Como enfrentar o transtorno tdah

Especialistas alertam para importância da qualidade de vida

texto: Clarissa Monteagudo/infoglobo | foto: divulgação
texto: Clarissa Monteagudo/infoglobo | foto: divulgação

“Doutor, quero fazer um concurso. Me dá Ritalina?” A pergunta cada vez mais comum nos consultórios acende um alerta. O modismo em torno do Transtorno do deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) faz com que cada vez mais adultos busquem os consultórios atrás de uma solução mágica para a falta de concentração. O diagnóstico, entretanto, é sério. E faz muitas crianças sofrerem com acusações de ‘preguiçosas’, quando precisam é de tratamento. E de mudanças na qualidade de vida.
“No mundo inteiro, 7% da população apresentam TDAH. No Brasil, muitas crianças são vistas como relaxadas e mal-educadas pela falta de identificação do problema. Cerca de 25% das pessoas com TDAH não terminam o ensino médio.” – explica o neurologista Roger Soares.
Mas é preciso evitar que o diagnóstico vire modismo, alertam especialistas.
“O TDAH nasce com a pessoa, não aparece na hora de um concurso. Há uma tendência de as escolas apontarem TDAH em crianças que estão com comportamento inadequado. É preciso fazer o diagnóstico com paciência e analisar todo o entorno da criança.” – explica o psiquiatra Alfredo Castro Neto.
Autor do recém-lançado livro ‘Hiperativos! Abaixo a cultura do deficit de atenção’, o filósofo Christoph Türcke reflete sobre o ritmo frenético do mundo moderno e a saúde mental das crianças. E propõe que os pais substituam o vício em telas de smartphones pela repetição de antigos hábitos: “diariamente, brincar com os filhos, contemplar com eles imagens, livros, coisas cotidianas, ouvir músicas com eles, se dedicarem a uma só coisa a um tempo”.

Falta de atenção e foco

Segundo o neurologista Roger Soares, o TDAH é caracterizado pela falta de atenção, inquietação e impulsividade: “o mais comum é a mistura desses sintomas, até porque a desatenção tem um componente de hiperatividade. Fazemos o diagnóstico com base na intensidade dos sintomas. Isso acontece por falta de controle inibitório. É justamente a falta desse controle, desse freio, que a criança não consegue manter a atenção e age impulsivamente”.
Um dos problemas que o TDAH acarreta é a baixa autoestima porque a criança não consegue completar as tarefas diárias.
“O problema aparece antes dos 7 anos. Mas se admite o aparecimento até os 12. Em 80% dos casos, a causa é genética.” – diz.

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entrevista

Alfredo Castro Neto, psiquiatra e psicoterapeuta

Quando você oferece um lápis de cor, a criança mal vê uma cor e já pega outra, e outra. Ela não consegue manter a atenção para completar aquela experiência. E mostra uma agitação que também vem dessa dificuldade de manter o foco.
Normalmente, a criança com TDAH gosta de video-
game porque o jogo estimula a área de recompensa cerebral. Então, ela é incapaz de ter boa concentração no colégio. Gosta do game, mas não estuda. A criança sente uma angústia por não conseguir controlar a ação.
Tive um paciente que desenhou um “bichinho com a mão podre”. Foi a forma de expressar sua dificuldade com a coordenação motora fina. Têm crianças de 9 anos que fazem desenhos de 5. Uma delas fez um desenho rudimentar. Perguntei. Era o “garoto fechadura no mundo sem chaves”. Ele não se sentia adequado à sociedade.