Distúrbio Mental, “Videogame pode fazer bem”, diz psiquiatra

Daniel Spritzer foi ouvido pela OMS sobre o vício em jogos

texto: Infoglobo | foto: divulgação

Os videogames viraram vilões depois que foi divulgado que o vício nos jogos será reconhecido como distúrbio mental na próxima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). Mas nem sempre eles são prejudiciais. O psiquiatra Daniel Spritzer, um dos especialistas consultados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o tema, destaca que os videogames são benéficos para a maioria dos jogadores. O que pode gerar um impacto negativo é o uso excessivo.
“Todo mundo sabe, inclusive os pesquisadores da área, que os jogos eletrônicos são uma atividade benéfica, muito saudável para a maioria das pessoas. Das crianças, dos adolescentes e também dos adultos. A ideia, de maneira alguma, é ver os jogos eletrônicos como um problema, mas sim alertar quando ele é jogado de maneira muito intensa por determinadas pessoas. E essa intensidade acaba levando a consequências negativas” – afirma Daniel.

INDÚSTRIA RECLAMA DA CLASSIFICAÇÃO
Se tem uma categoria que não está satisfeita com a inclusão do vício em videogame como um tipo de distúrbio mental é a indústria do setor de games. Eles alegam falta de consenso científico e de transparência no processo.
“Hoje em dia, são raros os grupos de pesquisa que não veem problemas negativos relacionados aos jogos eletrônicos como possível transtorno mental. A meu ver, é um processo transparente. A OMS tem essa postura (de não incluir a participação da indústria) em relação a todo tipo de comportamento de dependência” – pontua.
Daniel reforça a importância da classificação: “o fato de existir uma categoria de diagnóstico na OMS é importante para que as pessoas, que de fato tenham esse problema, possam receber uma ajuda. E para as pessoas que não têm saibam que fazem o uso saudável”.

 

Perfil de quem é viciado em videogames

Segundo o especialista, incluir o vício em videogame na CID não vai provocar uma estigmatização dos jogos, porque o distúrbio apresenta sintomas característicos.
“Um dos exemplos é a pessoa perder o controle sobre o jogo. Ela planeja jogar um pouco e acaba jogando muito mais que o planejado. E passa a deixar de fazer atividades importantes para poder jogar, como dormir, ir para a escola, chegar no horário no trabalho. São consequências sérias” – alerta o psiquiatra.
Não conseguir parar de jogar mesmo tendo sua rotina atropelada pelos games é um dos principais sintomas.
“Outra característica importante é que a pessoa segue jogando de maneira intensa apesar dessas consequências negativas. Por essas características, a gente vê que não é o perfil do gamer normal, aquela pessoa que joga, adora os videogames, se diverte muito e consegue dar conta das outras atividades. Tem no jogo eletrônico uma atividade de lazer. Então, a ideia é estabelecer a fronteira, justamente para dizer com clareza o que é ou não patológico”- explica.