Doce harmonia – borgonha

Região é um bom destino para os amantes do vinho

texto: Por Lucinéia Nunes/agência estado | fotos: divulgação
texto: Por Lucinéia Nunes/agência estado | fotos: divulgação

Cidades medievais, castelos, parreirais com seus tons de verde colorindo e contornando as encostas e alguns dos rótulos mais cobiçados do planeta fazem da região francesa da Borgonha um destino indispensável para os amantes do vinho e da boa mesa.
Desde 2014, com a reforma territorial das regiões francesas, a Borgonha foi unida ao território vizinho de Franche-Comté. Por sua localização, a região reúne vários terroirs e produz alguns dos melhores rótulos do mundo, entre os quais o Romanée-Conti. A maior parte da produção vitivinícola é composta pelas castas de chardonnay (vinho branco) e pinot noir (tinto). Outras uvas cultivadas são a tinta gamay e a branca aligoté.
Dijon dá as boas-vindas a essa região de colinas e vinhedos. Apesar do cenário medieval bem preservado, com construções de pedra e telhados coloridos, a cidade tem um ar sofisticado e moderno, que se revela em diferentes serviços, do transporte público à gastronomia. Sem falar no lado cultural, com seus museus e festivais durante todo o ano.
No verão há concertos de jazz nos parques e jardins, além de outros dois festivais: o Garçon, la Note!, com apresentações musicais gratuitas nos terraços dos cafés e restaurantes até 30 de agosto, e o Dièse, com performances digitais, visuais e musicais no centro histórico da cidade.
Já a pequena Beaune fica no centro da rota dos grands crus. Lugar ideal para conhecer vinícolas, participar de degustações e comprar vinhos, como os Hospices de Beaune.
Em Pontarlier, próximo à Suíça, você pode visitar destilarias de absinto, queijarias e esticar o passeio até Malbuisson para comer no restaurante Le Bon Accueil, estrelado pelo Guia Michelin. Outros tantos restaurantes, dos bistrôs aos estrelados, comprovam a alta gastronomia local, como o impecável Bernard Loiseau, em Saulieu.
Para acompanhar os vinhos, pratos típicos fazem bonito nos cardápios, caso do boeuf bourguignon – carne borgonhesa –, um cozido de carne com molho de vinho tinto, os escargots e o les gougères, tipo de pão de queijo francês, de massa leve e aerada, perfeito como aperitivo. Entre os ingredientes comuns na cozinha também estão cogumelos, aspargos, ovos (cozidos perfeitamente) e a conhecida mostarda de Dijon.
Os borgonheses, aliás, são famosos por dominar “a arte de saber viver”. Por isso, faça como eles: relaxe e aproveite ao máximo sua estada e cada taça de vinho. Santé!

SABOROSA CIDADE MOSTARDA
DIJON – Difícil não associar Dijon imediatamente à mostarda. De fato, a cidade é famosa pela produção do grão e do condimento de sabor intenso. Mas não só. A capital da Borgonha é um pequeno tesouro a ser explorado.
Cidade com muitas características medievais, também mescla outros estilos, como o gótico, o renascentista e o rococó. Em 2015, o centro histórico entrou para a lista de Patrimônios da Humanidade da Unesco.
A Place Darcy é um ótimo ponto de partida para explorar suas ruas, sem pressa e atento à arquitetura, ao comércio – com lojas como as Galerias Lafayette – e às delícias gastronômicas como o restaurante do Hotel La Cloche (hotel-lacloche.fr). Pegue um mapa distribuído nos hotéis e siga o trajeto indicado pelas placas numeradas e fixadas no chão com o desenho de uma coruja, o mascote da cidade.
A figura tem um significado importante para os moradores de Dijon. “Acredita-se que a escultura de uma coruja cravada na fachada da igreja Notre Dame, no século 15, dê sorte e realize o desejo de quem passar a mão esquerda sobre ela”, diz a simpática guia de turismo Carmen Caussanel. Não custa tentar.
Vale conhecer o Jardim Darcy, o primeiro jardim público, construído em 1880 ao redor do reservatório de água projetado pelo engenheiro Henry Darcy, 40 anos antes, para levar a água do Vale Suzon à cidade.

A Place Darcy é um ótimo ponto de partida para explorar suas ruas, sem pressa
A Place Darcy é um ótimo ponto de partida para explorar suas ruas, sem pressa

Na entrada da cidade, a Porte Guillaume é uma construção romana, datada de 100 anos depois de Cristo, que fazia parte das muralhas originais e foi redescoberta no século 19. Ao lado, fica a Rue de la Liberté, que concentra bons restaurantes, pâtisseries, chocolaterias, mercados, farmácias, antiquários e lojas de grife, formando um eixo comercial de encher os olhos com as ruas vizinhas.
Outro cantinho charmoso é a Praça François Rude, de 1904, batizada em homenagem ao escultor dijonense. O lugar também é conhecido como Place du Bareuzai, por causa da escultura Le Vendangeur, de um homem pisando nos cachos de uva – o bareuzai, como é chamado esse profissional na França. Um antigo carrossel confere ar nostálgico à praça.
Com 156 mil habitantes na região central e 251 mil em todo o seu território, Dijon foi eleita patrimônio gastronômico francês em 2013, e se prepara para ser “reinaugurada” em 2019, reforçando o título de cidade da gastronomia, com a abertura de um complexo que inclui hotel quatro-estrelas, salas de conferência, restaurantes, feira livre e escola de gastronomia.
De grão em grão. A França tem 5 mil hectares dedicados ao cultivo de mostarda, dos quais 60% ficam na Borgonha. Ainda assim, um bom volume de grãos é importado do Canadá. Além da popular loja da mostarda Maille (maille.com), visite a butique Edmond Fallot (fallot.com), empresa familiar que faz mostardas artesanais desde 1840 e conquistou em 2010 o selo IGP, de indicação geográfica protegida. Há mostardas com vinho branco, cassis, pimentão, manjericão, grãos, pimenta verde, entre outras (3 euros o pote).
Algumas são fortes a ponto de fazer chorar. Na dúvida, prove as mostardas que saem das torneiras no balcão.
Outra parada é a butique e salão de chá La Rose de Vergy (rosedevergy.com), que produz mais um clássico de Dijon, o pain d’épices, pão de mel um tanto pesado, mas saboroso, que pode ganhar até oito especiarias ou recheio de geleia. A receita secular leva mel e farinha de trigo, e nada de manteiga ou óleo (9,90 euros a lata). Outra especialidade local vendida na La Rose de Vergy é o licor de cassis.
Por fim, uma paradinha na La Boutique de la Truffe (boutiquedelatruffe.fr), que vende uma linha de produtos com trufa da Borgonha, uma parte extraída da propriedade da família, entre Dijon e Beaune, e outra comprada de vizinhos. Na loja há azeites, mostardas, patês e até joias com um pedacinho da iguaria. Trufas in natura ficam protegidas na vitrine e o quilo chega a custar 500 euros.