Autismo: jovens estão desamparados pela Prefeitura

Mesmo com documento da Prefeitura garantindo atendimento sem limitar idade dos pacientes

Os maiores de 18 anos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA), na cidade de Indaiatuba, estão desassistidos. Simples assim. Mesmo com um documento da Prefeitura, assinado pelo Secretario Municipal da Família e do Bem Estar Social, Luiz Henrique Furlan, garantir que a “idade dos pacientes não seria fator limitante, ou seja, serão (iam) acolhidos crianças e adultos”.



Porém, na prática, isso não acontece. A senhora Y (os nomes estão preservados a pedido dos entrevistados) conversou com a reportagem do Jornais Exemplo/Nova Metrópole e garantiu que sua filha, portadora do TEA, hoje com 19 anos de idade, não é mais acolhida pelo Espaço Avançar e diante disso fica em casa – sem possibilidade alguma de um melhor desenvolvimento intelectual e motor. Ela foi informada que, pela idade, a menina não teria mais direito. E da mesma forma vem acontecendo com outros jovens adultos autistas que, a partir de 17 anos e 11 meses, começam a ter problemas nesse sentido e muitos (ou todos) recebem “alta médica” dos serviços públicos municipais. O que causa estranhamento por conta das características do TEA.

Muitos pais reclamaram junto a Prefeitura e Secretarias, mas foram informados que o atendimento segue normal. Todavia, no dia a dia, isso não se verifica. Aliás, os pais de um menino de 17 anos e meio, prestes a perder o acolhimento, confirmaram que o atendimento mesmo de crianças menores com TEA vem deixando a desejar na cidade. Ao que parece, a equipe multidisciplinar que cuida desses pacientes em Indaiatuba, seja na Rede Escolar ou nos Centros Especializados, não está preparada para lidar com um plano individualizado de trabalho. Vale lembrar que é direito de todo o cidadão ter assistência de saúde e escolar. Porém, os direitos dos autistas, mesmo com diferenças claras e objetivas de cada indivíduo, são tratados como os direitos daqueles plenamente sociáveis.

A Prefeitura de Indaiatuba tinha um projeto sobre TEA. Inclusive recebia repasses de verba do Governo Federal. Mas, de acordo com pais de autistas, em conversa com o Prefeito Nilson Gaspar, a “cidade perdeu esse projeto”. Em outras palavras, algum tipo de erro aconteceu na execução e Indaiatuba perdeu a verba federal. O prefeito garantiu que outro projeto está em preparação. Mas, enquanto isso, pacientes estão sem atendimento há 2 ou mais anos. O Ministério Público, por denúncias de vários pais, já está ciente e toma as medidas amparadas pela lei. Seria importante que o prefeito e os secretários envolvidos na questão do TEA viessem a público com as explicações necessárias e as medidas a serem tomadas. Os envolvidos e, mesmo, a população não envolvida, merecem essa satisfação

Centro de Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista
Entregue em 2020, o Centro de Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista “Roseli Maria Ferreira” foi inaugurado apenas em abril de 2022, por conta da pandemial. A administração do prédio está sob a responsabilidade do Cirva (Centro de Integração, Reabilitação e Vivência dos Autistas), classificada através de chamamento público e habilitada para firmar parceria com a Prefeitura de Indaiatuba através da Secretaria de Assistência Social.

Atualmente, de acordo com a Prefeitura, 140 pessoas com autismo estão em acompanhamento na unidade e as que desejam ingressar e participar das atividades, devem procurar presencialmente o Centro de Cuidado da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, localizado na Rua Persio Sampaio Filho, nº 152, Jardim Renata.
O prédio construído recebeu investimento no valor de R$ 1.195.163,61. Conforme projeto da Secretaria de Planejamento Urbano e Engenharia, a edificação tem 490,58m2 de construção, em um terreno de 957,37m2.

São seis salas multiuso, uma oficina terapêutica, sala sensorial, sala de fisioterapia e sala de hidroterapia com piscina de 2,20m de largura com 3,40m de comprimento e 1,20m de profundidade, e vestiário. O prédio também terá cozinha, refeitório e varanda. Porém, seu foco está nas terapias e não no desenvolvimento intelectual dos usuários. E os atendimentos, de acordo com alguns pais, restringe-se a menores de idade.

Entenda

O transtorno do espectro autista (TEA) se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem, e por uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva.
O TEA começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Na maioria dos casos, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida.

Indivíduos com transtorno do espectro autista frequentemente apresentam outras condições concomitantes, incluindo epilepsia, depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O nível de funcionamento intelectual em indivíduos com TEA é extremamente variável, estendendo-se de comprometimento profundo até níveis superiores.

As intervenções para as pessoas com transtorno do espectro autista precisam ser acompanhadas por ações mais amplas, tornando ambientes físicos, sociais e atitudinais mais acessíveis, inclusivos e de apoio.

Em todo o mundo, as pessoas com transtorno do espectro autista são frequentemente sujeitas à estigmatização, discriminação e violações de direitos humanos. Globalmente, o acesso aos serviços e apoio para essas pessoas é inadequado.

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