Homem-Formiga e a Vespa, um drama familiar feito para rir

É possível até que o espectador se divirta com esta sequência

Nesse mundo de consumo rápido, o site Rotten Tomatoes virou referência do gosto do público nos EUA. Se os ‘Tomates Podres’ aprovaram, os produtores relaxam – é quase certo que o filme vai estourar. Rotten Tomatoes deu 90% de aprovação para Homem-Formiga e a Vespa. No site popular, o filme de Peyton Reed bateu Vingadores: Guerra Infinita. Não se trata de querer comparar guerras com o público, mas não entre nessa fria.
É possível até que o espectador se divirta – moderadamente – com a sequência de Homem-Formiga. As cenas de ação são eficientes e a transformação do personagem – tamanho normal, minúsculo, até gigante – no mesmo plano cria efeitos cartunescos que a gente encontra, por exemplo, em Os Incríveis 1 e 2. Já as piadas são invariavelmente sem graça, e um bom exemplo disso é o personagem do marido da ex-mulher de Scott Lang.
Nada do que ele faz ou diz para tripudiar o (ex) rival consegue divertir de verdade. E tem a, digamos, dramaturgia. De cara, o filme desenha-se como um conflito familiar. Os dublês de cientistas e super-heróis Michael Douglas e Michelle Pfeiffer despedem-se da filha e partem em uma nova missão que os leva a um desafio decisivo. Marido e mulher separam-se e ela fica presa no mundo quântico. Pelas décadas seguintes, Michael Douglas vai tentar trazer a mulher de volta, mas só conseguirá localizá-la com a ajuda da filha, a Vespa, e do Homem-Formiga.
Pode-se imaginar que bela tragédia familiar um Zack Snyder criaria a partir daí, mesmo com o risco de desagradar a fãs que consideram a mitologia das HQs intocável. O roteiro esboça uma espécie de drama, mas o objetivo é a comédia. Para fazer rir, Reed (parece trocadilho) eleva a destruição urbana a doses pantagruélicas. Por causa desses estragos, os super-heróis tornam-se indesejáveis em Os Incríveis 2. Menos superpoderes, mais habilidades (a meta de Brad Bird no outro filme). Para complicar ainda, o final tem de ser aberto para justificar a promessa – Homem-Formiga e a Vespa voltarão. A certeza vira interrogação, considerando-se aonde vai parar o herói e o que ocorre com seus parceiros.

Leveza
Aquele estalar de dedos. Aquelas cinzas. As últimas palavras exibidas na telona: “Thanos voltará”. A desolação ao final de Os Vingadores: Guerra Infinita, filme lançado em abril deste ano, é daquelas que ficam na cabeça – e, caso não estejam porque o leitor não assistiu ao mais recente filme do Marvel Studios, é bom parar o texto por aqui, já que os spoilers estarão por todos os lados.
Depois de um final de filme de fazer o público engolir seco e entregar o melhor vilão da Marvel nos cinemas, o estúdio decidiu pela leveza. Assim, surge Homem-Formiga e a Vespa, um filme bastante importante dentro do universo cinematográfico e de Hollywood, por dar o protagonismo devido a uma personagem tão crucial quanto a Vespa, vivida por Evangeline Lilly. Mas o longa de Peyton Reed parece voltar algumas casas na evolução apresentada no filme anterior. Voltamos à ênfase nos momentos cômicos – e Paul Rudd, o Homem-Formiga, é mestre no seu timing – e, novamente, peca ao entregar um antagonista capaz de criar qualquer sentimento de empatia. Na falta de um, são dois (talvez até três) e todos serão esquecidos no próximo verão.
Leveza, a Marvel sabe bem, é bem-vinda e os sorrisos, ótimos de se conquistar. A culpa é de Guerra Infinita, que mostrou como o estúdio pode mais. Parece, no fim das contas, que Homem-Formiga e a Vespa é um filme fora do seu tempo. Deveria ter saído há seis meses, antes de Thanos chegar na Terra, reunir as Joias do Infinito e mudar a história da Marvel nos cinemas – e elevar o nível de exigência com um filme de super-heróis.