Receita do Brasil ganha destaque mundial: pastel de queijo
O pastel de queijo brasileiro conquista o reconhecimento internacional ao figurar na oitava posição de um ranking do TasteAtlas, guia de gastronomia que elegeu os melhores quitutes feitos com queijo no mundo. Com muçarela derretida envolvida em uma massa dourada e crocante, o clássico das feiras brasileiras foi o único representante nacional no Top 10.
A conquista reforça o papel do pastel como símbolo da culinária popular brasileira e de grande valor afetivo para diversas gerações. “O pastel representa memória afetiva: é infância, é visita à feira com os avós, é almoço rápido na faculdade. Ele também é um prato inclusivo, presente em todas as classes sociais e que se reinventa com versões vegetarianas, doces ou gourmet, sem perder sua essência”, afirma Katia Yoshihara, professora do curso de Gastronomia da Estácio.

Origem
De origem asiática, o pastel teria evoluído a partir do guioza japonês ou do rolinho primavera chinês, ganhando traços bem brasileiros a partir da década de 1950, quando feirantes descendentes de japoneses começaram a vender o quitute em São Paulo. “Foi a combinação entre sabor marcante, preparo rápido e custo acessível que ajudou a consolidar o pastel nas feiras e festas populares. Com o tempo, ele virou o par perfeito do caldo de cana e se tornou um ritual típico das ruas brasileiras”, explica.
Além da tradição, o pastel de queijo também se destaca pela diversidade regional. Em São Paulo e Minas Gerais, é comum o uso de muçarela pura ou queijo meia cura. No Nordeste, aparece com queijo coalho ou manteiga. No Sul, com queijos coloniais, e no Centro-Oeste, combinações com pequi e pimenta são frequentes. “Essa adaptação aos ingredientes locais mostra como o pastel carrega a identidade do Brasil em cada mordida”, pontua Katia.
Segundo a especialista, o preparo também exige técnica e a massa ideal deve ser crocante por fora e leve por dentro, resultado de uma combinação de ingredientes como farinha de boa qualidade, cachaça e temperatura correta de fritura. “O óleo deve estar a 180°C e os mais recomendados são o de soja, por ter um ponto de fumaça mais alto, assim como a gordura hidrogenada. Mas óleos como milho, algodão, girassol, são óleos mais neutros”, completa.
O mercado
Presente nas manhãs de domingo e nas feiras livres das grandes e pequenas cidades do país, o pastel de feira não é apenas um símbolo da culinária popular brasileira — é também um negócio que movimenta cifras expressivas. Estima-se que, em feiras de grande porte, como em Londrina (PR), sejam vendidos até 12 mil pastéis em um único fim de semana, gerando um faturamento superior a R$ 15 mil somente aos domingos.
Esse cenário se repete em diversas regiões do Brasil, onde barracas especializadas chegam a vender mais de 100 pastéis por dia, garantindo rendimentos mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 7 mil para os pequenos empreendedores. O preço médio do pastel varia entre R$ 5 e R$ 10, dependendo do tamanho e do recheio, que vai desde os clássicos carne e queijo até versões mais elaboradas, como camarão, costela ou sabores doces.
Apesar da popularidade, o setor tem enfrentado desafios. A inflação sobre os principais insumos — como carne e óleo — elevou os custos de produção, o que vem sendo repassado ao consumidor. Levantamentos indicam que o preço da carne do tipo patinho, bastante utilizada no recheio, subiu mais de 20% em alguns mercados nos últimos meses, enquanto o óleo de soja também teve alta significativa. O reflexo está no bolso do consumidor, que percebe aumentos frequentes e muitas vezes questiona a relação entre custo e qualidade.
A fidelidade do público, porém, ainda sustenta o mercado. O consumo de pastel de feira faz parte de um ritual afetivo do brasileiro, geralmente acompanhado de um copo de caldo de cana, e representa mais do que um lanche: é um momento de lazer e convivência. A força dessa tradição é tamanha que o pastel de feira frequentemente aparece em campanhas políticas e ações culturais como símbolo da brasilidade.
Redes sociais e fóruns também refletem o carinho — e as críticas — dos consumidores. Em plataformas como o Reddit, usuários paulistas e de outras regiões comentam o aumento dos preços, mas reconhecem que dificilmente resistem ao aroma característico do pastel recém-frito. “Está caro, mas é impossível passar e não comprar”, resume um dos relatos.
Mesmo diante dos altos e baixos da economia, o pastel de feira continua firme como ícone da gastronomia de rua e importante fonte de renda para milhares de famílias. Tradicional, versátil e lucrativo, ele permanece ocupando lugar de destaque no cenário urbano e no paladar do brasileiro.