Deborah Secco interpreta soropositiva em Boa Sorte

João Pedro Zappa é a grande surpresa do filme

A história se resume em romance de um garoto de 17 anos que perde a virgindade com uma mulher de 30 e poucos anos, e que está doente
A história se resume em romance de um garoto de 17 anos que perde a virgindade com uma mulher de 30 e poucos anos, e que está doente

João Pedro Zappa é quem divide a cena com Deborah Secco em Boa Sorte. No longa – sucinto – de Carolina Jabor (apenas 90 minutos), ele faz João, que é internado pela família. Conhece Judite, e sua vida muda para sempre. Aos 26 anos, Zappa até parece ter menos. Tem um monte de amigos que também são artistas, músicos, principalmente. Os não artistas é que querem os detalhes – como é fazer uma cena de sexo com Deborah Secco? Pois ele faz, em Boa Sorte, e é uma bela cena. Intensa, mas triste. O próprio filme carrega um pouco dessa tristeza, mas que ninguém se assuste com isso.
A ideia do mito erótico acompanha Deborah Secco, e não é de agora. Ela entrou no jogo. Jura que, no começo, entrou inocente, sem saber. Permaneceu, movida pela necessidade. Com franqueza, abre o jogo – “Trabalho desde os 8 anos. Sustento muita gente”. Tudo o que fez na fase adulta – posar nua, fotos eróticas – foi pensando na família. “Comprei um apartamento para cada um deles”. Era sua meta.
E, então, atingido o objetivo, ela anunciou que acabara. Ia cuidar da carreira que queria. Papéis de verdade. Bruna Surfistinha e Judite flertam com a morte.
Desde que leu o conto Frontal com Fanta, de Jorge Furtado, Deborah ficou tocada pela personagem. Embora defenda que as pessoas experimentem ‘tudo’, ela jura que nunca consumiu drogas. Não foi por aí que Judite mexeu com ela no conto e, depois, no roteiro coescrito por Furtado com seu filho Pedro. Ela simplesmente venera o escritor e cineasta gaúcho, com quem já trabalhou em Meu Tio Matou Um Cara. “Acho que foi minha primeira experiência real de superação. Eu, de origem tão humilde, filmando com o Jorge… Não conseguia nem acreditar”. E, de volta a Judite – “A personagem é soropositiva e eu fui me consultar com um especialista. Um cara que só atende pacientes doentes de aids. Queria entender aquele olhar que me intrigava em pacientes terminais. Ele me falou em uma viagem além do desespero. Depois de toda angústia, de toda revolta, a paz adquirida. Hoje, com o coquetel, a situação mudou um pouco, mas antes a aids era uma decretação de morte, e breve. O olhar do condenado, de quem aceita, de quem não luta mais”. De novo Deborah Secco é impressionante. Na trama do filme de Carolina Jabor, João, amoroso de Judite, quer morrer com ela, e por ela. Sabendo disso, Judite cria uma situação – sacrifica-se – para que ele tenha uma chance. Boa sorte, João.
Ela conta que teve de se isolar para fazer a personagem. Durante a preparação e, depois, a rodagem, foi morar em um hotel, sozinha. Todo mundo estranhava, a própria diretora. “Não fazia sentido para mim continuar com minha vida, cercada pela família, os amigos. Sentia que, para entrar na Judite, eu precisaca daquele isolamento, de ficar comigo”. Quando a rodagem terminou, Judite insistia em permanecer com ela. “Achava tudo sem sentido, que a vida não valia a pena. Foi só uma fase. Jamais pensei em me suicidar. Tive uma irmã que morreu quando eu ainda era criança, e aquilo me marcou. A morte vai chegar para mim, como para todo o mundo, mas quando isso ocorrer vai me encontrar cheia de vida”.