim e concluiu que o amigo estava errado. Eu acho que até os 10 anos isso é normal. Senão, as crianças ficam adultas cada vez mais cedo e acabam pulando etapas da vida que fazem parte da infância. O dia em que eu perceber que ela está começando a sofrer pressão, quando muitos colegas disserem que Papai Noel não existe, aí eu explico. Toda criança passa por isso. O ‘Bom Velhinho’ é uma figura representativa, como nos desenhos animados. Então, ela acredita, como acredita na Cinderela. É um sonho. Se o Natal já mexe com a nossa imaginação, que somos adultos, imagine com a da Lívia! Quando ela tinha 2 anos eu a levei para ver o Papai Noel no Maracanã e vi muitos adultos babando mais do que as crianças”.

Dicas
Por Quézia Bombonatto, psicopedagoga

1. Até quando se deve manter a fantasia? Não existe uma idade certa, mas, a partir dos 6 anos, a criança começa a questionar, dependendo da maturidade. Você não precisa contar tudo, mas, se após os 8 anos seu filho não tiver feito perguntas ainda, é conveniente dar pistas para a própria criança ir descobrindo. Se aos 10 anos ela ainda não sabe, ela pode começar a ser ridicularizada na escola, e as crianças são cruéis.

2. Como explicar a diferença de preços entre os presentes do seu filho e os dos coleguinhas dele? A partir dos 6 anos, é bom, antes do Natal, dizer algo como “nós estamos providenciando o presente que Papai Noel vai te dar”. É ideal dar a entender que são o pai e a mãe que estão provendo o presente. Senão um ganha um tablet e o outro um carrinho de plástico e a criança se pergunta: ‘que Papai Noel injusto é esse’? Aquela que tiver o presente mais barato vai desmitificando o Papai Noel mais cedo, já que sua fantasia não é correspondida.

3. O que fazer quando a criança perceber que os Papais Noéis da rua são diferentes? Responda perguntando, sempre. Como por exemplo: por que você acha isso? A partir da resposta da criança, você pode dizer que talvez existam vários, mas todos eles representam a mesma coisa. É importante saber por que ela está fazendo a pergunta, para evitar responder uma coisa que ela não quer ouvir.

4. Como não perder a confiança do filho após a descoberta, se o combinado é não mentir? Mostre que o Papai Noel faz parte do mundo do faz de conta, o mesmo do Peter Pan. Você pode dizer: “lembra que você acreditava que a vovozinha saiu inteira da barriga do Lobo Mau”? O mesmo argumento serve para o sapatinho da Cinderela. As bruxas não são de verdade e o espelho não conversa, mas existem no conto de fadas.