Férias com vento no rosto

O prazer de viajar de moto quase sempre remete à aventura

Divulgação

“Dizem por aí que quando a gente viaja de carro, só vê a paisagem. Mas quando viaja de moto, faz parte dela”. Ouvi a frase de um garçom, em um restaurantezinho na cidade de Holambra, a 135 quilômetros de São Paulo, onde cheguei despenteada e calorenta em uma das minhas primeiras viagens de moto.
Aparentemente, pode parecer, ele está certo. De moto, dá para sentir o exato momento em que a temperatura cai na serra para Campos do Jordão. Ou quão insuportável pode ser o calor de Piracicaba. Mas sobretudo, não causa aquela sensação de que o percurso da ida é maior do que o da volta, porque o caminho passa a ser mais interessante que o destino em si.
Desde essa viagem para Holambra, o hodômetro da moto rodou bastante. E chegou um momento em que São Paulo pareceu pequena. O Estado tem ótimos roteiros e boa parte das estradas estão em boas condições, mas é muito divertido ter mais quilômetros para contar. Selecionamos aqui roteiros que encaixam tanto para o bate-volta do domingo como em uma viagem de férias, divididos por dificuldade e distância a partir de São Paulo.

Uma maneira de os iniciantes ganharem experiência suficiente até se aventurar em percursos mais longos. Antes de ganhar a estrada, não esqueça de fazer manutenção preventiva e checar fluidos de freio, óleo e pneus. Tudo certo? Agora, é só botar os motores para funcionar.

 

CURITIBA
O apelido de Estrada da Morte que a Régis Bittencourt (BR-116) ganhou por causa de acidentes graves pode tornar a viagem para o Sul do Brasil menos atrativa. Mas há uma alternativa turística para motociclistas chamada Rastro da Serpente. Os mais experientes dizem que essa estrada “separa os meninos dos homens”, pois as curvas exigem habilidade e cautela, e o tempo de viagem, resistência.
Rastro da Serpente é o apelido das sinuosas SP-250 e da BR-476, que ligam Capão Bonito (SP) a Curitiba (PR). O tráfego de veículos é baixo, mas a pista não é duplicada e não tem acostamento. Em alguns trechos, principalmente entre Capão Bonito e Ribeira, a estrada tem muitos buracos e é preciso ir devagar.
O melhor é que esta viagem seja feita em grupo. Duas ou mais motos em formação ocupam o lugar de pelo menos um carro e inibe manobras perigosas de outros motoristas. E caso ocorra algum problema, é mais fácil obter ajuda, já que a distância entre uma cidade e outra nessa rodovia é grande.
A viagem começa na Castelo Branco (SP-280) até Sorocaba (saída 78). Na Rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho), saia para Votorantim; depois, siga para a Raposo Tavares (SP-272) até Capão Bonito. Até esse ponto são 230 quilômetros. É preciso parar para comer e abastecer a moto. O próximo trecho tem 98 quilômetros e vai até Apiaí, onde é possível pernoitar. Dali, restam 165 quilômetros até Curitiba.

 

MONTE VERDE
Do lado mineiro da Serra da Mantiqueira, Monte Verde é destino clássico entre paulistas no inverno. Mas o distrito de Camanducaia, a 1.554 metros de altitude, também oferece opções de lazer para quem quer sossego e temperaturas mais amenas durante o verão. E como é baixa temporada, os preços de hospedagem ficam de 30% a 50% mais baratos.
O melhor caminho a partir de São Paulo é pela Rodovia Fernão Dias. São 135 quilômetros até Camanducaia (saída 918) e motos pagam três pedágios de R$ 0,75 cada. A estrada é boa e duplicada, mas é preciso ter cuidado com o grande número de caminhões. Saindo de Camanducaia, uma serra íngreme e charmosa de 30 quilômetros levam até Monte Verde.

Do lado mineiro da Serra da Mantiqueira, Monte Verde é destino
Do lado mineiro da Serra da Mantiqueira, Monte Verde é destino

A gastronomia é ponto forte, com grande variedade de fondues, massas e trutas. E para gastar essas calorias, o melhor é fazer uma trilha. A da Pedra Redonda é uma das mais populares, tem menos de um quilômetro e pode ser percorrida em até 1h30. Outra opção é a trilha do Pico do Selado, com 4,5 quilômetros de subida até 2.083 metros de altitude. Ao final, uma bela vista para a cadeia de montanhas.
Para uma aventura off-road, agências da rua principal oferecem passeios de jipe para atrações da vila (R$ 60 por pessoa) e destinos próximos, como a Fazenda Esperança e Cachoeira dos Pretos (de R$ 100 a 120 por pessoa). Há tours de quadriciclo, moto e cavalo.

 

São Francisco Xavier
Distrito de São José dos Campos, o vila

rejo valeria a viagem só pela Rodovia Monteiro Lobato (SP-50): uma estradinha de pista simples que passa pela cidade da turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo antes de levar a São Francisco Xavier e seguir para Campos do Jordão.
São 60 quilômetros de exuberância natural. Entre o sobe e desce de curvas acentuadas, surgem vales bucólicos e casas solitárias de estilo colonial. Bambuzais na beira da estrada formam longos túneis e um riacho faz aparições discretas ao longo do trajeto. Quarenta quilômetros percorridos e bonecas Emília nas portas de pequenas lojas anunciam a chegada a Monteiro Lobato, onde é possível visitar o sítio onde o escritor passava suas férias e serviu de inspiração para suas histórias. Ingresso: R$ 10.
Como São Francisco Xavier está no meio da Mata Atlântica, há muitas opções de ecoturismo. Antes do portal turístico, a entrada à direita na rotatória leva à Reserva de Santa Bárbara. São cinco quilômetros de terra batida, onde é possível fazer trilhas sem ou com guia (R$ 22). Os passeios duram 1 hora e oferecem uma bela vista da cadeia de montanhas.
Vá pelo corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto e siga placas para São José dos Campos. Já na cidade, a sinalização para São Francisco Xavier é farta.

 

VISCONDE DE MAUÁ
E então chega a hora em que é preciso enfrentar um desafio maior e cruzar um limite estadual. Um roteiro que combina Penedo e Visconde de Mauá, no Estado do Rio, é um bom começo.
Charmoso distrito de Itatiaia, Penedo foi colonizado por finlandeses na década de 1920. As construções da vila têm forte identidade nórdica – a Pequena Finlândia, conjunto de lojas em casinhas típicas, é um bom exemplo. Nesta época do ano, fica ali a Casa do Papai Noel, parque temático onde é possível visitar o ‘bom velhinho’ e sua fábrica de brinquedos.
Será difícil resistir às fábricas de chocolate, que vendem o doce por quilo, e aos sorvetes artesanais. Nos restaurantes, muito fondue, truta e comida alemã. Há também uma hamburgueria (Sr. Duíche) e um bar de quitutes e cervejas artesanais (Penedon Brew Pub).

Impossível resistir às fábricas de chocolate em Visconde de Mauá
Impossível resistir às fábricas de chocolate em Visconde de Mauá

A RJ-163, uma estrada sinuosa com destino a Visconde de Mauá, começa em Penedo. As curvas ganharam até placas com nomes sugestivos, como Curva do Cotovelo e Curva da Ferradura. Prefira um dia com céu claro, porque você não vai querer subir essa serra de 30 quilômetros sob neblina.
Distrito de Resende, Visconde de Mauá é um convite ao ecoturismo. Logo na entrada, há um centro de informações turísticas com mapas das vilas e sugestões de atividades. O lugar é dividido em três vilas: Mauá, Maringá e Maromba, nessa ordem. O asfalto vai até a segunda vila, onde é possível parar a moto e alugar um veículo off-road – moto ou quadriciclo (R$ 60 a hora, em média) – e partir para as trilhas. Um guia acompanha o percurso. Entre as cachoeiras do caminho, Escorrega, Véu da Noiva e Poção da Maromba.
Vá pelo corredor Ayrton Senna/Carvalho Pinto até o final. Pegue a Rodovia Presidente Dutra sentido Rio. Saia para Penedo no km 311.