Tradição educacional com a magia da cultura – Irlanda

Dublin oferece motivos de sobra para inspirar viajantes

 

A cidade especialmente vibrante tem um bairro da balada, o Temple Bar, estilo Vila Madalena, com um pub a cada dois passos
A cidade especialmente vibrante tem um bairro da balada, o Temple Bar, estilo Vila Madalena, com um pub a cada dois passos

Sabe aquela coisa cafona e ultrapassada que a gente odeia quando um gringo fala que Brasil é caipirinha, samba e, sei lá, belas mulatas? Pois eram exatamente esses estereótipos, na versão cerveja, U2 e lindos ruivos, que eu tinha na cabeça quando pensava em Irlanda e Irlanda do Norte. Estava errada? Assim como a galera equivocada que capricha na camisa estampada para curtir a noite em Copacabana, sim. Quer dizer, mais ou menos. O clichê é real e eles até alimentam isso, mas, vem cá: essa Europa cercada de água por todos os lados não é tão fácil assim de definir.
Sim, a cerveja é ótima. A Guinness, a real, encorpada, com um toque de café (para mim, pelo menos, me apedrejem mestres cervejeiros, se quiserem) e equivalente a uma refeição (para quem vive de regime) só se toma lá. Nem em Londres, ali do lado, se bebe essa maravilhosa invenção de 1759 em todo o seu esplendor.
Sim, o Bono ainda é um gato (cresci nos anos 1980), mora lá, dizem os guias de turismo, no chiquérrimo bairro de Killiney, no sul de Dublin, e faz shows-surpresa pela cidade, como o do Natal, em que ele cantou em plena Grafton Street, a rua de compras e uma das mais movimentadas da cidade.
E, sim mais uma vez, os ruivos (e ruivas) são bonitos, simpáticos e têm uma paciência de Jó com os estrangeiros, apesar de, às vezes, o sotaque deles fazer você acreditar que estão falando do papa (pope) em vez do pub ali da esquina.
Quer mais motivos para enfrentar um longo voo com escala obrigatória em algum lugar (não tem direto do Brasil)? Pois bem. Ali viveram, se inspiraram e criaram suas obras-primas James Joyce, George Bernard Shaw e Oscar Wilde, entre outros. É possível fazer tours guiados por onde esses gênios passaram ou simplesmente andar, especialmente pela região central de Dublin, esbarrando na casa em que um nasceu, no pub em que outro escrevia, e por aí vai.
Na outra ponta da ilha, já na Irlanda do Norte, Belfast entra no circuito exótico-para-contar-para-os-amigos. De lá saiu o Titanic rumo à (triste) história, e esses caras não estão brincando quando dizem que têm uma ‘rota cênica’, com praias e penhascos espetaculares.
E, se ainda resistir a tudo isso, aí vai a minha cartada final: vale a pena conhecer a(s) Irlanda(s) simplesmente porque é uma viagem diferente. Você já foi mil vezes para Londres, conhece Paris de ponta-cabeça e pega o metrô em Berlim com mais tranquilidade do que em São Paulo, mas não conhece Dublin nem Belfast. Que tipo de globetrotter é você, afinal?
Comece por Dublin. A cidade sofreu seus baques com a crise mundial de 2008, mas, tal qual uma Scarlett O’Hara europeia, fez das cortinas de veludo um vestido de festa e deu a volta por cima. Ali ninguém tem muita paciên-
cia para se lamentar do desemprego nem que a quebradeira geral corroeu economias e está criando uma geração perdida. Eles são duros na queda e não parecem se abalar facilmente.
Os irlandeses simplesmente se viraram para o óbvio: além de cortar salários e gastos do governo, perceberam que turistas dispostos a gastar sempre vão existir. E investiram, especialmente nos programas de intercâmbio. Resultado: é fácil ouvir português nas ruas da cidade.
Fonte da juventude, gente jovem, aliás, é o que parece deixar Dublin especialmente vibrante. A cidade tem um bairro da balada, o Temple Bar, estilo Vila Madalena, com um pub a cada dois passos. Escolher onde entrar é um ‘tiro no escuro’, mas, quase que invariavelmente, será um lugar bacana, com boa música (ao vivo na maioria das vezes) e cerveja a preços camaradas. E já que estamos falando de balada, vale um lembrete: o pessoal não é muito chegado em uma paquera mais, digamos, intensiva. Se alguém te interessar, você precisará fazer o meio de campo. Mas, embalado por Guinness, Smithwick’s ou qualquer outra das sensacionais cervejas de lá, isso não será um problema tão grande assim.
Além do intercâmbio, a fonte da juventude de Dublin atende pelo nome de Trinity College. Com mais de 400 anos de história, a universidade recebe gente do mundo todo, e seu campus é um passeio bem bacana. Ali estão a Old Library, suntuosa biblioteca com 200 mil exemplares lindamente encaixados em estantes de madeira (passeio de primeira, pode anotar), e o Book of Kells, manuscrito do século 9.º feito por monges celtas.