Como falar? Assuntos delicados devem ser abordados

Falar com as crianças exige tato, paciência, mas é necessário

Tanto em ‘Babilônia’ quanto em ‘Sete vidas’, novelas das nove e das seis respectivamente, há personagens que foram criados por casais de mulheres. Na trama do horário nobre, Teresa (Fernanda Montenegro) foi até chamada na escola do filho, Rafa (Chay Suede), pela diretora, que queria que ela se apresentasse aos colegas do menino como tia e não como mãe. Já na história de Lícia Manzo, a nora de Esther (Regina Duarte) não aceitava de jeito algum contar aos herdeiros que a avó paterna era gay. Como falar com as crianças sobre esse e outros temas para os quais nem sempre se tem as respostas na ponta da língua? Sim, porque na ficção e na vida real os pequenos em algum momento perguntam, colocando algumas mães contra a parede. Por quê? O que é? As respostas são necessárias para um desenvolvimento sadio e para não criar polêmica em torno de temas do cotidiano, como gravidez, nascimento e morte, por exemplo. No caso da microempresária Daniella Campos, de 34 anos, mãe da pequena Maria Fernanda, de 8, com o apoio da doutrina espírita, homossexualidade e desencarnação são assuntos tratados sem rodeios.
– Eu instruo a Maria da maneira como acho melhor para a idade dela. Nós tivemos um cachorro por 18 anos e ele morreu ano passado, quando tive que falar sobre a morte de uma maneira geral. Explico que as pessoas se reencontram em algum momento. Encarar a morte como ela é serve para compreender muitos processos na vida – afirma Daniella, que acrescenta: – nós temos amigos gays e disse que são pessoas que se amam. Não é proibido ser gay!

perguntas mais frequentes

1 –  O que você acha que é transar?
Gosto sempre de questionar à criança o que ela pensa sobre o que está perguntando. Elas devem saber que vêm do corpo da mãe, mas com a ajuda do pai. É bom dizer que um casal que se ama transa e é assim que se faz um bebê.

2 –  O que é a morte?
A vida é igual a uma flor. Aparece, brota, fica linda, perde as pétalas e desaparece. Todos nós vivemos um tempo aqui na Terra e não sabemos quanto vamos durar. A gente vai ficar triste com a morte, mas, aos poucos, a saudade de quem se foi torna-se uma lembrança boa.

3 –  Gosta de ver beijo em novelas?
A descoberta do prazer não deve ser censurada. É normal a criança colocar a mão na genitália. Mas acho importante mostrar para o menino e a menina que o toque em outras partes do corpo também é prazeroso. Claro que se a criança estiver excessivamente voltada para a sexualidade tem que ver o que está acontecendo.

4 –  Mãe, você brigou com a tia. Posso continuar gostando dela?
Há casos e casos! Os pais têm que ser claros. Eu não me dou bem com a sua tia, mas ela é boa para você. Não tem que obrigar a criança a cortar relações com a pessoa.

5  – Por que eu fui adotado?
Adoção é uma escolha. Sempre que uma criança perguntar sobre isso, é importante explicar que foi uma escolha. Não foi por acaso. É amor!

 

Flávia Magalhães franco Professora, 39 anos “Eu sou professora primária e lido com muitas perguntas de crianças todos os dias. Em casa, não é diferente! Ano passado, minha filha mais nova, Lavínnia, de 12 anos, ficou menstruada. Ela me questionou: “e agora, mãe? Me explica tudo”. Não foi uma situação exatamente confortável para mim, mas tínhamos que conversar sobre o assunto. Na ocasião, deixei de lado a figura de linguagem. Acho que tudo tem seu tempo! Disse que, a partir daquele momento, ela poderia engravidar, por exemplo. Além de falar sobre esse novo momento em que o corpo dela estava passando, abordei a relação sexual. Expliquei como se fosse para um adulto. Enquanto eu falava, ela me olhava um pouco com vergonha. De qualquer maneira, acho importante essa troca entre mãe e filha, para que ela sinta segurança em mim, em poder falar comigo sobre qualquer outro assunto que considere importante, difícil ou polêmico”.
Flávia Magalhães franco
Professora, 39 anos
“Eu sou professora primária e lido com muitas perguntas de crianças todos os dias. Em casa, não é diferente! Ano passado, minha filha mais nova, Lavínnia, de 12 anos, ficou menstruada. Ela me questionou: “e agora, mãe? Me explica tudo”. Não foi uma situação exatamente confortável para mim, mas tínhamos que conversar sobre o assunto. Na ocasião, deixei de lado a figura de linguagem. Acho que tudo tem seu tempo! Disse que, a partir daquele momento, ela poderia engravidar, por exemplo. Além de falar sobre esse novo momento em que o corpo dela estava passando, abordei a relação sexual. Expliquei como se fosse para um adulto. Enquanto eu falava, ela me olhava um pouco com vergonha. De qualquer maneira, acho importante essa troca entre mãe e filha, para que ela sinta segurança em mim, em poder falar comigo sobre qualquer outro assunto que considere importante, difícil ou polêmico”.

 

Daniella Campos Microempresária, 34 anos Maria Fernanda viu alguma coisa na televisão ano passado e me perguntou o que era sexo. Não contei tudo. Minha explicação se resumiu a dizer que é algo que acontece quando o casal está namorando, mas não entrei em detalhes. Ela sabe que papai e mamãe também namoram. Uma vez, Maria Fernanda quis saber como nasce uma criança. Eu disse que o papai coloca uma semente dentro da mamãe e, depois de nove meses, nasce o bebê. Acho que os pormenores ela pode aprender mais tarde. Mostrei também o vídeo do nascimento dela, uma cesárea. As imagens não assustaram porque ela nasceu limpa, quase não tinha sangue. Para Maria, pareceu muito tranquilo. Mas não conversei ainda sobre o parto normal, por exemplo.
Daniella Campos
Microempresária, 34 anos
Maria Fernanda viu alguma coisa na televisão ano passado e me perguntou o que era sexo. Não contei tudo. Minha explicação se resumiu a dizer que é algo que acontece quando o casal está namorando, mas não entrei em detalhes. Ela sabe que papai e mamãe também namoram. Uma vez, Maria Fernanda quis saber como nasce uma criança. Eu disse que o papai coloca uma semente dentro da mamãe e, depois de nove meses, nasce o bebê. Acho que os pormenores ela pode aprender mais tarde. Mostrei também o vídeo do nascimento dela, uma cesárea. As imagens não assustaram porque ela nasceu limpa, quase não tinha sangue. Para Maria, pareceu muito tranquilo. Mas não conversei ainda sobre o parto normal, por exemplo.
Monique taranto Consultora de RH, 29 anos Ano passado, Kayla, de 8 anos, me disse que estava namorando um menino da escola. Fiquei assustada, mas perguntei: “como é esse namoro”? Ela me disse que só ficava de mãos dadas com ele na hora do recreio e conversava. Aí expliquei que eram crianças e que beijo na boca só quando fossem maiores! Depois, ela disse que terminaram. Na verdade, não vi problema nisso, apesar de achar que as crianças estão mais precoces. Em uma outra situação, ela estava com algumas amigas em casa e me perguntou o que era transar. Fiquei sem graça, mas expliquei que era quando as pessoas namoravam pelados. Então ela falou: “é assim que nascem os bebês”? Eu disse que sim e ela não falou mais nada. Ficou satisfeita”.
Monique taranto
Consultora de RH, 29 anos
Ano passado, Kayla, de 8 anos, me disse que estava namorando um menino da escola. Fiquei assustada, mas perguntei: “como é esse namoro”? Ela me disse que só ficava de mãos dadas com ele na hora do recreio e conversava. Aí expliquei que eram crianças e que beijo na boca só quando fossem maiores! Depois, ela disse que terminaram. Na verdade, não vi problema nisso, apesar de achar que as crianças estão mais precoces. Em uma outra situação, ela estava com algumas amigas em casa e me perguntou o que era transar. Fiquei sem graça, mas expliquei que era quando as pessoas namoravam pelados. Então ela falou: “é assim que nascem os bebês”? Eu disse que sim e ela não falou mais nada. Ficou satisfeita”.

Dica da especialista

A terapeuta de família e casal Suely Engelhard explica que, de modo geral, o adulto é quem polemiza. “Quando crescemos, esquecemos como se fala com os pequenos. Por isso, as coisas ficam complicadas. Responder de forma simples é difícil”, diz a psicóloga, ressaltando que a orientação deve sempre respeitar o que a criança é capaz de absorver de acordo com sua experiência e faixa etária: “de qualquer maneira, o filho nunca pode ficar sem resposta! Se a mãe ficar embaraçada, é melhor dizer que vai explicar quando estiver mais bem informada. Até porque o adulto não tem obrigação de saber tudo”.

18---Especialista
Em relação aos temas que abordam namoro, Suely avisa que, quando a criança fala que está namorando, é preciso fazer ela entender como uma pessoa da idade dela pode namorar. “Outra coisa importante é entender como natural o fato de eles colocarem as mãos nos próprios órgãos sexuais. O adulto vê isso como se a criança tivesse sexualidade precoce. Não é! A primeira forma de se conhecer é no toque. Já no caso da menstruação, antes da adolescência, os pais devem orientar a filha até em relação às roupas mais convenientes para ela usar”. Segundo a terapeuta, outro assunto que causa muita dúvida entre as mães é a morte (veja acima as cinco perguntas mais frequentes apontadas por Suely e as respostas que ela acredita poderem ajudar): “não tem que dizer que a pessoa virou estrelinha. Explique de uma forma clara, sem conotação de medo e com segurança”.