‘A Cabana’ estreia nos cinemas

Atriz visita o Brasil e concede entrevistas

Filme explora a relação entre um menino e seu novo irmãozinho
Filme explora a relação entre um menino e seu novo irmãozinho

Octavia Spencer acha graça e ri. Desde que chegou ao Brasil, ela não fez outra coisa senão dar entrevistas.
Na coletiva de ‘A Cabana’, Octavia já se referira à locação no Canadá como prova da generosidade de Deus para os homens. A generosidade dela? Pois Octavia interpreta Deus no filme que Stuart Hazeldine adaptou do best-seller de William P. Young. Octavia havia feito uma observação engraçada – como boa cristã, ela gosta de começar seu dia conversando com Deus, pela manhã, pedindo-lhe para abençoar a jornada que está começando. Durante a feitura de ‘A Cabana’, ela sentia aquilo como uma coisa esquizofrênica, como se Papa, ou Papai, seu personagem, conversasse consigo mesmo.
‘A Cabana’ estreou na quinta-feira (6). Um lançamento grande da Paris Filmes – 600 salas, no mínimo. O livro vendeu como água, a distribuidora espera faturar bastante. O filme é uma espécie de Nosso Lar de luxo, made in Hollywood. Conta a história de Mack/Sam Worthington, esse bom homem cuja filha é sequestrada (e morta) por um serial killer. Mack faz seu luto sem ter um corpo para enterrar. Desespera-se, e a família corre o risco de se desintegrar. E é nesse momento que Mack vive sua experiência visceral na cabana do título. Nesse recanto paradisíaco, verdadeiro Jardim do Éden, vivem Papa, seu filho Jesus e Sumire. A Santíssima Trindade, representada por uma mulher negra de seios fartos, um israelense de ascendência tunisiana e uma japonesa.
Na coletiva, Octavia disse que, embora não contracene com a atriz brasileira Alice Braga, sua cena favorita no filme é com ela. Alice faz a Sabedoria. Encontra-se com Mack, que julga o mundo ao redor. É fácil condenar os outros. O julgamento volta-se contra ele. “Acho a cena muito bonita. Ela resume um dos muitos significados do filme. Sua mensagem de amor. Julgar e condenar os outros é próprio de quem se sente superior e não reconhece as próprias limitações.” A cena pode ser aquela, mas Octavia gosta muito da representação da Santíssima Trindade. Mais tarde, quando adquire uma forma masculina, Deus é interpretado por Graham Greene, um ator nativo americano (índio), que adquiriu notoriedade em Dança com Lobos, de Kevin Costner.
Uma negra, um índio, um cara do Oriente Médio (Aviv Alush), uma japonesa (Sumire). “É uma forma de dizer que Deus é todo mundo, está em toda parte. Um dos problemas do mundo atual é essa espécie de xiismo que coloca uma representação de Deus acima de todas as outras. Todos esses outsiders compõem um Deus mais tolerante, com certeza.” Quando Mack entra na cabana, Deus/Octavia está ouvindo música no IPhone, e fazendo pão. A trilha é… Neil Young. “Um grande cara”, diz Octavia, mas não é dele a música de sua vida. Octavia confessa que até já cantou – em um espetáculo de TV -, Gladys Knight. Midnight Train to Georgia “For love gonna board…” É uma letra que fala muito com ela. É interessante que Hollywood busque os afro-americanos para que sejam Deus na tela. Morgan Freeman em O Todo-Poderoso.
Como escolhe seus papéis? “O de Estrelas Além do Tempo porque não conhecia a história daquelas mulheres (Hidden Figures, o título original). Mulheres negras que deram, anonimamente, uma contribuição extraordinária para a história da América. Gosto desse tipo de personagem pequeno, mas que se torna grande. Gosto do filme de mensagem. Mais que sobre fé, ‘A Cabana’ é sobre o amor que cura. Criei o meu Deus como uma mãe que foi cruel com seu filho, que o fez passar por uma provação e agora quer que seu filho seja feliz de novo.” O Oscar deste ano foi marcado por protestos, inclusive contra a supremacia branca – ‘Oscar so white’. O que ela diria ao presidente Donald Trump? “O que digo a qualquer pessoa. Mais amor, menos discriminação.” Interpretar Deus mudou alguma coisa para ela? “Vivo segundo o que, para mim, é uma regra de ouro. Trato os outros como espero ser tratada. Com afeto, respeito. O mundo seria melhor, se todos agissem assim”.