Médico conta sua luta contra o câncer

Serenidade, docilidade e persistência. É nesse tripé que o psiquiatra e psicoterapeuta Flavio Gikovate, de 73 anos, vem se apoiando para enfrentar seu tratamento contra um câncer no aparelho digestivo, diagnosticado há cerca de um mês. Com muita coragem e transparência, o médico contou, no programa CBN Noite Total como está lidando com a doença.
“Eu não me assustei com o diagnóstico e acho importantíssimo as pessoas começarem a compreender. Hoje, se pensa no câncer como uma doença crônica e não como um diagnóstico fatal. Porque a maior parte deles responde de alguma maneira aos tratamentos quimioterápicos que existem”, disse Gikovate à apresentadora Tania Morales da CBN.
Ele diz que decidiu compartilhar sua experiência para ajudar quem vive situação semelhante e ensina: “não adianta ficar reclamando, perguntando por quê. Tudo bobagem, porque, se o aspecto psicológico não influi na origem do tumor, ele é muito importante na recuperação”.
Nos outros dois blocos da entrevista, Gikovate, que já voltou a trabalhar, trata da relação do paciente com os médicos e sobre como é importante se manter em atividade.
“Você precisa vê-lo (o médico) como um aliado. Quer dizer, mais um colaborador para você tentar ultrapassar esse obstáculo que apareceu na sua frente. Uma vez que você confia (na equipe médica), você se entrega. E foi exatamente o que eu fiz. Mesmo sendo médico, não fiquei olhando os exames, não fiquei perguntando nada e tudo que me mandaram fazer, eu fiz”, conta.

trechos da entrevista

Hábitos saudáveis: “tenho 73 anos e sempre tive uma ótima saúde. Sempre pratiquei exercícios e fui cuidadoso com a alimentação.”
Sentimento de culpa: “não existem causas psicológicas definidas e determinantes para justificar o aparecimento do tumor. Existem muitas lendas a respeito disso, que só servem para ativar e alimentar o sentimento de culpa. O tumor surge porque uma série de células começa a se multiplicar de modo atípico, e isso pode acontecer em qualquer momento, em criança pequena, onde não existe causa psicológica nenhuma.”
O diagnóstico: “quando comecei a me sentir fraco e fui parar no hospital, eu nunca tinha ficado doente na minha vida. Me deixaram praticamente três dias em jejum e fizeram todo tipo de exame, até chegar ao diagnóstico. Havia um pequeno sangramento na região do tumor, no aparelho digestivo, e isso estava me “esvaziando” de hemoglobina e de sangue. Por isso, a fraqueza. Na endoscopia, conseguiram cauterizar o sangramento e me deram muito sangue. Logo que me senti mais forte, começou a quimioterapia, no quarto dia (de internação).”
Confiança: “eu me comportei como paciente, não como médico. Não fui especular nada além daquilo que me falaram”.
Lições com pacientes: “aprendi muita coisa com meus pacientes. Tenho 50 anos de profissão e acompanhei pelo menos entre 50 e 100 pacientes com essa doença. Aprendi que você precisa de três coisas para se dar bem com esse tipo de obstáculo: serenidade, docilidade e persistência.”