Mobi é um dos modelos que não começou bem

Motor de 4 cilindros defasado é um dos motivos

Visual e central exclusiva se destacam no novato da Fiat, porém o Mobi não foi bem no primeiro mês completo de vendas texto: Rafaela Borges  | foto: divulgação
Visual e central exclusiva se destacam no novato da Fiat, porém o Mobi não foi bem no primeiro mês completo de vendas
texto: Rafaela Borges | foto: divulgação

“Como pode uma montadora lançar um carro com um motor cuja ‘morte’ já está anunciada e deverá ocorrer em, no máximo, um ano?” Questionamentos como esse têm sido feitos por especialistas de mercado desde a chegada do Mobi, em abril, e ajudam a explicar a razão de um dos principais lançamentos da Fiat nos últimos anos ter começado mal sua carreira no país. Em maio, primeiro mês completo de vendas, o compacto teve 2.407 emplacamentos – ficou na 21ª posição do ranking nacional.
À frente do novato, que parte de R$ 31.900, há vários modelos bem mais caros, como Toyota Corolla, Honda HR-V, Jeep Renegade e sua ‘irmã’ Fiat Toro. O Mobi não conseguiu largar na frente nem do Volkswagen Up!, com o qual veio disputar compradores e que, até hoje, mais de dois anos após seu lançamento, também não chegou a deslanchar.
Por causa do começo ruim, a Fiat já revisou sua meta de vendas para o carro – de 7 mil para cerca de 5 mil unidades por mês. Mas fontes ligadas à empresa admitem que 4 mil é um número mais realista.
O Mobi é um dos exemplos de carros que tiveram mau começo nos últimos anos. A maioria nunca conseguiu se recuperar. “O principal problema é o momento do mercado, que fez o consumidor, especialmente desse segmento, tornar-se mais racional na hora da compra”, explica o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive.
“Quando o cliente vai à concessionária e vê o Palio Fire (a partir de R$ 29.160), maior e mais acessível, não pensa duas vezes: escolhe o veterano”, diz.
Ser um subcompacto é outro ponto contra o Mobi. Esse segmento, no qual os carros têm dimensões internas diminutas, mas diversas soluções modernas, de apelo emocional, ainda não caiu no gosto do brasileiro. Exemplos são a primeira geração do Ka, que nunca fez sucesso, e o próprio Up!.
Ainda assim, as marcas estão investindo na categoria. É o caso da Renault, que lançará o Kwid no mercado brasileiro no segundo semestre.
O Mobi também traz motor defasado. Trata-se do mesmo 1.0 de oito válvulas e 75 cv do Uno. Antes do fim do ano o carrinho receberá um três-cilindros mais moderno, que deve aposentar o quatro-cilindros veterano. Isso afasta o consumidor mais antenado, pois não faz sentido adquirir uma versão que em breve deixará de existir.
Problema semelhante vem prejudicando o Peugeot 2008, lançado em 2015. A versão com motor mais potente, 1.6 turbo, não tem opção de câmbio automático, um erro que, no Brasil, é grave para um carro tabelado acima de R$ 70 mil.
Durante o lançamento do utilitário-esportivo, a projeção de vendas da marca foi até modesta: mil unidades por mês. Ainda assim, o carro não alcançou esse patamar, embora tenha se aproximado em maio.

adaptação
O início ruim nem sempre é sinônimo de carreira condenada. Há exemplos em que a capacidade de adaptação da montadora foi capaz de virar o jogo.
Com visual pouco atraente, a linha Etios (hatch e sedã) não caiu no gosto do público quando chegou ao mercado, em 2012. A boa mecânica e o preço atraente do Toyota não foram suficientes para suprir suas deficiências, que incluíam interior pobre, marcado pelo painel de instrumentos confuso.
A montadora esperava vender cerca de 5,8 mil unidades das duas versões por mês, mas os emplacamentos ficaram em torno de 2,3 mil unidades. “A Toyota já tinha enfrentado algo parecido com o primeiro Corolla brasileiro”, conta Garbossa. “Nos anos 90, o sedã chegou primeiro importado e seu visual não agradou. Na hora da nacionalização, a marca fez adaptações para garantir o sucesso do carro.”
Neste ano, a linha Etios recebeu melhorias, como câmbio automático, velocímetro digital e central multimídia. A recuperação foi quase imediata: no mês passado, foram emplacados 4.946 exemplares da linha, número bem mais próximo da estimativa inicial da Toyota.
Isso em um mercado bem menos aquecido que o de 2012, quando a projeção foi feita.
“A Volkswagen é outra que sabe adaptar seus produtos”, afirma Garbossa, citando o Gol. O hatch veterano, que perdeu a liderança de vendas em 2014 e correu o risco de ficar de fora da lista dos dez mais vendidos, deu a volta por cima. Em abril e maio, ficou na terceira posição entre os mais
emplacados.
Para melhorar sua competitividade, a VW reestilizou o modelo e introduziu um motor mais moderno, além de central multimídia. Nos anos 80, aliás, o Gol da primeira geração ficou longe de ser um sucesso. Suas vendas só deslancharam quando os motores refrigerados a ar foram substituídos pelos a água.

Condenado
O Mégane, feito no Paraná entre 2005 e 2011. A Renault cometeu o erro de lançar o carro apenas com motor 1.6, enquanto os consumidores de sedãs médios privilegiam versões mais potentes e bem equipadas. Quando a opção 2.0 chegou, era tarde: o modelo nunca conseguiu fazer sucesso no país.