Brasil é a principal ameaça para vizinhos da América do Sul

07 - América do Sul - foto reprodução

Coronavírus no país deixa em alerta autoridades de países do continente

Com mais de 12 mil mortos por Coronavírus e a maior taxa de letalidade por Covid-19 na América do Sul, o Brasil virou motivo de grande preocupação e temor para os países vizinhos — levando aliados do presidente Jair Bolsonaro a colocar a afinidade política de lado e adversários na região a intensificar suas críticas ao líder brasileiro.
Assim que registrou os primeiros casos da doença, no início de março, o governo do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, simpatizante de Bolsonaro, fechou as fronteiras com o Brasil. Militares paraguaios foram enviados para a região fronteiriça para impedir a entrada de automóveis e ônibus de excursões de compradores brasileiros no lado paraguaio. Além de arame farpado, foram construídas valas para impedir o trânsito do Brasil para seu vizinho, em Pedro Juan Caballero, um dos pontos fronteiriços.
Falando à BBC News Brasil de Ciudad del Este, um dos principais elos na fronteira entre os dois países, o vice-ministro de Atenção Integral à Saúde e Bem-Estar Social, Juan Carlos Portillo Romero, disse que a questão sanitária passou a ser prioridade neste momento de pandemia. “Os dois governos, do Paraguai e do Brasil, têm muita afinidade, mas a nossa preocupação agora é com a saúde dos paraguaios. O Brasil é uma preocupação pelo número de casos, mas estamos tomando todas as medidas preventivas”, disse o vice-ministro. Segundo ele, foi intensificado, na semana passada, o controle para a entrada de paraguaios que chegam do Brasil à terra natal.
“Além da quarentena, estamos fazendo testes para o Coronavírus quando eles chegam e quando concluem o isolamento antes de viajarem para suas casas aqui no Paraguai. No nosso país, os casos da doença são importados, vieram de vários lugares, mas principalmente do Brasil”, disse.
Oficialmente, o Paraguai, de aproximadamente 7 milhões de habitantes, registrou, na segunda-feira, um dos mais baixos índices da Covid-19 na região, com 724 casos confirmados e dez mortos. “Com a quarentena, ganhamos tempo para preparar o Sistema de Saúde e fizemos dois hospitais de emergência, com 200 leitos, mas os hospitais estão vazios”, afirmou.
A apreensão com a situação no Brasil, o maior e mais populoso da América Latina, que faz fronteira com dez países, tem movimentado as altas esferas da política regional, além de ser citada, com frequência e em tom crítico, em programas de televisão nas nações vizinhas.
Na sexta-feira (8), o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, disse que não tem previsão para a reabertura das fronteiras e afirmou que o Brasil é “a principal ameaça” na luta contra a pandemia. “Com o que o Brasil está vivendo, não passa por nossa cabeça a reabertura das fronteiras, já que talvez seja um dos lugares (o Brasil) onde há maior circulação da Covid-19 e isso é uma grande ameaça para nosso país”, disse Abdo Benítez.
Ainda na sexta-feira (8), a Imprensa local informou que paraguaios faziam fila, inclusive no frio da noite, na Ponte da Amizade, entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, esperando para entrar no país, onde são levados para albergues para a quarentena obrigatória. Muitos paraguaios trabalham no Brasil, principalmente em São Paulo que registra altos índices da doença, o que contribui para a preocupação entre autoridades locais.
Fernando Masi, do Centro de Análises e Difusão da Economia Paraguaia (Cadep) Miembro-Investigador, entende que o Paraguai não tinha outra alternativa. Que a saída para evitar a propagação da doença no país era fechar as fronteiras, disse pelo telefone, falando de Assunção. “Nosso Sistema de Saúde é muito deficiente. Uma epidemia do Coronavírus aqui seria catastrófica. Quando o governo central enviou militares para a fronteira, políticos das cidades vizinhas do Brasil reclamaram porque dependem desse comércio de vendas para os brasileiros que chegam de ônibus de várias partes do país, mas a questão sanitária falou mais alto. Agora, vemos que foi positivo”, disse Masi.
Historicamente apontado como locomotiva econômica, e às vezes até política, da região, o Brasil hoje, pela situação da pandemia e estilo político do presidente Bolsonaro, tem gerado distanciamento ou cautela por parte de alguns vizinhos. “Politicamente, percebemos uma hegemonia dura por parte do governo Bolsonaro. Muito diferente da linha que era exercida, por exemplo, na época do ex-presidente Lula, apesar de, no atual governo brasileiro, muitas das obras que estavam paradas terem sido retomadas”, disse Masi.

Foto Reprodução