O melhor amigo da criança. Ou não? desenvolvimento

Saiba quando a relação entre pelúcias e crianças deixa de ser saudável

texto: Ana Paula Blower /infoglobo | foto:  Fabiano Rocha
texto: Ana Paula Blower /infoglobo | foto: Fabiano Rocha

Todo mundo teve – ou pelo menos conhece alguém que teve -, na infância, um bichinho de pelúcia, uma boneca ou até um paninho que não largava de jeito nenhum. Conhecido na psicologia como objeto transicional, ele tem um papel importante no desenvolvimento. Na novela ‘Pega-Pega’, o tema é ilustrado pela canguru de pelúcia Flor, da personagem Bebeth, que sofre com a morte da mãe.
Na trama, a menina, interpretada pela atriz Valentina Herszage, acredita que o bicho tenha vida e vontade próprias, o que já pode ser patológico, dizem especialistas. Na vida real, porém, tais objetos (amigos imaginários, inclusive) são um recurso da criança para lidar com a descoberta de que a mãe não estará sempre ali.
“Dos 3 aos 8 anos, é um perío-
do que se descobre que a mãe ou quem faz esse papel não estará sempre disponível. Isso gera insegurança. Para amenizar o sofrimento, a estratégia é o objeto de apego (ou transicional). A criança faz a transferência para o boneco e, na hora em que a mãe não está, tem esse amigo, fonte de consolo que dá a sensação de continuar ligado a alguém” – explica a psicóloga Paula Emerick, fundadora da Solace Institute.
Cada criança terá seu tempo para se ‘despedir’ da pelúcia. Na adolescência, ela já terá mais recursos, como a linguagem, para lidar com sentimentos, e a tendência é ir fazendo a quebra do vínculo. Se o processo se prolongar por muito tempo e forem percebidos sinais como extrema introspecção, pode ser preciso procurar ajuda.
“É para beneficiar, não atrapalhar. Brincar é muito proveitoso no desenvolvimento emocional. Mas se a criança está muito isolada, só faz essa brincadeira, perdeu a relação com a realidade e tem o bicho como algo ilusório, a relação está desequilibrada” – ressalta a psicóloga Renata Bento.
Especialistas lembram ainda que o objeto pode ajudar, durante um período, a elaborar a perda efetiva de alguém próximo e a lidar com o luto.

Personagem Bebeth, da novela da Rede Globo ‘Pega-Pega’, e a canguru Flor são inseparáveis
Personagem Bebeth, da novela da Rede Globo ‘Pega-Pega’, e a canguru Flor são inseparáveis

depoimento

Ligia Lopes, jornalista de 26 anos que tem a boneca Lilica desde os 3 anos

Minha mãe comprou a Lilica quando eu era bem pequena. Era muito apegada e dormia com ela todas as noites. Tinha o maior cuidado. Quando minha avó morreu, a Lilica foi um abraço nos momentos em que eu estava sozinha. O trauma, nunca superei, mas não recorro mais à boneca para chorar minhas mágoas. Passei a escrever ou orar. Ela agora é uma lembrança da minha infância.

Valente para seguir

O Valente é um cão vira-lata pequeno, mas muito forte e que inspira coragem. Ele é um personagem do projeto Fortalecer, do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), que ajuda crianças a concluir tratamento ortopédico e a enfrentar desafios.
O simpático cão está presente nas redes sociais e fisicamente, como uma pelúcia. O pequeno Luiz Eduardo Viana, de 6 anos, elogia o amigo.
“O Valente tem a autoestima de um leão e eu acho que também tenho. Me dá muita força. Quando meus pais me ajudam a subir um quebra-mola, aperto ele bem forte para não ter medo – conta o menino, que nasceu com malformação no tubo neural.
A mãe dele, Valeria Oliveira Viana, diz que o bichinho o ajuda também a fazer amigos. Os dois não se desgrudam.

18---Amigo-da-criança-(3)

Luiz Eduardo abraça o amigo de pelúcia: “Me dá muita força”
Luiz Eduardo abraça o amigo de pelúcia: “Me dá muita força”